Crescimento foguete: startup Alice capta mais de US$ 16 milhões
Artigo atualizado em 17 de novembro de 2020
Fundada em 2020 por André Florence, Matheus Moraes e Guilherme Azevedo, a Alice entrou no mercado com uma proposta conhecida por value based care, serviço baseado nos antigos médicos de família e com apelo à atenção primária à saúde (APS). O paciente inicia um relacionamento com o Time de Saúde pelo aplicativo da startup ou pela Casa Alice, um espaço dedicado exclusivamente aos membros. Hoje, a Alice tem mais de 100 funcionários e já captou US$ 17,5 milhões em investimentos.
Entrevista completa com os fundadores da startup de saúde Alice
Entrevistamos os fundadores da Alice para entender o modelo de negócio da empresa, como foi a captação que a empresa recebeu e quais são os próximos passos da empresa. Confira!
Como foi a idealização da Alice? Qual dor e oportunidade de mercado vocês identificaram que precisava ser resolvida?
Construímos a Alice a partir de um propósito: tornar o mundo mais saudável. E para isso percebemos que era preciso entregar a saúde de um jeito diferente e inédito (e pensando a saúde como deve ser).
Foram 15 meses de construção antes do lançamento em julho/20 para levar para as pessoas um produto que combina Plano de Saúde personalizado com Time de Saúde, uma equipe multidisciplinar, para pensar a saúde dos nossos membros a partir de metas de longo prazo, tudo integrado a partir de tecnologia proprietária.
“Queremos que as pessoas se conectem com saúde a partir de metas de saúde e não a partir de problemas. Para isso, estamos descomplicando a jornada por uma vida mais saudável, tornando-a alcançável”.
Lançamos a Alice com um portfólio de dois produtos focados no público B2C em São Paulo capital, um com laboratório Fleury e outro com A+. Optamos por começar com ofertas completas, com hospitais, maternidade e laboratórios de renome e médicos especialistas de peso.
A oferta individual vem com o objetivo de dar a opção para as pessoas, sem burocracias, de escolher um parceiro para cuidar da sua saúde de forma ampla: tanto promovendo saúde quanto cuidando da doença. Profissionais autônomos, por exemplo, acabam muitas vezes fazendo coisas mirabolantes para conseguir contratar um plano de saúde. Seja criar um CNPJ sem necessidade ou se associar a uma entidade só para esse fim. Para nós, a saúde é como um CPF: pessoal e intransferível.
Mais do que isso, entendemos que, para transformar radicalmente a jornada das pessoas em busca da sua melhor versão, precisamos estar bem próximos de cada membro, construindo uma relação que dure não só o período de um contrato de trabalho, como no caso de um plano empresarial. A forma de fazer isso é através de um acompanhamento personalizado e contínuo, feito por um Time de Saúde próprio dedicado exclusivamente aos membros Alice.
Como o plano de saúde da Alice se diferencia dos planos de saúde tradicionais? Como isso é refletido no formato de atuação de vocês?
Pensamos a Alice a partir da saúde como ela deve ser. Ou seja, nosso produto foi desenhado para uso contínuo dos membros, e não apenas em casos de problemas de saúde. Por isso somos muito diferentes do modelo tradicional de seguros de saúde.
Em primeiro lugar, não vendemos apenas um plano de saúde. Vendemos um produto que combina plano de saúde com Time de Saúde proprietário, dedicado exclusivamente aos membros Alice, com profissionais vindos das melhores universidades e hospitais brasileiros, como Albert Einstein, Oswaldo Cruz e Sirio Libanês.
Em segundo lugar, somos uma healthtech, o que significa que usamos tecnologia para coordenar e facilitar a entrega de saúde. Desenvolvemos dentro de casa uma tecnologia própria que permite tanto o acesso ao Time de Saúde pelo app quanto integração de dados com hospitais e laboratórios para que todos os dados de saúde do membro fiquem integrados dentro do app Alice.
Por exemplo: se você for ao Pronto Socorro para tratar uma queixa aguda, tudo que acontecer com você lá vai estar resumido no seu app Alice (diagnóstico e conduta). Os dados ficam disponíveis tanto para você quanto para seu Time de Saúde, que pode já tomar as providências necessárias com base nos resultados.
Em terceiro lugar, investimos nos profissionais de saúde que fazem parte da nossa comunidade de especialistas. Trazemos aqueles formados nas melhores universidades do país e que compartilham a nossa visão de entrega de saúde, baseada no modelo de value based care. Não é a toa que 75% da nossa Comunidade de Saúde não atende nenhum plano de saúde, apenas Alice ou consultas particulares.
Como tudo isso funciona?
Vamos dar um exemplo. Você tem vontade de começar a correr, mas sente dores no joelho. Por onde começar?
1. Imersão na Casa Alice: você vai conhecer seu Time de Saúde Alice, falar por mais de uma hora sobre saúde mental e física e bolar um Plano de Ação com foco nas suas metas de saúde. Ah, uma das nossas médicas é especializada em medicina do esporte.
2. Um time com preparador físico, nutri e fisio: a fisio Alice te ajuda na sua reabilitação. O preparador físico do seu Time de Saúde monta um treino personalizado pra você. E sua nutri te ajuda a ganhar energia com a alimentação.
3. Especialistas e exames: se for preciso, seu time te direciona para um ortopedista da nossa rede e pede os exames certos. Você está em boas mãos.
4. Meta cumprida! Seus primeiros 5k, sem dor, com saúde! Mas não para por aqui. Seu Time de Saúde continua ao seu lado, todos os dias, na maratona da vida. Seja para dúvidas, queixas ou em caso de emergências.
Vocês têm um forte viés de prevenção, incluindo serviços que possuem um custo maior em relação aos planos tradicionais (nutricionista, preparador físico). Como vocês estruturam isso no quesito financeiro?
Primeiro vamos destacar alguns fatos importantes sobre saúde:
Cerca de 19% das despesas com saúde são desperdiçadas em função de exames que são feitos sem necessidade ou fraudes. fonte.;
• 51% das idas ao pronto socorro particular são desnecessárias. São casos de baixa complexidade que poderiam ser resolvidos usando atendimento digital. fonte.
• A atenção primária (referência que usamos para montar os Times de Saúde da Alice) é capaz de atender mais de 80% dos problemas de saúde das pessoas.
Na Alice acreditamos que com nossa tecnologia, coordenação de cuidado e nossos Times de Saúde podemos evitar desperdícios de recursos decorrentes de procedimentos desnecessários e doenças que podem ser evitadas com mudanças no estilo de vida e fazemos isso alocando os recursos corretos para as pessoas se tornarem mais saudáveis
Como veem o mercado de planos de saúde atualmente? O que esperar para os próximos anos? E como esperam estar posicionados dentro dele?
O mercado hoje tem grandes oportunidades no segmento B2C e na revisão dos incentivos da cadeia, que hoje opera no modelo Fee for Service (FFS), e deve mudar para Fee for Value (FFV).
Em relação ao primeiro ponto, acreditamos na construção de produtos nativos direct to-consumer. Hoje, o setor foi construído baseado em um modelo B2B, mesmo que o serviço seja usado pelo consumidor final.
Já sobre incentivos, isso não é assunto novo. Esperamos uma mudança na mentalidade da indústria que hoje ainda está baseada em cobranças por serviços feitos, independente da performance ou desfecho clínico. Nós estamos adotando o modelo de Fee for Value, com incentivos por toda a cadeia baseados em entrega de saúde.
Por fim, também acreditamos na mudança de planos de saúde vistos como seguros de saúde, ou seja, um produto para ser usado apenas quando ficamos doentes. Isso é plano para doença. Nós nos perguntamos por que não ser um plano de saúde mesmo (pra nos ajudar a nos tornarmos mais saudáveis, e também pra quando ficamos doentes).
A Alice recebeu recentemente uma rodada de investimento para financiar a sua operação. Qual é o papel deste fundos que financiaram a operação de vocês? Eles entraram somente com o capital ou também trouxeram outras aplicações?
Nós levantamos US$ 17,5 milhões até o momento com Kaszek, Canary, Maya e investidores individuais. A maioria dos recursos entrou em 2019. São fundos que admiramos, criados por empreendedores experientes (Kaszek por exemplo são fundadores do Mercado Livre) que nos apoiam em todas as frentes que precisamos.
Por exemplo no sourcing de talentos. Muitas das incríveis pessoas que hoje estão na Alice foram indicadas por nossos investidores.
Além dos investidores institucionais, temos mais de 74 pessoas físicas maravilhosas que investiram na Alice por acreditarem muito na nossa missão e na nossa cultura. Entre essas pessoas, temos diversos funcionários, muitos profissionais de saúde e vários investidores anjos.
Uma das principais preocupações dos fundadores é estabelecer uma cultura empresarial forte e capaz de suportar o crescimento do negócio. Como vocês estruturaram a cultura da Alice?
Cultura é nossa prioridade #1, e sempre será. Cultura é algo em constante construção e evolução e demanda energia e esforço para se manter viva e relevante. Para isso, temos alguns rituais que mantemos desde o nosso nascimento.
É o caso do Alice na Arena, uma reunião com todo o time que acontece desde a primeira segunda-feira da vida da Alice. Somos 100% transparentes, papo reto e sem entrelinhas, e toda empresa participa da nossa construção, desafios, conquistas, projetos, tudo.
Nessa reunião (e sempre que possível) reforçamos a nossa missão de tornar o mundo mais saudável. E isso só será possível se cada uma das mais de 100 pessoas que trabalham na Alice acreditarem nisso. Além disso, o papo é aberto para perguntas, e ao final todos recebem o material apresentado – o enfoque dos temas variam, sejam finanças, vendas, saúde, etc.
Temos nossas virtudes, e acreditamos muito nelas. Mas elas não são frases de cultura bonitinhas escritas na parede.
É o que a gente faz, no dia a dia. Vou destacar uma delas aqui, que é: priorizamos nossa saúde e felicidade. Afinal, se queremos tornar o mundo mais saudável, precisamos começar fazendo da Alice o lugar mais saudável possível para se trabalhar.
Por fim, tudo é conversado, grandes decisões passam pela empresa. Se vamos continuar o trabalho remoto pós-pandemia, como está a vibe (para isso fazemos pesquisas constantes), ou seja, construímos nossa cultura através do diálogo.