Solfácil disputa com grandes bancos mercado de energia solar
Artigo atualizado em 1 de outubro de 2019
Em crescimento acelerado, Solfácil deve emprestar R$ 30 milhões neste ano e cerca de R$ 300 milhões em 2020
O Brasil tem uma das tarifas de energia mais altas do mundo. Ao mesmo tempo, está bem posicionado em outro ranking: o sol brilha mais forte aqui do que em muitos outros países que hoje são líderes na geração de energia solar. Ainda assim, de toda energia consumida em território brasileiro, menos de 1% vem do sol.
Foi olhando para esse cenário, que tem muitas outras comparações convincentes, que o engenheiro de produção Fabio Carrara começou a trilhar seu caminho como empreendedor. Hoje, ele é CEO e sócio fundador da Solfácil, startup investida do Distrito Ventures, que financia projetos de energia solar e já disputa mercado com grandes bancos, e também da Solstar, uma empresa que instala sistemas fotovoltaicos.
Fabio trabalhava há três anos no The Boston Consulting Group (BCG) quando saiu para cursar MBA na Wharton School, nos Estados Unidos, em gestão empresarial. Foi lá, entre 2010 e 2012, que ele descobriu que queria empreender, só não sabia exatamente o que fazer. De volta ao Brasil, assumiu o cargo de head de investimentos para a América Latina do fundo alemão Project A Ventures.
“Nessa posição, tive oportunidade de conhecer o mercado de energia solar e, no começo de 2015, percebi que era aí que eu queria entrar”, conta. E dispara as motivações: “é um negócio com impacto social. já que energia é uma das maiores despesas das famílias, e ambiental, por ser uma fonte renovável, além de ter um alto retorno sobre o investimento.”
Depois de pedir demissão do fundo, a estratégia foi começar com uma empresa de instalação de energia solar, que lhe permitisse conhecer melhor o mercado e pavimentar o caminho para criar um modelo disruptivo no setor. Primeiro, veio a Solstar, que importa o equipamento, faz o projeto, homologa e instala o sistema fotovoltaico para clientes residenciais e empresas. O negócio vem dando certo e vai faturar R$ 15 milhões este ano.
Enquanto avançava nesse mercado, Fábio também aproveitava para entender seus principais desafios. “Eu pensei: o que está faltando? Qual a maior dor que ainda não foi resolvida? A resposta: financiamento.” Nove em cada dez pessoas querem ter energia solar em casa, mas apenas 6% dos brasileiros tem uma poupança para fazer esse investimento, diz o empresário. “Isso gera muita frustração e baixa conversão de venda para as empresas como a Solstar, que são milhares no País.”
Estratégia de mercado
Uma das sacadas da Solfácil foi conseguir oferecer ao cliente uma parcela menor do que a economia que ele vai ter com o sistema de geração de energia solar. “Nosso modelo de dar crédito é diferenciado porque consideramos não apenas o risco de crédito da pessoa física, se é bom ou mau pagador. Nós apostamos na viabilidade do projeto. Sabemos que a energia solar se paga sozinha.” Além de gerar economia, ela é também um investimento, já que quem adota o sistema passa a ser, além de consumidor, um fornecedor de energia para a distribuidora de sua região. O valor gerado em energia solar é descontado da conta de luz convencional.
A Solfácil disputa mercado com bancões como Santander, Votorantim e BNDES. Os financiamentos da fintech têm prazo entre 36 e 120 meses, contra uma prazo máximo de apenas 60 meses da concorrência, com carência de três meses e juros a partir de 12% ao ano mais IPCA.
Para se ter uma ideia, Fabio Carrara dá um exemplo real, de um cliente de Uberlândia que instalou um sistema de R$ 26.500 e pegou um financiamento com a Solfácil. A conta de energia elétrica, que era de R$ 700 antes da instalação, passou a ter um abatimento de R$ 650 com a geração de energia solar. As parcelas do empréstimo são de R$ 550 – o que, numa conta rápida, resulta em uma economia imediata de R$ 100.
Diferenciais da Solfácil
Ao mesmo tempo em que atua como banco, a Solfácil tem uma equipe técnica que conhece o mercado de energia solar, que valida o projeto, confere se o sistema foi bem instalado, se foi homologado na distribuidora e monitora o funcionamento. “A abordagem tradicional dos bancos não funciona em energia solar, não adianta emprestar a uma taxa superior à do retorno.”
Quem oferece o serviço financeiro da Solfácil Brasil afora são as instaladoras, como a Solstar. Hoje, existem 10 mil no País. Desse total, 220 já oferecem o financiamento da Solfácil e outras 1 mil, segundo Fabio, pediram para ser parcerias. “Temos visto que demanda não é problema, nosso volume de crédito está aumentando em um ritmo de 40% ao mês.”
Em abril, a empresa captou no mercado R$ 18 milhões, por meio da emissão de debêntures financeiras, para emprestar. Outras emissões estão programadas até o fim do ano. Nas contas de Fábio Carrara, a Solfácil deve conceder neste primeiro ano de operação cerca de R$ 30 milhões e, no ano que vem, cerca de R$ 200 milhões a R$ 300 milhões.
A projeção de crescimento está em linha com as estimativas do setor. O mercado de financiamento de energia solar deve movimentar R$ 2 bilhões este ano e cerca de R$ 4 bilhões em 2020. “Se atingirmos a penetração que a Austrália tem hoje, estamos falando de um potencial de financiamento de R$ 400 bilhões em solar”, diz.
O otimismo de Fábio Carrara com o futuro desse mercado se explica, em parte, pelo salto que a energia solar teve no Brasil nos últimos anos. Quando a Solstar começou em 2015, havia apenas 300 sistemas instalados no Brasil. Agora, o número deve atingir 165 mil sistemas comercializados até o final de 2019. Ainda assim, como o empresário gosta de lembrar, apenas 0,2% das residências e comércio têm energia solar hoje. “Tem muito para crescer. Energia solar é o futuro.”