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Polos tecnológicos: o que são e quais são os maiores no Brasil e no mundo

Polos tecnológicos: o que são e quais são os maiores no Brasil e no mundo

17 de março de 2022
9 minutos de leitura
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Artigo atualizado em 17 de março de 2022

Polos tecnológicos: as regiões de onde saem as maiores empresas tech do mundo

Inovar é uma atividade arriscada. Em seu livro Why Startups Fail, Tom Eisenmann, professor em Harvard, aponta que nove entre dez startups vão à falência. Por esse motivo, empreendedores, investidores e profissionais de tecnologia acabam se aproximando espontaneamente uns dos outros em determinadas regiões específicas, construindo um ambiente favorável ao desenvolvimento de empresas emergentes.

Regiões assim estão espalhadas pelo mundo todo e são conhecidas como polos tecnológicos. Saiba o que são e onde estão localizados os maiores polos do Brasil e do mundo!

O que são polos tecnológicos

Polos tecnológicos são regiões com grande concentração de empresas, startups, laboratórios, universidades de ponto e centro de inovação com foco no desenvolvimento de novas tecnologias. 

Nesses espaços, é construído um ambiente aberto e interconectado que tem como objetivo favorecer o compartilhamento de informações, dados e experiências que contribuem com os avanços de diversas áreas. São ambientes facilmente reconhecidos por coworkings, aceleradoras, hubs, scale-ups e eventos que conectam cada agente do ecossistema.

Sobretudo, são a principal fonte de negócios inovadores. O mais célebre deles é o Vale do Silício, na Califórnia, que foi berço de gigantes como Apple, Google e Meta (antigo Facebook). Contudo, com o crescimento e desenvolvimento dos ecossistemas de inovação, os pólos tecnológicos têm surgido para mostrar qual o futuro dos negócios. 

Então, para acompanhar a evolução de diferentes mercados e da transformação digital, é imprescindível ficar de olhos nos grandes centros de inovação.

Como surgem os polos tecnológicos

O processo de inovação global, diretamente relacionado às empresas de tecnologia, sempre foi uma característica de alto risco quando analisamos o histórico do número de startups que nascem, conseguem se estruturar no mercado ou acabam morrendo. Por conta disso, desenvolveu-se um processo natural com o objetivo de promover um ambiente mais propício para o desenvolvimento de novas tecnologias e, por consequência, de startups.

Assim, diversos empreendedores, investidores e uma grande força de trabalho passaram a concentrar seus esforços em regiões específicas, para garantir uma maior proximidade para

gerar negócios, contratação de profissionais e acesso a capital para investimento. É o caso de regiões como o Vale do Silício, Tel Aviv, em Israel e a própria São Paulo. Essas regiões ficariam conhecidas posteriormente como polos tecnológicos.

Principais polos tecnológicos no mundo

Publicada em 2019 pela CB Insights, a pesquisa Global Tech Hubs Report elegeu os 25 maiores pólos tecnológicos do mundo nas categorias “pesos pesados”, “alto crescimento” e “recém-chegados”. Confira as principais regiões apontadas no estudo.

Vale do Silício

O mais célebre deles é o Vale do Silício, na Califórnia. Na metade do século XIX, o estado começou a se consolidar como um dos mais prósperos dos Estados Unidos graças às suas reservas de ouro. Devido ao posicionamento estratégico próximo ao mar, o território inclusive abrigou bases de pesquisa militar com ênfase em armamentos e comunicação.

Durante a Guerra Fria, as organizações da Califórnia foram responsáveis pela criação de diversas tecnologias vanguardistas. A Arpanet, por exemplo, precursora da internet moderna, surgiu como um experimento de comunicação militar com a contribuição de universidades e institutos da Califórnia, como a UCLA e o Stanford Research Institute.

Assim é que a região do Vale do Silício passou a atrair quem tinha interesse no estudo e pesquisa de novas tecnologias, principalmente aquelas relacionadas aos computadores.
Em 2018, mais da metade do volume dos investimentos de risco aplicado nos Estados Unidos se concentrou em empresas do estado norte americano, um valor de aproximadamente US$ 11,5 bilhões. Enquanto isso, Nova York e Massachusetts, outros dois polos tecnológicos de projeção global, atraíram cerca de US$ 2,6 bilhões cada no mesmo período.

Polos de inovação norte americanos.

(fonte: PXC/CBInsights)

Pequim

A cidade já alcançou mais de US$ 72 bi em investimento, mais de 5 mil negócios e 29 unicórnios em 2019. Além disso, é na China que encontramos uma grande quantidade de empresas tecnológicas dedicadas à pesquisa e ao desenvolvimento de inovação. O território chinês é ainda sede de empresas como ASUS, Acer, Via (fabricante de processadores), HTC e a Foxconn.

Tel Aviv

Tel Aviv é o mais internacional do ranking apontado pelo CBInsights. Mais de ⅔ do investimento em startups envolve fundos estrangeiros. A cidade se tornou um dos grandes centros mundiais de concentração de startups e há quem a aponte como o Vale do Silício do Oriente Médio. 

Apesar dos desafios colocados pelo contexto de conflitos militares, Israel procurou investir em capital tecnológico como forma de desenvolvimento do país e, com o alto investimento em pesquisa, atraiu empresas como Intel, Google, General Eletric e Cisco. Tanto que, hoje, é o segundo país com o maior número de startups listadas na bolsa de valores americana.

Concentração do venture capital no Brasil

Assim como ocorre com a Califórnia em relação aos Estados Unidos, o ecossistema de inovação e empreendedorismo brasileiro está concentrado majoritariamente no Estado de São Paulo. Em 2021, 65% do número de investimentos únicos aplicado nessa indústria foram para startups com sede na região paulista.

Nos últimos cinco anos, São Paulo atraiu mais de 80% do volume de capital de risco destinado às empresas tech brasileiras. Dados preliminares do Distrito apontam que, em 2022, essa concentração está em cerca de 85%.

Volume do capital investido em São Paulo.

(Fonte: Distrito)

Apesar de nunca ter sido a capital do Brasil, o Estado de São Paulo se tornou o principal centro de desenvolvimento econômico do país na virada do século XIX para o século XX, primeiro com as grandes plantações de café e, posteriormente, durante o processo de industrialização nacional.

Com a abertura do Brasil para o capital estrangeiro após o governo de Juscelino Kubitschek, São Paulo também começou a abrigar multinacionais que queriam se instalar por aqui, construindo no estado uma rede de agentes de diferentes setores da indústria e mão de obra altamente qualificada.
Sobre este último ponto, as universidades tiveram para a formação do mercado de inovação de São Paulo um papel tão fundamental quanto para o Vale do Silício. De acordo com Alessandro Machado, sócio diretor da Cedro Capital, que aposta em startups longe dos centros econômicos do Brasil:

Um fator importante de São Paulo é que o estado atrai talentos. Em suas universidades, encontramos pessoas brilhantes das mais diversas regiões do país, e delas virão várias das startups que receberão grandes investimentos.

Para se ter uma ideia da importância do polo de inovação paulista não só para o Brasil, mas para toda a América Latina, em 2021, as startups do Estado de São Paulo receberam US$ 7,7 bilhões em investimentos. Esse valor supera o total levantado no último ano pelas empresas de tecnologia de toda a Colômbia, o segundo país do continente a receber o maior volume de venture capital no período, US$ 6,6 bilhões.

Contudo, e ainda segundo Machado, foi possível observar um crescimento dos aportes em outras áreas do nosso país de uns anos para cá. De fato, o Brasil conta com parques tecnológicos com bom potencial para chamar a atenção das grandes casas de investimento, como o San Pedro Valley, em Belo Horizonte.

San Pedro Valley

Antes mesmo da fundação do parque, o cenário de inovação mineiro ganhou visibilidade em 2005, quando o Google comprou a Akwan e fez da startup o seu Centro de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) na América Latina. A Akwan havia sido criada cinco anos antes por um grupo de professores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) como um serviço de buscas para usuários finais e empresas no Brasil.

Em 2021, Minas Gerais se destacou como o terceiro estado brasileiro a receber o maior volume e número de investimentos de venture capital. Foi em Belo Horizonte que também surgiu a Hotmart, empresa de educação online que adquiriu status de unicórnio ano passado, após um aporte de US$ 127 milhões liderado pela gestora americana TCV.

O futuro dos polos de inovação

Por mais que os grandes polos de inovação americanos se mantenham predominantes no ecossistema global da tecnologia, algumas outras regiões estão crescendo a um ritmo mais acelerado, principalmente na Ásia. É o caso de Pequim, na China, de Nova Delhi, na Índia, e Tel Aviv, em Israel.

Com um custo de vida menor em relação aos grandes centros de inovação dos Estados Unidos, metrópoles como essas hoje enfrentam um número menor de dificuldades para atrair e manter empreendedores e profissionais especializados. A enorme concentração populacional dos países asiáticos ainda oferece um mercado quase que ilimitado de clientes em potencial.

Conforme pesquisa da National Venture Capital Association, o capital de risco aplicado em startups americanas diminuiu 39% entre 2004 e 2020. Já o CB Insights informa que, no quarto trimestre de 2019, as startups de toda a China receberam US$ 7,8 bilhões em investimentos. No último trimestre de 2021, esse valor subiu para US$ 24,9 bilhões. No mesmo período, o volume de venture capital injetado na Índia mais do que dobrou, chegando a US$ 10,3 bilhões no 4T21.

Se é verdade que o ecossistema tech de China e Índia ainda estão muito longe de alcançar o dos Estados Unidos em termos de valores, também é fato que o Vale do Silício vai enfrentar concorrência cada vez mais acirrada e tudo em prol do desenvolvimento tecnológico mundial.