Em nova fase, Mercado Bitcoin aposta nos ativos alternativos
Artigo atualizado em 20 de setembro de 2019
Maior corretora de criptomoedas da América Latina usa tecnologia e know how para ampliar portfólio
Em 2013, numa época em que os brasileiros sabiam nada, ou quase nada, sobre moedas virtuais, Gustavo Chamati e um colega da FEA/USP, criaram o Mercado Bitcoin, uma plataforma de negociação de criptomoedas. Eles apostaram no crescimento da tecnologia e estavam entusiasmados com o negócio. Mas nem nos cenários mais otimistas esperavam crescer tanto em tão pouco tempo.
Os primeiros três anos foram relativamente tímidos, até que chegou 2017, quando o Japão reconheceu o Bitcoin como moeda de troca e, meses depois, bolsas americanas (CBOE e CME) começaram a negociar contratos futuros da criptomoeda. O Bitcoin estourou, com uma valorização de mais de 1000% em um ano. Chamati viu o número de clientes escalar de forma impressionante: de 250 mil a 900 mil ao longo de 2017. “Estávamos preparados para crescer duas, três vezes, mas ninguém se prepara para quatro ciclos de crescimento em um único ano”, diz. A operação não suportou e o serviço teve queda de qualidade.
As reestruturações que vieram a seguir ajudam a entender o momento atual da maior corretora de criptomoedas do país. Primeiro, a empresa teve de se adequar ao interesse quase que repentino dos brasileiros pelo Bitcoin, investindo pesado em tecnologia para atender à demanda. Passada a euforia, precisou voltar algumas casas, e concentrou esforços no relacionamento com os órgãos regulatórios, no combate a fraudes e lavagem de dinheiro.
Nova fase do Mercado Bitcoin
Neste ano, com a casa arrumada, o Mercado Bitcoin entrou em uma nova fase e passou a oferecer a possibilidade de negociação dos chamados ativos alternativos, de forma segura, com utilização de tecnologia blockchain e de criptoativos. “Adquirimos know how regulatório e conhecimento para fazer mais do que intermediação de criptomoedas”, diz Chamati. “Enxergamos a possibilidade de propor evolução na infraestrutura para investimentos, o que nos permite explorar outros ativos, atrair novos clientes e abrir uma frente que pode ser até maior do que o de criptomoedas no Brasil”.
Chamati e sua equipe querem aproveitar o cenário de juros baixos, que serve de incentivo para os investidores arriscarem mais, para democratizar ativos de alto retorno, que não são negociados em bolsa e até então só estavam ao alcance de grandes investidores e dos próprios bancos. No início de agosto, o MB vendeu, pela primeira vez, frações de precatórios do Estado de São Paulo – que são dívidas do governo paulista, ao valor mínimo de R$ 100. O primeiro lote, de R$ 1,6 milhão, com vencimento em 2021, acabou em menos de 24 horas. O segundo, de R$ 5 milhões, esgotou em menos de três dias.
“Isso demonstra que existe uma super demanda do mercado por outros tipos de ativos para investimento, além daqueles que são oferecidos por bolsas e corretoras tradicionais”, diz Reinaldo Rabelo, que chegou à empresa em 2017 para estruturar a área de Compliance, já foi CEO do MB e agora comanda a unidade de novos negócios. “Dentro de um planejamento financeiro saudável, o investidor deve balancear seu portfolio com fundos, ações, seguros, imóveis e outros bens reais. Queremos ser a referência para estes ativos alternativos, como frações de precatórios e cotas vencidas de consórcio, que fogem do modelo risco-retorno pausterizado”.
Planos futuros e aposta no blockchain
Rabelo acredita que a tecnologia blockchain permite que as negociações se dêem em ambiente organizado e confiável, porque as informações e contratos estarão registrados em plataforma pública, que não permite alteração das características iniciais. Além disso, serve como provocação ao modelo ultrapassado de infraestrutura do mercado, assim como as fintechs fizeram ao obrigar bancos e instituições financeiras a se reinventarem e aprimorarem o relacionamento com os clientes. “Hoje, são muitos intermediários e todo mundo come um pedaço da rentabilidade do investidor. Com a Selic a 6%, não tem mais como esconder o que se tira do rendimento das pessoas”, afirma o executivo, que trabalhou por quase uma década na Cetip, antes de começar no Mercado Bitcoin. A meta, segundo Rabelo, é chegar a R$ 500 milhões em ativos alternativos até o fim deste ano e criar um mercado secundário, para gerar liquidez para aqueles que precisem deixar sua posição. Consequentemente, o número de clientes também deve aumentar.
Hoje, o Mercado Bitcoin tem uma carteira de 1,6 milhão de investidores, que já movimentaram R$ 3 bilhões este ano. O número supera o de investidores pessoas física da B3, a bolsa brasileira, e do Tesouro Direto. “Nosso objetivo é mudar a relação das pessoas com o dinheiro”, diz Chamati. “Estamos preparados para crescer. Queremos fazer isso facilitando o acesso tanto aos ativos alternativos quanto às criptomoedas”.
Por esse motivo, com o intuito de estar mais próximo de toda a comunidade de fintechs, o Mercado Bitcoin é mantenedor do Distrito Fintech. O intuito é fomentar e estar próximo a toda comunidade que impacta de alguma forma o mercado financeiro.
Desde janeiro, o Bitcoin acumula valorização de cerca de 280%, cotado a R$ 42 mil. Em 2018, a moeda caiu 73%, depois de ter subido quase 1.300% um ano antes. O bom momento em 2019 se deve em grande parte ao anúncio feito pelo Facebook de que planeja lançar sua própria moeda virtual, batizada de Libra. “Complementarmente, também percebemos que o Bitcoin tem sido usado como reserva de valor. Passa a ser concorrente do ouro, como ativo de reserva, desatrelada da economia local”, diz Chamati. “Por incrível que pareça, a moeda está sendo vista como um seguro contra crises na economia mundial”.