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CEO do FitBank revela como foi a captação de R$ 30 milhões

CEO do FitBank revela como foi a captação de R$ 30 milhões

4 de maio de 2021
11 minutos de leitura
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Artigo atualizado em 4 de maio de 2021

As fintechs que operam como BaaS (Banking as a Service) têm demonstrado cada vez mais potencial. Somente em 2020 estes negócios inovadores levantaram US$ 53 milhões em deals. O FitBank é uma dessas startups que, em julho do ano passado, recebeu aporte do banco J. P. Morgan. Recentemente a fintech anunciou nova captação, dessa vez liderada pelo FitBank Holdings, com participação da brasileira CSU, movimentando R$ 30 milhões.

Na rodada, a CSU investiu R$ 10 milhões, enquanto antigos acionistas somaram R$ 20 milhões. Com o aporte, a fintech está sendo avaliada em R$ 280 milhões. Além disso, com o montante, o FitBank pretende aumentar seu quadro de funcionários, que tem 80% das pessoas na área de tecnologia.

A startup também está de olho na expansão internacional e pretende abrir um escritório nos Estados Unidos já nos próximos meses. Em entrevista exclusiva para o Distrito Dataminer, Otavio Farah, CEO do FitBank, revela como foi todo o processo das últimas captações e quais são os planos futuros

Ceo do fitbank Otavio Farah

Entrevista completa com Otavio Farah, CEO do FitBank

 

Quais foram os principais desafios no início da operação e como surgiram os primeiros clientes?

Nós já tínhamos o conhecimento da tecnologia, mas nosso principal desafio foi colocar a empresa para girar e saber quem seria nosso primeiro cliente. Eu já estava atuando no mercado há 15 anos, conhecia muitas pessoas, mas por mais que tivesse um bom relacionamento no segmento B2B, eu estava montando uma plataforma de pagamento do zero. 

Além da preocupação no atendimento aos nossos clientes e prospects, na outra ponta estava a preocupação no relacionamento que teríamos que firmar com os bancos, pois não tínhamos escala e nem tamanho para conseguir conversar com bancos em alto nível. 

Então, em um primeiro momento, sabendo que não conseguiríamos ter um canal de tratamento especial nos bancos, voltamos nossos esforços para conseguir um portfólio de produtos baseado nos produtos de prateleira destas instituições. E partimos daí para construir nossa proposta de valor. 

Com a estratégia de produtos definida, precisávamos de clientes para iniciar a operação. Então, na verdade, nosso primeiro cliente foi uma operação que nós mesmos criamos, a Agilly, que era uma ferramenta de gestão de cobrança para profissionais liberais. Com ela, nós conseguimos criar todas as conexões, testar o sistema, nos apresentar para o mercado e começar a girar o FitBank. Em quatro meses de operação já tínhamos mais de três mil clientes. E, como já era programado, assim que as operações do FitBank atingiram um porte que considerávamos relevante, tanto no quesito de volume de operação quanto da quantidade de clientes, decidimos por descontinuar a Agilly para focar no core do FitBank.

Como oferecemos um serviço para facilitar a vida das pessoas que interagem com o mercado financeiro, nós conseguimos trazer nossos primeiros clientes ao ir atrás de empresas que estavam à margem disso. Nosso papel era prestar um serviço que elas não conseguiam contratar dos bancos.

Criamos um facilitador tecnológico para que as empresas que não conseguiam integrar com os bancos pudessem acessá-los eletronicamente ou, no caso, o FitBank e o setor financeiro como um todo. Começamos a trazer ERPs de menores portes, fizemos os acordos, e a partir daí passamos a ter uma plataforma que gira, opera e continua em crescimento.

Como foi o processo das captações do FitBank? Tanto anteriormente com o JPMorgan e agora com a CSU? 

Quando começamos, uma das coisas que eu queria era poder ter o máximo de tranquilidade para poder errar. Começamos a operação com financiamento próprio e tínhamos como expectativa que colocaríamos a operação do Agilly no ar para só depois buscar investimentos. E nesse meio tempo, para nossa surpresa, fomos encontrados pelo pessoal do Startse, os fundadores da XP, Eduardo Glitz, Marcelo Maisonnave e Pedro Englert. Essa foi a primeira captação do FitBank, em agosto de 2016. E, ao final do ano seguinte, em 2017, como eles tinham algumas opções, nós conseguimos nos financiar mais um pouco e não precisamos “ir a mercado”.

Quando estávamos começando a nos preparar para “ir a mercado”, mais uma vez eu fui procurado por um amigo de faculdade, que conhecia, há mais de 25 anos, o João Chacha. Na época ele trabalhava no Goldman Sachs e estava planejando um movimento de carreira na vida dele, que resultou em um investimento no FitBank. Atualmente, além de sócio investidor, ele é o executivo que toca o FitBank comigo e com o meu outro sócio, Rener Menezes. 

Foi mais um fôlego de pessoas físicas para trabalhar com o FitBank. 

O ato seguinte foi a chegada do ex-chefe do João, ex-presidente da Goldman Sachs no Brasil e partner da Goldman Sachs no mundo, o Alex Vollbrechthausen. Após nos conhecermos melhor, ele se interessou muito pelo FitBank, principalmente pelo potencial de internacionalização da empresa e a contribuição que poderia nos dar nesse aspecto. 

Trouxemos mais uma vez uma pessoa física. 

Porque insisto na questão da pessoa física? No momento, quando temos uma agenda profissional ou institucional de investimento, às vezes, temos menos margem para errar.

Quando percebemos que já tínhamos uma cultura organizacional definida, processos estabelecidos, dinâmica, clientes, faturamento e expectativas de futuro que já não eram mais sonhos e sim projetos, começamos a achar que estávamos prontos para receber um investimento institucional.

A partir daí iniciamos nossas conversas com o JP Morgan, que foi algo totalmente circunstancial, já que iniciamos nosso contato com eles por uma oferta de serviço, que derivou para uma conversa mais estratégica, vista a relevância do que estávamos levando para eles. 

Para nós, foi muito bom trazer um investimento do porte do JP Morgan. Estamos muito satisfeitos tanto com o investimento quanto com o movimento que fizemos de trazer para perto, não só a instituição que o JP Morgan é, mas um potencial cliente e um laboratório fantástico de construção de soluções. 

Sabemos que o mercado das fintechs está muito aquecido. Então, às vezes, o investimento não é o maior problema, mas sim o que vem atrelado a esse investimento. É fundamental analisar se esse investimento vem com limitações de negociação, com restrição de mercado de atuação ou se ele vem com um aumento da capacidade de produção, da capacidade de atuação no mercado, ampliação do mercado potencial, e ainda com pessoas que conhecem e demandam sua solução.

Em nosso caso, além do dinheiro que é importante para o desenvolvimento da empresa, estamos próximos de uma instituição que permite que a gente possa se desenvolver de uma forma muito intensa, que vai muito além do que, exclusivamente, o dinheiro.

Mais recentemente, fomos procurados pela CSU e, da mesma forma do JP Morgan, nós enxergamos que uma parceria estratégica entre as duas empresas era uma opção super interessante e que vai nos ajudar a se estruturar ainda mais e seguirmos nossos planos de lançamento de novos produtos, internacionalização e outros objetivos. 

Qual o impacto do BaaS no mercado brasileiro?

O avanço das soluções de Banking as a Service que vêm acontecendo no Brasil permitiu que uma série de soluções inovadoras passassem a ser oferecidas para o mercado e o público em geral de forma mais acessível, mais eficiente, mais escalável e que pode ser consumida de novas formas e maneiras. Desde 2015, quando demos nossos primeiros passos, já vislumbrávamos o enorme desafio que as empresas de todos os setores e tamanhos iriam enfrentar para aproveitar a revolução digital do setor financeiro. Hoje, o mercado já percebeu que as oportunidades trazidas pela tecnologia ao setor financeiro não poderão ser ignoradas por nenhuma empresa, nem mesmo as não financeiras.

Nosso modelo de negócio é estruturado justamente para atender esta necessidade e construir uma solução robusta e escalável para viabilizar o crescimento das operações de nossos clientes e seus stakeholders diante desses novos desafios. A demanda pelas soluções oferecidas pelas fintechs continuará crescendo e a disponibilidade de infraestrutura para dar conta desta nova realidade precisará ser correspondente.

As estruturas BaaS permitem dar mais autonomia às empresas, disponibilizando diversos produtos financeiros sem a necessidade de acordos unilaterais com instituições financeiras específicas.

A gama de produtos que o FitBank oferece nos permite dizer que vamos além das soluções de BaaS mais difundidas no mercado. Nós por exemplo, oferecemos a possibilidade de criação de ecossistemas fechados, do serviço de “Corebanking as a Service” (CBaaS) e também de um novo conceito para front-ends chamado de Open Source Banking, que será lançado no próximo mês.

Como o Open Banking afeta o negócio do FitBank?

O FitBank já trabalha o conceito de Open Banking desde a sua fundação, em 2015, quando ainda o termo era mal disseminado ou, de fato, desconhecido. Somos uma plataforma totalmente inserida no conceito mais amplo de Open Banking que existe no mercado. Graças à flexibilidade de nossas soluções e da arquitetura de nossa tecnologia, conseguimos nos conectar com uma série de instituições financeiras e oferecer serviços diversos aos nossos clientes, de forma acessível, modular, rápida e escalável.

O open banking representa muita oportunidade de negócio, já que se cria a possibilidade para que as novas empresas de tecnologia, principalmente aquelas que estão entrando agora no mercado, consigam se desenvolver melhor. Não é impossível se desenvolver em um mercado fechado, mas há uma série de negócios que, a partir do momento que a visibilidade fica mais clara e mais aberta, consegue se beneficiar melhor disso.

Para nós do FitBank, isso é extremamente favorável, pois o sucesso do open banking não está só na tecnologia, mas em fazer com que as tecnologias promovam a comunicação entre instituições e facilitem a vida de todos.

Assim, as empresas e pessoas não têm que se ‘amarrar’ em uma instituição, principalmente quando o serviço disponibilizado não é tão bom ou não atende suas necessidades.

Quais os próximos passos da empresa? E como está o processo de expansão para outros países?

A parceria com o JP Morgan no ano passado e, mais recentemente, com a CSU consolidam o FitBank como um player extremamente relevante no novo modelo de infraestrutura bancária e financeira do Brasil. Assim, conseguimos seguir o planejamento definido em nossa fundação, acelerando nossos objetivos de internacionalização e possibilitando investirmos continuamente no desenvolvimento de produtos e serviços cada vez mais tecnológicos e customizados.

Neste cenário, vamos acelerar a entrega de novos produtos e começar o processo de internacionalização da empresa. Esperamos estar muito em breve com acesso direto ao SPB (Sistema de Pagamentos Brasileiro), que nos permitirá entregar uma série de produtos e melhorias para toda a nossa base de clientes e ofertas diferenciadas para prospects, tais como PIX, Recarga de Celular, Cartão Virtual, entre outros serviços customizados.

Além disso, lançaremos o novo aplicativo whitelabel com conceito Open Source: uma solução inovadora no mercado que permitirá aos nossos clientes liberdade para desenvolver e implementar soluções complementares às entregues pelo FitBank, de forma flexível, mais barata e que atenda às suas necessidades e oportunidades específicas, possibilitando novas frentes de atuação e novas fontes de rentabilização do negócio, junto aos seus consumidores e parceiros.

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O Distrito Dataminer é o braço de inteligência de mercado do Distrito, unindo a maior base de dados de startups do Brasil com monitoramento em tempo real e utilizada por mais de 200 corporações. A partir de nossos estudos de reports, mapeamos o ecossistema de inovação trazendo dados e estatísticas sobre as principais movimentações das startups brasileiras, fusões e aquisições, além de tendências e entrevistas com especialistas.