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Evolução do ecossistema de startups em Minas Gerais

Evolução do ecossistema de startups em Minas Gerais

23 de julho de 2020
10 minutos de leitura
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Artigo atualizado em 23 de julho de 2020

Com PIB estimado de R$ 632 bilhões em 2019, Minas Gerais tem a quinta maior concentração industrial da América Latina, e se destaca pela representatividade do ambiente acadêmico na região – são mais de 11 universidades federais.

Esses e mais fatores permitem que o estado se concretize como um dos principais polos do ecossistema no país: são mais de 780 startups em solo mineiro e apenas nos últimos 3 anos foram investidos mais de US$ 60 milhões nesses empreendimentos

O levantamento faz parte do estudo Distrito Minas Tech, produzido pelo Distrito Dataminer, que mapeou toda a região e ainda descobriu que 25% das startups analisadas atuam em setores como AdTech, FinTech e HealthTech.

O report, que contou com o apoio da KPMG e Transunion, traz também uma série de insights:

  • Minas Gerais é o segundo estado com mais startups no Brasil atrás apenas de São Paulo. Depois de Santa Catarina é a região que mais tem startups por R$1 bilhão de PIB.
  • 60% dessas startups estão na capital, Belo Horizonte.
  • Já foram investidos US$100 milhões em startups do estado. 60% desse valor apenas nos últimos 3 anos.
  • Edtechs é o setor que mais recebe investimento, seguido de Fintechs.
  • 50% das startups dos estado surgiram nos últimos 5 anos.
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Contexto do ecossistema de inovação em Minas Gerais

Economia

Com PIB estimado de R$ 632 bilhões em 2019, o território de Minas Gerias representa 6,89% do total brasileiro, estando atrás apenas do Amazonas, Pará e Mato Grosso em extensão. Com a segunda maior população entre os estados, o setor de serviços é predominante (59%), seguido pela indústria (31,9%) e agropecuária(8,4%). Em 2019, ocupou o oitavo lugar no Ranking de Competitividade dos Estados, com desempenho acima da média em oito dos dez pilares analisados. Em Educação, Sustentabilidade, Social e Eficiência de Máquina, o estado apresentou resultados exemplares nos últimos quatro anos.

Tecnologia

De acordo com a INDI, Agência de Promoção de Investimento e Comércio Exterior de Minas Gerais, o mercado mineiro de TI tem cerca de 5 mil empresas, com faturamento anual de R$ 2,3 bilhões, gerando cerca de 33 mil empregos diretos. Destas, 70% estão em Belo Horizonte e região metropolitana. O estado também conta com 25 incubadoras de empresas de base tecnológica associadas à Rede Mineira de Inovação (RMI), e aproximadamente 159 empresas em incubadoras no Estado. Além disso, Minas ocupa o segundo lugar no ranking regional de registro de patentes contabilizado pelo Instituto Nacional de Propriedade Intelectual.

Empresas

De acordo com o Econodata existem aproximadamente 1,9 milhões de empresas ativas em Minas Gerais, em que a capital Belo Horizonte concentra 15,5%. Até o final de 2019, a junta comercial do estado estava registrando altas contínuas no número de abertura
de novos negócios. No estado existem linhas de financiamento empresarial específicas para a inovação. O BDMG (Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais) em conjunto com a Fapemig (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais), oferece as li
nhas Pró-Inovação destinada a empresas com projetos inovadores, e o Proptec, para empresas instaladas em um dos parques tecnológicos do estado.

Entrevista com André Barrence, Diretor do Google For Startups

André Barrence não é mineiro, mas participou ativamente da construção do ecossistema de Minas Gerais. Ele já atuou como servidor
público do governo na área de Ciência,Tecnologia e Inovação com foco em desenvolvimento econômico, já sentou na cadeira de empreendedor e hoje é Diretor do Google for Startups para América Latina, estreitando as conexões com o ecossistema empreendedor. Confira abaixo a entrevista completa com o empresário e entenda mais sobre o ecossistema mineiro de inovação.

Qual foi a evolução do ecossistema de inovação no estado de Minas Gerais e o que ainda precisa mudar para impulsionar e entrar em um fluxo constante de inovação?

O ecossistema de inovação no Estado de Minas Gerais vem sendo fortalecido há muitos anos por diversos atores, seja o governo, a academia e, claro, pelos talentosos empreendedores que estão espalhados por todo o Estado. Em 2005, houve a aquisição pelo Google da Akwan, uma startup nascida dentro do Departamento de Ciência da Computação da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG que tinha 4 professores fundadores, Nivio Ziviani, Ivan Moura Campos, Alberto Laender e Berthier Ribeiro Neto – sendo que o último segue como sendo Diretor de Engenharia do Google para América Latina. Eles foram parte importante da história mais recente do ecossistema de inovação e impulsionaram o primeiro grande movimento de trazer para fora da universidade as inovações criadas em diferentes departamentos.

Minas é o estado com maior número de universidades federais do país, e dentro dessas universidades existem vários cursos que são referências dentro de suas áreas. A UFMG, por exemplo, se destaca nas áreas de Ciência da Computação e Engenharias e tem professores como Rochel Montero Lago, que sempre foi impulsionador do empreendedorismo na universidade. Em Itajubá, a UNIFEI tem uma vocação forte na área de qualidade e eficiência energética, além de se destacar como uma das universidades com melhor formação empreendedora no país. A Universidade Federal de Viçosa, alma mater do ex-presidente da FAPEMIG e atual presidente da CNPQ, Professor Evaldo Vilela, também merece destaque na área agrícola.

Com todo esse potencial na região e em diversas áreas de conhecimento, teve início um movimento para a criação de núcleo de transferência de tecnologia, parques tecnológicos e uma série de outras iniciativas conectadas para fortalecer a denominada “tríplice hélice”, ou seja, a interação e coordenação entre Universidades, Governo e Setor Privado para acelerar a inovação.

Em 2012, quando era Secretário de Estado no Governo de Minas, decidimos fazer um investimento direcionado para o ecossistema que foi a primeira aceleradora cujo investidor era o Estado, o SEED, a maior em volume de recurso investido e em número de empresas aceleradas do Brasil naquele momento. A partir de então, começamos de fato a colocar energia não só nas universidades, mas nas startups e na geração de inovação. Isso trouxe densidade de empreendedores. A cada 6 meses a gente trazia 40 novas startups por rodada, não só de Minas Gerais, mas de todo o Brasil e também de outras nacionalidades.

Dentre as várias startups que passaram pelo SEED, muitas cresceram e existem até hoje, algumas foram vendidas, alguns empreendedores se tornaram investidores, mas continuaram imersos no ecossistema. 

Além das startups do SEED, no San Pedro Valley nasceram empresas incríveis, como Sympla, Meliuz, Hotmart, Maxmilhas, Rock Content, Dito, AppProva, TrackSale, Hekima, Smarttbot, entre outras. É impressionante que tudo isso aconteceu em um curto espaço de tempo. A partir daí surgiu o que poderíamos chamar de uma nova geração do San Pedro Valley, startups como Melhor Plano, Solides, Opinion Box, 12min e Chatclass. 

Além disso, fundadores que tiveram sucesso como Nívio Ziviani, fundador da Akwan adquirida pelo Google em 2005 e desde 2016 à frente da Kunumi, e Matheus Goyas, fundador e CEO do AppProva adquirida pela Somos Educação em 2017 e agora à frente da Trybe, fortalecem a referência de heróis do ecossistema mineiros. Isso torna possível que as novas gerações de empreendedores se inspirem com suas histórias e jornadas.

A evolução do ecossistema é feita de ciclos, que são normalmente longos. Olhando os últimos anos desse ciclo em Minas Gerais, é muito claro que houve grandes avanços. Porém, ainda há o que evoluir e acredito que agora é a hora de um novo salto. Lembro que, na época, existia uma percepção que os talentos de Minas Gerais não permaneciam no Estado. Essas novas empresas provam que é possível reter e desenvolver talentos, exportar tecnologia e produtos líderes em vários dos seus segmentos de mercado e ajudar a desenvolver um robusto ecossistema local.

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Como é inovar em cada papel desses, Estado, empresa e empreendedor?

No papel de executivo do governo, formular políticas públicas de inovação e de transformação digital requer requer esforços contínuos e perenes. A grande questão é que a continuidade das políticas públicas é fundamental. O governo entrar, sair, se engajar, desengajar, isso faz com que vivamos esses movimentos inconstantes, que não é o melhor quando pensamos em políticas públicas para inovação. Algo que considero excepcional no período que eu estive no setor público era a motivação genuína de que estávamos fazendo algo que iria durar, um esforço prolongado para que a transformação do Estado acontecesse e que se tornasse o melhor lugar para se empreender uma startup no Brasil. 

Como empreendedor, cada etapa da jornada traz desafios específicos. Para isso é importante manter foco absoluto, buscar aprender com quem já fez, buscar novas referências. Cada novo ciclo de crescimento é cheio de dores, mas vem também com muitos aprendizados. Então, não se iluda com captações e rodadas de investimento porque elas não são a linha de chegada, são apenas marcos na construção do sonho maior.

No Google, uma empresa que nasceu como uma startup e apoia empreendedores ao redor do mundo, penso que somos uma plataforma que pode ajudar muito os empreendedores a criarem suas tecnologias, produtos e crescerem seus negócios. Entendemos que podemos ser um ator importante na criação de ecossistemas. Acredito que a conexão com startups e empreendedores é importantíssima pois eles podem de fato ajudar sua organização a criar e construir o futuro. Meu conselho para as empresas é pensar em como você pode se abrir mais e construir junto a empreendedores ao seu redor.

Uma dica para quem vai começar a empreender em 2020.

Tenho dito que no Brasil os empreendedores, os investidores e mercado amadureceram, os hábitos digitais se consolidaram, e, pouco a pouco, as políticas públicas estão se aprimorando. No entanto, 2020 trouxe desafios imprevisíveis aos empreendedores e as condições se transformaram muito. As consequências deste momento de crise ainda não são totalmente conhecidas.

Empreendedores serão importantes como sempre foram na retomada do crescimento da economia e desenvolvimento do país. Para quem está em começo de jornada, é necessário estar atento a sinais relacionados aos novos comportamentos dos usuários e consumidores e oportunidades nos diferentes mercados nos próximos meses, e então decidir se é o momento ideal iniciar ou acelerar o crescimento de um negócio. Quem já está em operação provavelmente adotou uma estratégia de defesa e austeridade e, à medida que o cenário evolui, é possível adaptar para uma visão de crescimento frente às oportunidades que já perceberam. Independente do momento da sua startup, meu conselho é: cautela. Novas necessidades e oportunidades irão surgir e os empreendedores e suas empresas precisam estar preparados.