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Saúde mental no trabalho é tendência para 2022

Saúde mental no trabalho é tendência para 2022

26 de janeiro de 2022
7 minutos de leitura
time

Artigo atualizado em 26 de janeiro de 2022

Desde o dia primeiro do ano de 2022, passou a valer a resolução da OMS que considera  burnout uma doença ocupacional. Na prática, as empresas passam a ter mais responsabilidade em relação à saúde mental mental no trabalho de seus funcionários.

Mas não é de hoje que o tema tem sido cada vez mais notado no ambiente empresarial, já que o Brasil é considerado o país mais ansioso do mundo e o mais depressivo da América Latina, segundo a OMS. Com a pandemia, as empresas viram esses problemas se agravarem, devido às mudanças que impactam diretamente a vida das pessoas em um período incerto, como o isolamento social, luto e trabalho remoto.  

Resultado disso é o aumento da busca por terapias e acompanhamento psicológico. Segundo o Google Trends, apenas na primeira quinzena de quarentena no Brasil, houve aumento de 88% nas buscas por terapias on-line, colocando a saúde mental em foco por no mínimo os próximos anos.

Empresas e profissionais buscam novas soluções para lidar com a demanda crescente por ajuda e tecnologia e as healthtechs, empresas de tecnologia e inovação na saúde, têm sido grandes aliadas. Veja como alguns desses players do mercado estão lidando com o assunto. 

Empresas investindo no bem-estar e saúde mental

Devido ao alto nível de estresse e ansiedade que começou a afetar o desempenho dos times no período da pandemia, houve um maior investimento por parte das empresas em benefícios corporativos ligados ao bem-estar e saúde mental. Considerando o intervalo entre junho de 2020 até agosto de 2021, foram investidos U$1,69 bilhão de dólares nas startups do capital humano, o que se aproxima da metade de todo o investimento na série histórica, sobretudo nas soluções do segmento Qualidade de Vida: foram 24 deals no período, totalizando $1,1 bilhão de dólares. 

Vamos aos exemplos práticos: a Ambev criou em junho de 2020 a Diretoria de Saúde Mental com objetivo de mitigar os efeitos relacionados ao trabalho remoto e às incertezas do período pandêmico e pós-pandêmico, além do luto constante. Hoje, a Diretoria atua com as frentes de suporte, no qual os trabalhadores podem, em casos graves ou urgentes, contar com o apoio de psiquiatras 24 horas; treinamentos e bate-papos sobre a saúde mental; e também um sistema de prevenção por análise de dados obtidos durante escuta ativa para a captação de informações que auxiliam na tomada de decisões. 

O Grupo Boticário já tinha um programa de saúde mental há 13 anos e na pandemia percebeu o aumento exorbitante da busca por este serviço em 300 por cento. Além da ansiedade gerada pelo período em questão, a disponibilização do serviço de maneira online facilitou a procura dos colaboradores pela terapia virtual. Para além da transformação do atendimento psicológico, outra mudança surgiu, segundo Renata Simioni, Gerente de Saúde Corporativa da empresa: “Precisávamos olhar para além do contexto individual e considerar questões coletivas do mundo corporativo, como carga de trabalho, pressão e até mesmo a diversidade e inclusão neste ambiente”, conta Renata. Com isso, a empresa passou a olhar para estes temas e fazer programas que considerem o bem-estar do funcionário em diferentes esferas. 

Demandas de saúde mental e bem-estar atendidas pelas startups

Esse movimento foi percebido por diversas startups que oferecem soluções de saúde, esporte, lazer, atendimento psicológico, entre outras facilidades essenciais para viver bem.  

O Psicologia Viva, uma das maiores plataformas de atendimento psicológico online do país, já tinha observado o interesse das empresas pelo tema em seu negócio. “As companhias começaram a perceber que, quando ofereciam terapia, não estavam apenas fornecendo mais um benefício, elas estavam também observando redução do absenteísmo, redução do turnover (rotatividade de pessoal), aumento da retenção de talentos etc. Quando você oferece terapia, você ajuda o colaborador a ser mais concentrado, a ter uma relação melhor com a família, com ele mesmo e por aí vai”, conta Fabiano Carrijo Justino – CEO & Co-founder da empresa. 

A pandemia estabeleceu de vez essa tendência: a startup passou de 5 mil consultas por mês para números perto de 60 mil por mês. “Ganhamos, em 6 meses, uma enorme redução do estigma social por conta da pandemia. As pessoas entenderam o valor deste tratamento”. 

Outra startup que observou maior abertura da busca pelo cuidado com saúde mental e bem-estar foi a Guia da Alma, plataforma de terapias holísticas que atende tanto pessoas quanto empresas que precisam desse serviço

“Durante a pandemia, percebemos que as pessoas estão bem mais abertas, também em função de uma maior necessidade. Eu acredito que a percepção em relação à saúde tem mudado, no geral. A saúde não é apenas física, mas também mental e emocional – e isso interfere em praticamente todas as áreas da nossa vida”, conta Liana Chiaradia, Co-founder e CMO do Guia da Alma, que viu a busca por terapia aumentar 10 vezes mais após a pandemia. 

Adaptação dos profissionais e ajuda da tecnologia 

Esse movimento exigiu adaptação dos profissionais da saúde mental. O Conselho Federal de Psicologia criou uma cartilha de boas práticas voltada aos trabalhadores do ramo para que pudessem se adaptar ao novo contexto. A prática e o ensino na AP, por meio das Tecnologias da Informação e da Comunicação (TIC), também foram abordadas no documento, que destaca quais seriam os cuidados a serem tomados na condução de terapias remotas. Algumas das perguntas que o documento busca responder são: “O profissional tem conhecimento suficiente das tecnologias a serem usadas no processo avaliativo, de forma a garantir a segurança e sigilo do processo?” ; “O avaliando tem conhecimento e domínio suficientes sobre a tecnologia utilizada no processo avaliativo na modalidade remota?”; “Em que medida a mediação da tecnologia pode influenciar na qualidade da resposta do avaliando?”.

E assim esses profissionais tiveram que lidar com novos desafios e com um cenário que trouxe novas questões e novas demandas de habilidades. A própria cartilha aborda a necessidade de garantir conexões seguras em ambas as partes envolvidas no atendimento, e também a necessidade do profissional conhecer as diferentes funções disponibilizadas pela plataforma em uso nos atendimentos. 

Neste desafio, as startups são de grande ajuda, ao facilitar e disponibilizar o uso de ferramentas como a telemedicina e IA. “Não vamos tentar substituir o trabalho do psicólogo, mas sim trabalhar para desenvolver cada vez mais ferramentas para auxiliar o trabalho desse profissional. Dando um exemplo na prática: há um sistema que ajuda a reconhecer emoções por meio do vídeo. Estamos trazendo essas tecnologias para identificar mais sentimentos e emoções, além da ideia da terapia guiada – o profissional indica a terapia guiada com um tema específico, e não necessariamente está presente nesse processo,”  conta o CEO  do psicologia Viva. 

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