O caso WeWork: Menos US$ 39 bi em um ano
Artigo atualizado em 18 de maio de 2022
O lançamento de “We Crashed”, nova série da Apple TV+ que conta com a atuação de Anne Hathaway e Jared Leto, trouxe de volta discussões sobre a trajetória de altos e baixos da startup WeWork. Isso porque a série se baseia na controversa história da companhia e de seu excêntrico fundador Adam Neumann.
Em menos de uma década, Adam, com a ajuda de sua esposa, transformou a WeWork de um único posto em Manhattan para uma marca mundial com espaços de coworking em 111 cidades pelo mundo. “A WeWork está trabalhando para criar um mundo onde as pessoas ganhem a vida e não apenas vivam”, disse Adam à TIME em 2017. O casal afirmou que estava construindo “a primeira rede social física do mundo” e planejava expandir a marca para incluir academias, apartamentos e escolas. “Estamos aqui para mudar o mundo”, disse Neumann em 2017.
E seu plano estava indo de vento em polpa, principalmente quando em 2019 a empresa recebeu um investimento de US$ 6 bilhões do fundo de investimento japonês Softbank — um dos maiores e mais respeitados do mundo —, que a avaliou em U$ 47 bilhões, tornando-se a segunda startup mais valiosa dos EUA, atrás apenas da Uber.
Alguns meses depois, a WeWork anunciou que abriria capital na bolsa de valores. Acontece que, nesse processo, as empresas precisam tornar públicos diversos documentos — incluindo relatórios financeiros. Foi aí que começou sua derrocada. Mas para entender como isso aconteceu, vamos ao início de tudo.
O que é a WeWork
A WeWork pode ser considerada a casa de muitas empresas de tecnologia,
graças à proposta de alugar imóveis em várias cidades ao redor do mundo e convertê-los em espaços de coworking modernos e convidativos, principalmente a empreendedores.
Infinitas opções de assentos: cabines, sofás extragrandes, mesas estilo café, leite vegano, cerveja e kombucha disponibilizados gratuitamente são alguns dos atributos que tornaram o lugar famoso.
Hoje, a companhia está presente em mais de 100 cidades de cerca de 30 países, incluindo o Brasil. Por aqui, a maior parte dos espaços está em São Paulo (cerca de 20 escritórios), mas também há unidades no Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre e Brasília.
A partir de 2017, duas outras iniciativas surgiram para complementar as operações da WeWork: a WeGrow, uma espécie de “escola do futuro” voltada a crianças; e a WeLive, que explora o conceito de coliving (espaços de moradia que têm cozinha, sala de convivência e outras áreas compartilhadas).
Qual a história da WeWork
A WeWork começou como uma empresa imobiliária dos EUA em 2008, quando Neumann e seu parceiro de negócios, Miguel McKelvey, alugaram um andar vazio de um prédio no Brooklyn e o dividiram em cubículos para aluguel.
Os fundadores logo replicaram seu modelo em Manhattan e São Francisco à medida que a empresa ganhava popularidade. Impulsionada por seus sucessos iniciais, a empresa começou a “blitzscaling”, adquirindo escritórios em várias cidades e crescendo rapidamente, graças a uma injeção maciça de US$ 8 bilhões do SoftBank, que era seu maior investidor.
A WeWork foi a startup de tecnologia mais valorizada nos EUA, com uma avaliação estratosférica de US$ 47 bilhões. E então, em 2019, tudo desmoronou.
O IPO que deu errado
A WeWork estava ansiosa para abrir o capital e arrecadar bilhões de dólares. Uma vez que os documentos do IPO se tornaram públicos, revelaram um padrão assustador de autonegociação financeira.
Os documentos revelaram que a empresa estava perdendo muito dinheiro. No ano anterior, a perda tinha sido de US$ 1,9 bilhão — prejuízo de 100 milhões de dólares.
E muitas dessas perdas vieram das extravagâncias de seu CEO Adam Neuman, dentre elas
comprar propriedades e as alugar para a WeWork para ganhar com isso — o que lhe rendeu US$ 12 milhões entre 2016 e 2017; esquematizar garantias de crédito por meio de suas ações, em empréstimos que lhe renderam mais de US$ 700 milhões, registar a marca “We” em seu nome, o que fez com que sua própria empresa tivesse que lhe pagar quase US$ 6 milhões para poder usar a palavra — valor que acabou sendo devolvido posteriormente. E por fim, e não menos importante, diversas polêmicas envolvendo muita bebedeira, festas e casos de assédio com pessoas que trabalhavam na empresa.
Diante desse cenário caótico, o IPO foi adiado e Neumann foi retirado do cargo de CEO.
O modelo de negócios insustentável
Além das excentricidades de Adam, outro fator foi fundamental para a queda de faturamento: o modelo de negócios da startup. O aluguel de escritórios traz uma incompatibilidade, porque há despesas fixas de longo prazo que não são compatíveis com seus clientes de curto prazo, que podem ir e vir quando quiserem.
Segundo documentos publicados pela primeira vez pelo Buzzfeed, todo esse crescimento desde 2015 foi baseado em um modelo de negócios extremamente caro e com pouco espaço para lucro. Documentos de investimento mostram que, em 2017, a WeWork perdeu US$ 883 milhões, apesar de ter uma receita de US$ 886 milhões. O Financial Times revelou que em 2018 a empresa perdeu US$ 1,9 bilhão com US$ 1,8 bilhão em receita. Por trás do glamour e do brilho de uma cultura que vende uma experiência de trabalho de última geração para os millennials, havia um navio afundando lutando para se manter à tona. A bolha uma hora iria estourar.
Do salvamento pelo Softbank até hoje
Após o cancelamento do IPO, o Softbank anunciou um pacote de resgate de quase US$ 10 bilhões para salvar a companhia, adquirindo 80% de participação.
Mais de dois anos depois da quase falência, o fundo de private equity, que hoje detém 65% das ações, conseguiu reestruturar a WeWork com uma gestão firme. Em 2021, o grupo enfim abriu capital para chegar aos atuais US$ 9 bilhões de valor de mercado. E a América Latina se tornou uma das vitrines da empresa, com ritmo de crescimento acima da média global.
Para atingir melhores resultados, a empresa ampliou o modelo de negócio desenvolvido para o mundo do trabalho híbrido, em que a WeWork atua com uma estrutura mais flexível, a serviço da operação dos seus clientes.
Segundo a revista Isto É, a WeWork atingiu 65% de ocupação globalmente em 2021, o que melhora as perspectivas para a companhia virar o jogo em 2022, quando seria possível, pela primeira vez, operar no azul. A lógica é que a empresa conseguiria extrair mais receita por metro quadrado do que outros escritórios de coworking.
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