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14 anos de inovação: como o iPhone inaugurou uma nova era

14 anos de inovação: como o iPhone inaugurou uma nova era

29 de junho de 2021
8 minutos de leitura
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Artigo atualizado em 29 de junho de 2021

Biógrafo de gênios como Leonardo da Vinci e Albert Einstein, o jornalista americano Walter Isaacson acredita que os grandes inovadores da história eram pessoas capazes de entrelaçar ciência e humanidades, ou seja: detinham profundo conhecimento técnico de suas áreas de estudo e, ao mesmo tempo, um repositório quase infinito de criatividade e imaginação. Essa combinação de aptidões os levou a romper com os padrões de suas épocas e realizar obras que deixaram marcas permanentes no universo. Aliás, Isaacson também escreveu sobre a vida de Steve Jobs, que, já lutando contra o câncer que tiraria sua vida, apresentou ao mundo um ‘produto revolucionário que mudou tudo’, segundo suas próprias palavras. Esse produto era o iPhone, que foi colocado à venda no dia 29 de junho de 2007, exatos 14 anos atrás.

Neste texto, você entenderá como Jobs uniu originalidade e tecnologia de ponta para criar o celular que inaugurou uma nova era dos celulares.

A ideia

No início dos anos 2000, o lançamento do iPod havia transformado radicalmente a indústria da música, permitindo às pessoas armazenar centenas de faixas no aparelhinho portátil e ouvi-las quando, onde e quantas vezes quisessem.

Em 2005, foram vendidas 20 milhões de unidades do produto, o que representou 45% do faturamento da Apple naquele ano. O problema era que, da mesma forma que o setor de câmeras digitais desabou quando os celulares passaram a incluir suas próprias câmeras, o iPod também poderia se tornar ultrapassado se eles fossem equipados com tocadores de música. Com essa preocupação em mente e de olho no potencial de mercado — naquele mesmo ano de 2005, as vendas de celulares chegaram a 825 milhões no mundo todo —, Steve Jobs decidiu que o próximo passo da empresa seria criar o seu próprio telefone móvel. Até porque, para o executivo, nenhum dos que existiam na época prestava: viviam dando problema e tinham funcionalidades difíceis de entender.

Portanto havia um enorme espaço para um produto de primeira linha que realmente conquistasse os consumidores. O interessante é que, já então, uma equipe da Apple estava tentando construir um tablet, mas a ideia acabou sendo adaptada para a formulação do novo celular. O iPad só seria lançado em 2011, quatro anos após o surgimento do iPhone.

Multitoque

A grande sacada criativa de Jobs foi imaginar esse celular do futuro sem um teclado físico, com a telinha ocupando quase toda a parte frontal do aparelho. Hoje, em pleno 2021, um smartphone que trouxesse teclas embutidas no hardware seria impensável, mas dezesseis anos atrás o padrão era esse, sendo os populares BlackBerry o modelo ideal de celular.

Mesmo após o evento de apresentação do iPhone, um representante da Microsoft disse em entrevista à CNBC que o produto não atrairia a clientela de executivos por não ter um teclado físico. Mas Jobs foi inflexível: queria o teclado digital e, para isso, os engenheiros da Apple tiveram que se desdobrar para criar a funcionalidade ‘multitoque’, capaz de processar os múltiplos contatos simultâneos no monitor do aparelho. A tecnologia demorou muitos meses para ficar pronta, com Jobs dedicando horas por dia para refiná-la. Assim, flexível e adaptável, a tela possibilitou o desenvolvimento de inovações como a rolagem inercial, que permitia aos usuários deslizar o dedo na tela e mover a imagem para cima e para baixo. Também possibilitou inserir e deixar bem visíveis vários ícones em formato de quadradinhos com bordas arredondadas que, nos anos seguintes, desempenhariam funções tão diferentes quantas seriam as soluções disponibilizadas pelo ecossistema de inovação e empreendedorismo mundial — os aplicativos.

O vidro

‘Você pode ficar quieto e me deixar lhe ensinar um pouco de ciência?’ Foi o que disse a Steve Jobs o jovem Wendell Weeks, presidente executivo da Corning Glass, de Nova York. Na ocasião, Jobs estava em busca do vidro perfeito para produzir a tela do primeiro iPhone. Ao descobrir que a Corning havia desenvolvido um tipo de vidro bastante resistente nos anos 1960, mas precisou interromper a fabricação por falta de demanda, Jobs duvidou da qualidade do produto e começou a explicar a Weeks como o vidro era feito. O experiente Weeks achou graça e então pediu silêncio a Jobs para mostrar na lousa o processo químico que tornava aquele vidro da Corning tão forte. A aula fez Jobs mudar de ideia e se interessar pelo material  a tal ponto, que convenceu Weeks a converter uma fábrica inteira da Corning para a produção do gorilla glass, como o vidro era chamado, durante seis meses e em tempo integral. Quem também se encantou com o gorilla glass foi Jony Ive, designer de confiança de Jobs e líder da equipe responsável por desenhar o iPhone.

O design

Ive e seu time haviam passado nove meses para elaborar o design do iPhone, cujo projeto inicial trazia a tela de vidro embutida em uma caixa de alumínio. Porém, após uma noite sem dormir, Jobs procurou Ive para dizer que havia se dado conta de que não gostava daquele desenho do aparelho. O incrível foi que Jony Ive percebeu que também não gostava e acabou dando razão ao chefe. Naquele projeto, a caixa concorria com o monitor do celular, em vez de dar espaço a ele. Jobs contou com o apoio e a dedicação de Ive e sua equipe de designers para criar um novo desenho para o iPhone, que, no final, teve o gorilla glass preenchendo-o de lado a lado. Não bastava o aparelho ser eficiente, também precisava ter uma aparência amigável. O fato de o iPhone não ter bateria de substituição também refletia essa obsessão de Jobs pela qualidade estética dos produtos da Apple, já que isso permitiu que o celular ficasse muito mais fino. De acordo com Tim Cook, atual presidente executivo da empresa: ‘Ele sempre acreditou que o fino é bonito. Isso se vê em todo o trabalho. Temos o notebook mais fino, o smartphone mais fino, e fizemos o iPad fino, e depois ainda mais fino.’

Um produto revolucionário

Antes do evento de lançamento do iPhone, em janeiro de 2007, Steve Jobs deu uma prévia exclusiva a Lev Grossman, colaborador da revista Time. Em seu texto, Grossman escreveu que, no iPhone, o uso das funcionalidades era muito mais fácil do que nos outros celulares no mercado: ‘Isso é importante. Quando nossos aparelhos não funcionam, costumamos pôr a culpa em nós mesmos, achando que somos burros, não lemos o manual ou que nosso dedo é grosso demais… Quando nossos aparelhos quebram, também nos sentimos quebrados. E, quando alguém arruma, nos sentimos um pouco mais inteiros.’ O iPhone não foi um produto revolucionário unicamente por ser um primor da tecnologia, mas também, e talvez principalmente, por ser amigável ao usuário como nenhum outro telefone móvel jamais fora. Assim como havia feito com o Macintosh nos anos 80, Jobs uniu ciência e humanidades para criar um celular que transformaria para sempre a indústria da inovação e da tecnologia. No fim de 2010, antes de falecer, a Apple já havia vendido 90 milhões de iPhones, tendo obtido mais da metade dos lucros totais gerados pela venda de celulares no mundo todo.

O Brasil na era dos smartphones e aplicativos

No Brasil, o boom dos smartphones foi em 2014, quando foram vendidos 54,5 milhões de aparelhos, marca não superada até hoje. Nesse mesmo ano, o Uber chegou ao país e causou protestos entre os taxistas, mas o sucesso do app entre os seus usuários mostrava que esse era um caminho sem volta — para a alegria de uns e desvantagem de outros, havíamos entrado definitivamente na era dos smartphones e aplicativos. Entre 2018 e 2019, o número de instalações de aplicativos cresceu 55%, e o mercado nacional de apps se tornou o segundo que mais cresce no mundo, atrás apenas da Indonésia. Já em 2019, o Brasil contava com 230 milhões de smartphones ativos, bem mais do que sua população de aproximadamente 208 milhões de pessoas. Durante a quarentena, as aplicações de compras foram as mais baixadas pelos brasileiros, seguidas de apps de lifestyle e de entregas de comida. Aliás, o isolamento social aumentou o uso e a receita dos aplicativos em 15%, de acordo com um levantamento da plataforma internacional de análises AppsFlyer. Enfim: ninguém — ou bem poucos — gosta tanto dos smartphones quanto a gente.