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VC na América Latina: como estão os investimentos de risco na região?

VC na América Latina: como estão os investimentos de risco na região?

1 de setembro de 2023
8 minutos de leitura
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Artigo atualizado em 1 de setembro de 2023

Com seus 20 milhões km², o equivalente a 13,7% das terras emersas do planeta, a América Latina é uma das maiores regiões do mundo. Além disso, a localidade conta com um contingente populacional enorme e representa uma boa fatia do PIB mundial, gerando oportunidades únicas para o investimento de risco.

Neste artigo, descubra como está o cenário de venture capital na região e qual é o tamanho da oportunidade para investidores, empreendedores e grandes empresas!

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Contextualizando a América Latina

Que a América Latina é enorme, isso todo mundo sabe. Mas você já parou para pensar sobre quais são as características que tornam a região um lugar único para investimentos de risco?

Para começar, os 33 países que compõem a área somam mais de 660 milhões de habitantes, cerca de 85% da população mundial. Além disso, a maioria dessas pessoas são jovens, o que aumenta a oferta de mão de obra e contribui para uma crescente penetração da internet na região, chegando a níveis parecidos com as economias mais desenvolvidas, como China, Estados Unidos e Europa.

Partindo para uma perspectiva econômica, a América Latina teve um crescimento médio de 3,8% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2022. Com isso, os países da região representam 6,64% do PIB mundial, com US$ 6,75 trilhões. Este volume é tão alto que, se a América Latina fosse um país, seria a terceira maior economia do planeta!

Porém, nem tudo são flores: apesar da região representar um importante papel econômico, ainda enfrenta muitos desafios.

A riqueza é distribuída de forma desigual

Mesmo com um PIB alto, a riqueza é distribuída de forma desigual. Para se ter uma ideia, o índice de Gini (indicador que mede a desigualdade social, onde 0 representa completa igualdade e 1 completa desigualdade) da América Latina é de 0,458. Número muito superior à média de 0,364 dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Tal característica fez com que a região fosse considerada a mais desigual do planeta pela ONU em 2019.

Falta de acesso à educação e saúde de qualidade

Além da pobreza, a região enfrenta outro grande desafio: falta acesso à educação e saúde de qualidade.

Quanto à educação, além de todos os países latino-americanos apresentarem médias de aproveitamento escolar abaixo da média dos países da OCDE, um estudo da UNESCO concluiu que não há avanços significativos na educação da região desde 2013.

Já em relação à saúde, a América Larina gasta apenas 6,5% do seu PIB no setor. A título de comparação, a média de gasto dos outros países da OCDE chega a 8,5% do PIB.

Além disso, cerca de 1,7% da população entra na pobreza por gastos particulares com a saúde por falta de financiamento público, segundo a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL).

A população é desbancarizada

Outro desafio está ligado diretamente à questões financeiras: cerca de 122 milhões de moradores da América Latina não possuem qualquer conta no banco – uma fatia de 18,48% da população local.

Embora esse número tenha caído com a pandemia causada pela covid-19, ainda há muito espaço para melhorar esse cenário.

Somados, tais fatores explicam o porquê da América Latina ter se tornado um terreno tão fértil para o ecossistema de inovação: por um lado, temos uma grande economia, um alto contingente populacional e uma forte penetração da internet que está alcançando os mesmos patamares das economias desenvolvidas. Por outro, tantos desafios abrem portas para empresas que se propõem a solucioná-los.

Com isso, encontramos uma região em expansão e cheia de oportunidades quando o assunto é investimento de risco.

Panorama dos investimentos de risco na América Latina

O Panorama Tech América Latina 2023, levantamento do Distrito sobre a região, mostra que mais de 37 mil startups foram fundadas na América Latina até o final de junho de 2023, e mais de 21 mil estão em atividade, sendo que a maioria surgiu depois de 2014.

Não só isso: os investimentos de risco vêm aumentando na região, chegando a destinar mais de US$ 36 bilhões para as startups desde 2019 até o segundo semestre deste ano, consagrando-se como o sétimo maior mercado do mundo em volume de investimento.

Investimentos de risco em startups por semestre

As fintechs são as que mais receberam investimentos na região, captando um total de US$ 13.3 bilhões neste período, volume 127% superior a Retailtech, segundo setor com mais investimentos recebidos, com US$ 5,8 bilhões distribuídos em 490 rodadas.

Coincidentemente, o setor de Fintech também é o mais representativo dentre as startups, sendo 13,1% de todas as startups da região.

Apesar disso, outros setores têm ganhado espaço dentro dos investimentos de risco. Como EnergyTech e DeepTech, por exemplo, que representaram 13,9% e 6,6% do volume recebido respectivamente.

Concentração de volume de investimentos de risco por setor

** Regtech, Cibersegurança, Gestão de negócios e projetos, Deeptech, Indústria, Pettech, Energytech, ESG, Biotech, Greentech, Sporttech, Comunicação, Govtech

Investimentos de risco se concentram no Brasil e México

Quando voltamos o olhar para o volume de investimentos, percebemos que grande parte se concentra principalmente no Brasil, com US$ 21,9 bilhões investidos, seguido pelo México, com US$ 5,3 bilhões. Juntos, esses dois países representam os dois maiores ecossistemas de inovação da América Latina.

Concentração dos investimentos de risco na América Latina

Essa alta concentração de investimentos de risco no Brasil tem um motivo: mais de 13 mil das startups ativas encontram-se em terras tupiniquins. A principal razão desse fenômeno é a dimensão continental que o país possui e sua alta taxa populacional, abrigando quase um terço de toda a população latino-americana.

Em virtude dos investimentos recebidos, o Brasil também é o país da região que mais abriga unicórnios. Dos 45 unicórnios latinos, 24 estão no Brasil, entre eles o Nubank, maior unicórnio da região.

Apesar disso, a América Latina ainda é muito tímida quando o assunto é representatividade de unicórnios, concentrando apenas 4% de todos os unicórnios do mundo.

Assim como o resto do mundo, investimentos de risco na região desaceleraram, mas o late-stage sofre mais

Os últimos dois anos foram desafiadores. A taxa de juros crescendo em todo o mundo, o colapso repentino do Silicon Valley Bank e a guerra na Ucrânia trouxeram uma crise econômica para o mundo todo e, com ela, chegou também um inverno rigoroso para as startups.

Consequentemente, os investimentos de risco para startups diminuíram e afetaram todos os estágios, em especial o late stage.

Um levantamento do Distrito identificou que este foi o estágio mais impactado. A título de comparação, as startups late stage captaram US$ 3,7 bilhões no segundo trimestre de 2021. No mesmo período de 2023, este montante chegou a US$ 200 milhões, uma queda de 94,5%.

Além disso, o número de investidores em late stage caiu proporcionalmente muito mais do que no seed e early stage. O número de investidores que apostam em empresas Series C em diante passaram de 154, em 2021, para 59 em 2023, uma queda de 61,7%. No Seed e Early Stage, essa queda foi de 60,6% e 57,5% respectivamente.

Mesmo assim, ainda há muito espaço para crescimento do investimentos de risco na região

Apesar do inverno do venture capital, ainda há muito espaço para crescimento ao pensar em investimentos de risco.

Primeiramente, o venture capital ainda representa uma fatia ínfima do PIB. No México, por exemplo, essa representatividade chega a 0,1%. Em Israel e Singapura, esse índice chega a 1,6%.

Para Gustavo Gierun, CEO do Distrito:

“O venture capital tem muito espaço ainda para crescer. O Brasil, por exemplo, teve uma taxa de 0,6% de venture capital no PIB em 2021. Imagina se essa representatividade fosse de 0,9%, seria algo como US$ 15 bilhões investidos na região, quase um terço a mais do que tivemos de investimento nesse período.”

Além disso, com o amadurecimento da região, as startups têm alcançado maiores patamares. No gráfico abaixo, é possível perceber que, desde 2019, as startups estão avançando e alcançando estágios mais avançados, chegando até o status de unicórnio.

Evolução no número de rodadas e volume de investimentos de risco por ano

Por fim, a partir do estudo realizado pelo Distrito, é possível notar que a região passou por um processo de consolidação e amadurecimento de um ecossistema dinâmico único e, sobretudo, inovador, de forma que a região representa, hoje, um dos maiores mercados do mundo de investimentos de risco.

Apesar disso, dadas suas características socioeconômicas, ainda há muito potencial de crescimento, abrindo oportunidades para contribuições significativas para o cenário global de tecnologia.