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Embedded finance: o fenômeno que transforma empresas em “bancos”

Embedded finance: o fenômeno que transforma empresas em “bancos”

30 de agosto de 2021
8 minutos de leitura
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Artigo atualizado em 30 de agosto de 2021

Nessa última década, observamos o avanço das soluções oferecidas por fintechs e por negócios de outros segmentos – varejo, indústria, entre outros.

O que está por trás de toda essa evolução? Além, é claro, de um cenário regulatório muito mais favorável, está a democratização da tecnologia para o desenvolvimento de soluções financeiras

Por meio de APIs e em modelo plug and play, provedores de tecnologia permitem a entrada de diferentes players nesse mercado, participando do fenômeno conhecido como Embedded Finance

Quer entender melhor o que significa? Conversamos com Fred Amaral, CPTO da Dock – uma nova empresa que é resultado da união recente entre a Conductor e a antiga Dock, que apresenta ao mercado ofertas de Digital Banking, Cards, Acquirer e Risk & Compliance. Confira! 

imagem do cpto da dock Fred Amaral
Fred Amaral é CPTO da Dock

O que é o fenômeno de Embedded Finance? 

Fred: Embedded finance é um fenômeno recente, com cerca de 3 anos, que diz respeito a embarcar finanças em experiências que antes não tinham relação direta com o mundo financeiro.

Um exemplo? Digamos que você compre uma geladeira em uma loja especializada em linha branca. Até pouco tempo, a única questão financeira envolvida era o pagamento em si.

Hoje, existem inúmeros casos em que você pode ir nessa mesma loja e ter acesso a serviços como conta digital, crédito, Buy Now Pay Later financiado por um terceiro, etc. 

Esse, então, é o fenômeno de Embedded Finance, que costuma ter como carro-chefe uma conta digital, associada a um processo de bancarização, mas não se resume a isso: existem soluções de crédito, cartões, seguros, entre outros. E isso abre um espaço gigantesco para o mercado de meios de pagamento!

Que tendências e contextos sociais e econômicos têm impulsionado o avanço do Embedded Finance? 

Fred: Vejo dois grandes movimentos, um social e outro regulatório. 

A primeira força motriz é a maior penetração de celulares de melhor qualidade, que ficaram mais acessíveis nos últimos anos. Com certeza, a popularização desses aparelhos fez com que uma grande parcela da população que estava acostumada a usar o celular simplesmente como meio de comunicação, começasse a usar também para outros fins, inclusive finanças.

A segunda força motriz é o fato de que, a partir de 2013 no Brasil (com a Lei 12.865/13) e de 2015 em outros países, o arcabouço regulatório possibilitou a criação de um conjunto de fintechs que conseguem prover infraestrutura de pagamentos e Banking as a Service para seus clientes. 

Antes de 2013, você não conseguia criar uma fintech sem um investimento de pelo menos R$ 200 milhões para ter uma licença bancária. Depois, começou a ser viável criar uma fintech com zero investimento e, conforme o negócio fosse tomando corpo, avançar também a necessidade de regulação e fiscalização. 

Lá fora aconteceu a mesma coisa. A partir de 2015, começamos a ver a ascensão de fintechs focadas em APIs para que fosse possível movimentar dinheiro e criar novos métodos de pagamento. 

E, em 2018, quando o Banco Central tirou a necessidade de autorização prévia para uma Instituição de Pagamento começar a operar, tivemos um boom. 

Inclusive, nossa atuação pioneira e nosso crescimento neste negócio de Banking as a Service aconteceu a partir deste momento. Como um player já consolidado em processamento de meios de pagamento, vimos na Dock que muitos dos nossos clientes tinham potencial para colocar o pé no acelerador e criar novas linhas de receita embarcando finanças nas suas experiências – e que essa era uma ótima oportunidade para desenvolver um mercado que não existia no Brasil. 

E quais perfis e segmentos de empresas têm se destacado ao investir em Embedded Finance?

Fred: O varejo tem sido o principal, onde também surgiram as primeiras experiências. Porém, hoje na Dock temos clientes de diversas outras verticais do mercado: empresas de venda direta, indústrias, adquirentes e subadquirentes, cooperativas, apenas citando alguns.

Um exemplo para deixar mais claro como é o Embedded Finance na prática: temos um cliente do setor de transportes, segmento que tem uma dinâmica bem particular. Em geral, a única relação financeira entre transportador e motorista agregado ou independente era o pagamento do frete – muitas vezes em dinheiro.

Hoje, com essa solução, o transportador oferece uma conta digital ao motorista, em que ele recebe os recursos do frete, paga contas, transfere dinheiro para a família, compra crédito de celular pelo app, faz pagamentos por Pix, agenda pagamentos para períodos em que estiver viajando por regiões com menos acesso a rede de celular, etc. Ou seja, tem uma série de benefícios pensados para sua realidade diária e que realmente fazem diferença para que participe do sistema financeiro. 

Quais são as vantagens para os negócios em oferecer serviços financeiros para seus públicos?

Fred: Existem duas vantagens principais: geração de uma nova linha de receita e relacionamento mais sólido com seu público.

Quanto à primeira, esse ganho financeiro pode acontecer tanto por novas receitas geradas, quanto por redução de custos – como acontece com adquirentes e subadquirentes que embarcam finanças e participam de forma mais ampla da jornada de pagamento. E isso é um resultado muito fácil de mensurar. 

Temos também um lado mais intangível, mas que também pode ser metrificado, que é o  stickiness effect. Não temos uma tradução muito precisa para o português, mas isso nada mais é do que deixar o cliente “ligado” na sua marca, não somente pelas questões comerciais, mas por elementos mais subjetivos que surgem ao ampliar o relacionamento com ele. 

Para as empresas que desejam começar a embarcar finanças em seus negócios, quais as suas recomendações?

Fred: A primeira delas é ter autoconhecimento para focar naquilo que importa. Isso significa olhar no espelho e reconhecer suas limitações, entender até onde consegue ir e o que consegue entregar de mais imediato e tangível para seu cliente. 

E o que é isso? Experiência! 

Para tanto, é interessante ter alguém fazendo o backoffice (do ponto de vista financeiro) para você poder focar naquilo que será o ponto de contato direto com o usuário, de acordo com seu perfil. O que a Dock faz é justamente isso: somos especialistas em desburocratizar uma operação de Embedded Finance para os nossos clientes por meio das nossas APIs. 

Em segundo, recomendo encontrar um parceiro de tecnologia em meios de pagamento que dê liberdade para, eventualmente, sua empresa evoluir para tomar conta deste backoffice e questões burocráticas (como regulação). Assim, é mantida a possibilidade de um dia, por exemplo, sua empresa virar uma financeira, uma instituição de pagamento, uma sociedade de crédito direto. 

Por fim, minha terceira recomendação, é ter cuidado para não assumir dentro de casa um trabalho que não permite ganho de escala. É preciso ter consciência de que embarcar finanças é, na verdade, criar um novo negócio. Você tem duas opções, construí-lo do zero, tomando conta de todas as áreas, ou destinar esforços para onde vai conseguir ganhar tração. 

Neste ponto, ainda existe um paradigma a ser quebrado, que é o do controle do fluxo financeiro. Muitos dos nossos clientes chegam até nós com o desejo de assumir todo o processo para não perder o cliente por não estar fazendo a guarda monetária para ele. 

Mas, assim como no mundo da tecnologia já superamos a necessidade de manter data centers próprios para migrar para cloud, entendendo que os dados permanecem em segurança da mesma forma, em meios de pagamento estamos quebrando esse paradigma com Banking as a Service. Você não ter a guarda do dinheiro não significa que ele não está sendo cuidado dentro de uma instituição regulada e segura. 

O Brasil tem o melhor cenário para evolução de Embedded Finance! Como aproveitar essa oportunidade?

Da nossa conversa com Fred Amaral, saímos também com um grande otimismo sobre o futuro próximo do mercado de meios de pagamento. 

Segundo ele, pela agenda de inovação do Banco Central e chegada do Open Banking em uma indústria que já vinha sendo descentralizada, somos o país com melhores oportunidades para evolução do fenômeno de Embedded Finance. 

Agora, nossa pergunta é: como nós, como ecossistema de inovação, vamos aproveitar esse momento para desenvolver mais e melhores soluções que incluam financeiramente as pessoas e estimulem o crescimento econômico?