Empreendedorismo Feminino: fundadoras de startups contam seus desafios e dão dicas
Artigo atualizado em 24 de novembro de 2020
Neste mês é comemorado o Dia Mundial do Empreendedorismo Feminino e é um período de reflexão sobre a representatividade das mulheres. A data foi criada em 2014 pela ONU e tem o objetivo de incentivar e reconhecer o trabalho das mulheres que empreendem.
Apesar das mulheres representarem cerca de metade da população, no Brasil, existem 9,3 milhões delas no comando de empresas, o que representa 34% de todos os donos de negócios do país, de acordo com dados do Sebrae. Quando analisamos o cenário do ecossistema de inovação, fica ainda mais desigual. Segundo estudos do Distrito, é possível perceber o quanto a liderança das startups ainda tem forte predominância de homens.
Dentro do quadro societário das fintechs, por exemplo, o desequilíbrio é ainda maior — apenas 12% de mulheres são sócias desse tipo de empreendimento. Isso não é uma característica somente das startups do setor financeiro, mas é nele que o problema é mais evidente. Confira abaixo a tabela comparativa entre os setores já mapeados.
Setor | % de mulheres |
LegalTech | 25% |
EdTech | 20% |
HealthTech | 20% |
Insurtech | 16% |
AdTEch & MarTech | 14% |
LogTech | 14% |
AdTech | 13% |
Industria 4.0 | 13% |
FinTech | 12% |
Mas por que essa diferença acontece? A melhor forma de falar sobre esse assunto é conversar com as mulheres que estão na linha de frente de uma startup. Neste artigo, você irá conhecer a trajetória de quatro CEOs que fazem a diferença e participam do Distrito For Startups, programa de desenvolvimento de startups focado em dar o suporte e ferramentas necessárias aos empreendedores brasileiros.
Desafios enfrentados por mulheres empreendedoras no ecossistema
O ecossistema de startups é conhecido por ser mais inovador do que o de empresas tradicionais. Ainda assim, há alguns desafios a superar quando o assunto é empreendedorismo feminino.
Um deles é a falta de incentivo para que as mulheres empreendam. Assim, quando chegasse o momento, elas se sentiriam mais confiantes. “Precisamos encorajar as meninas, desde cedo, a correrem riscos e a tomarem decisões, por menores que sejam, pois isso vai refletir nas suas decisões de carreira e de futuro”, afirma Juliana Freitas, da startup FortBrasil.
Outro problema, segundo as fundadoras de startups entrevistadas, é a necessidade de provar mais do que os homens para obter credibilidade e reconhecimento do mercado, principalmente quando se trata de investidores. Mesmo extremamente qualificada, elas dizem, a mulher pode ser vista de forma inferior quando comparada ao que é feito com um homem com as mesmas (ou até com menos) qualificações. Lilian Rocha, da Hacking Growth, dá a dica. “Nunca deixe que ninguém a subestime”, diz.
Inspire-se com a história de quatro empreendedoras de sucesso
Ao mesmo tempo em que existem dificuldades, inúmeras iniciativas têm surgido para dar suporte ao empreendedorismo feminino. Além disso, as mulheres estão se ajudando e formando uma rede de suporte e conexão.
Para celebrar este dia 19 de novembro, entrevistamos quatro empreendedoras que fazem parte do programa Distrito for Startups. Conheça e inspire-se com estas histórias!
Renata Bonaldi, CEO da SleepUp
A empreendedora Renata Bonaldi é cofundadora e CEO da SleepUp, aplicativo que funciona como um assistente pessoal para melhorar o sono, oferecendo terapia virtual e monitoramento contínuo.
Criada há um ano, a empresa já passou pelo programa de aceleração do Founder Institute, nos Estados Unidos, e conta com mais de 2 mil downloads e 500 usuários ativos no mundo, com apenas 4 meses no mercado. São três mulheres no quadro societário.
Para mulheres que querem empreender, a dica de Renata Bonaldi é confiar em si e na própria capacidade de execução. “Ouça feedback, mas não deixe as pessoas te diminuírem ou desmotivarem”, diz.
Além disso, ela recomenda tomar decisões baseadas em dados. “Colocar a paixão um pouco mais de lado e ver as coisas de forma neutra, imparcial, estratégica e baseada em números é muito importante”, aconselha.
Dentre os seus aprendizados como empreendedora, estão o de que é necessário ter propósito, resiliência, motivação, determinação, capacidade e competência para empreender e ter sucesso. Além disso, ela também cita a importância do networking.
Juliana Freitas, Founder da Cartão Vai Bem
A empreendedora Juliana Freitas é a fundadora da FortBrasil, uma das maiores fintechs do setor de cartões de crédito do país. Criada há 15 anos, a empresa deve crescer 50% em 2020 em volume de vendas, alcançando 2 milhões de cartões emitidos.
Ela também criou a Cartão Vai Bem, cartão pré-pago que permite ter acesso a uma rede de milhares de clínicas e laboratórios para consultas ou exames.
Dentre seus aprendizados ao longo dessa trajetória, ela cita que a jornada empreendedora requer resiliência e paixão pelo que se faz. “É de extrema importância formar um time que sonhe junto com você. Sonhe grande! Mostre para a sua família como o seu sonho é importante para você, pois o apoio deles será fundamental nos momentos mais difíceis”, aconselha.
Para um mundo corporativo mais igualitário, ela diz que é preciso buscar soluções para mudar os números de forma estrutural, encorajando outras mulheres. “Precisamos encorajar as meninas, desde cedo, a correrem riscos e a tomarem decisões, por menores que sejam, pois isso vai refletir nas suas decisões de carreira e de futuro”, conta.
Lilian Rocha, Cofundadora da Hacking Growth
Lilian Rocha é cofundadora da Hacking Growth, consultoria focada em CRO. Analista de sistemas, desenvolvedora, pesquisadora em novas tecnologias e com experiência em UX e UI, Marketing Digital e Growth Hacking, ela é apaixonada por tecnologia e empreendedorismo.
Desde que assumiu a gestão da empresa, no fim do ano passado, ela conta que o negócio teve um crescimento progressivo nos 4 primeiros meses. Neste ano, no entanto, o empreendimento foi atingido em cheio pela pandemia, mas está retomando o crescimento.
“Precisei estar atenta às reações dos negócios e tomar decisões rápidas condizentes com esse movimento. Aprendi, também, a resiliência. Esse ano mostrou que precisamos estar dispostos a nos reinventar todos os dias”, diz.
Ela conta que, na carreira, um marco foi participar do evento do Distrito com outras founders mulheres. “Aprendi muito com elas e me senti muito bem em inspirar outras mulheres”, conta.
Para quem quer começar a empreender, ela dá a dica: “nunca desista de seus sonhos. E nunca deixe que ninguém a subestime”.
Luisa Brandt, Cofundadora da Bot da May
A empreendedora Luísa Brandt é cofundadora da May, uma chatbot que conversa sobre quimioterapia com foco em câncer de mama. O projeto foi inspirado na própria mãe, que enfrentou a doença.
A profissional atua como UX designer em uma empresa de tecnologia e toca o projeto em paralelo. Artista plástica com pós-graduação em crítica e ilustração, ela conta que sempre teve um perfil de negócios, e que, com a May, conseguiu reunir diversas áreas de interesse em um único projeto.
O diferencial? “É uma solução tecnológica com a mulher no centro do produto e faz parte da transformação digital que estamos vivendo, no cerne da transformação sócio-cultural em que as pessoas estão se adequando aos novos meios de comunicação à distância”, conta.
Durante a trajetória como empreendedora, ela aprendeu algumas lições, que hoje repassa às mulheres que estão começando o próprio negócio. A principal delas é começar.
“Irão duvidar de você, irão desconfiar do seu potencial ou dizer que ‘isso não é pra você’, mas ao mesmo tempo, terão outras pessoas, mulheres e homens, te impulsionando, te admirando, te inspirando, então comece, nem que seja pequeno, nem que seja tímido, nem que ninguém, em absoluto, esteja vendo o que você faz, comece!”, diz.
Dentre os aprendizados como empreendedora, ela cita aprender sobre si todos os dias, sobre a vida e sobre como lidar com as pessoas.
“O empreendedorismo é uma espécie de auto análise 24h, ainda mais quando se começa do zero. Mas sem dúvida alguma, o que me dá forças é exatamente saber que sempre há uma recompensa para quem não teve medo de começar. Dar certo ou dar errado custa o mesmo esforço. Eu prefiro me arriscar e aprender com as circunstâncias. A vida é muito curta para ficar sentada num banco, apenas observando, enquanto outras pessoas dão seus shows”, conclui.