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Grandes bancos perderam 43% de mercado para as fintechs nos últimos quatro anos

Grandes bancos perderam 43% de mercado para as fintechs nos últimos quatro anos

1 de outubro de 2021
6 minutos de leitura
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Artigo atualizado em 1 de outubro de 2021

A Transfeera nasceu em 2017 na incubadora Softville, de Joinville, com o objetivo de diminuir o custo das transferências entre diferentes contas bancárias (TEDs) para pessoas físicas. A startup de finanças abriu conta nos principais bancos do Brasil com um bom saldo e usava o dinheiro para transformar as TEDs dos seus clientes em transferências realizadas dentro de uma mesma instituição.

Não demorou muito para que a solução chamasse a atenção das empresas. Assim é que a Transfeera desenvolveu novos produtos e mudou o seu modelo de negócios de B2C (Business to Consumer) para B2B (Business to Business). Hoje, a startup é dona de uma plataforma open banking de gestão e processamento de pagamentos, cobrança e validação de dados bancários para pessoas jurídicas. 

A plataforma da Transfeera automatiza a rotina de pagamentos de mais de 300 organizações no Brasil, Ambev, Johnson & Johnson e Hotmart entre elas. Desde o início das suas operações, a fintech já processou cerca de 6 milhões de pagamentos para os seus clientes em diversos bancos através dessa ferramenta open banking, conferindo agilidade e transparência às transações.

De acordo com Guilherme Verdasca, CEO e cofundador da Transfeera: ‘Nós resolvemos um problema de ineficiência criado pela concentração bancária. No Brasil, mesmo com tantas fintechs surgindo nos últimos anos, 80% das contas ainda estão nos bancos tradicionais. Existe muita oportunidade para soluções como a nossa.’

Em outubro de 2019, os fundadores da Transfeera viajaram para o Vale do Silício para um programa de aceleração de duas semanas da Visa. Um ano depois, a empresa recebeu um investimento pré-seed de R$ 3 milhões liderado pela gestora de capital de risco GooDz Capital e com participação da Bossanova Investimentos, Honey Island e Curitiba Angels. 

Grandes bancos perdem espaço para as fintechs

A Transfeera acaba de divulgar um levantamento que aponta que, nos últimos quatro anos, as transferências monetárias direcionadas para contas dos cinco maiores bancos brasileiros (Banco do Brasil, Bradesco, Caixa Econômica, Itaú e Santander) diminuíram 43%. O Estudo Market Share de Bancos 2021 examinou os mais de 6 milhões de pagamentos realizados pelas empresas clientes da Transfeera através da plataforma da startup entre abril de 2017 e agosto deste ano, considerando as transferências feitas tanto para contas bancárias de pessoas físicas quanto para contas de outras empresas (gráfico).

Na comparação, o banco que mais perdeu market share na indústria de meios de pagamento foi a Caixa Econômica Federal. Em abril de 2017, a organização era responsável por 40% das transações da Transfeera, porcentagem que diminuiu para 14% em agosto de 2021. Nesse mesmo período, o Santander perdeu espaço de 19% na plataforma da fintech, indo de 30% para 11%. Por outro lado, o Nubank ganhou mercado, tendo sido responsável por 22% das transferências da Transfeera só no último mês de agosto.

A descentralização dos serviços financeiros

Nos últimos anos, as startups de finanças criaram soluções que multiplicaram as possibilidades de fazer o dinheiro circular, provocando uma verdadeira revolução no setor de meios de pagamento no Brasil. Com a chegada da pandemia e a digitalização geral dos serviços no país, a transferência do dinheiro para os meios digitais se tornou inevitável.

Para Fernando Nunes, cofundador e Diretor Comercial da Transfeera: ‘O movimento do dinheiro para os canais online já não se enquadra como um diferencial, mas sim como uma obrigação. As fintechs se destacam justamente por possuírem soluções majoritariamente digitais, o que torna os seus negócios escaláveis e permite que elas ofereçam produtos mais abrangentes aos clientes.’

Dados da Comscore ainda mostram que o Brasil lidera a digitalização bancária na América Latina, à frente de Chile, Argentina, Colômbia, México e Peru. Já o 2021 Global Fintechs Rankings, produzido pela britânica Findexable, revela que o país se consolidou como um dos grandes ecossistemas globais de fintechs, ocupando a décima quarta posição no mundo. Desse modo, cada vez mais pessoas e empresas estão escolhendo se relacionar com bancos digitais, descentralizando os serviços financeiros e impactando bancos há muito consolidados no mercado nacional. 

Com um sistema financeiro historicamente engessado e burocrático, o Brasil se mostrou um terreno fértil para as startups de finanças que se propuseram a preencher as lacunas que os bancões não priorizam. Após décadas ditando as regras do relacionamento dos clientes com o seu dinheiro, hoje as grandes instituições bancárias estão testemunhando o consumidor assumir o controle da sua própria vida financeira por meio de soluções inovadoras, como a das fintechs e a dos neobancos.

O impacto do open finance

Por fim, as mudanças regulatórias propostas pelo open finance também estão impondo outro enorme desafio aos bancos tradicionais brasileiros. Conduzido pelo Banco Central, esse novo ‘sistema financeiro aberto’ permitirá o compartilhamento do histórico financeiro dos clientes (salários recebidos, empréstimos, contas pagas, depósitos, financiamentos etc.) entre quaisquer instituições através da integração dos seus sistemas.

Eis que o compartilhamento geral de dados da população entre os milhares de players do mercado (bancos, fintechs, corretoras, firmas de investimento, securitizadoras, cooperativas de crédito) certamente desencadeará uma competição entre eles pela conquista dos clientes uns dos outros. Na medida em que as fintechs obtiverem acesso ao histórico financeiro das pessoas nos grandes bancos, elas conhecerão o perfil de cada uma delas de imediato e poderão atraí-las oferecendo produtos e serviços a preços mais baixos e com muito menos burocracia.

Estarão as antigas instituições financeiras com os dias contados? Segundo Carlos Augusto de Oliveira, CEO da CertDox e Fintech Board Member da gestora Bossanova Investimentos: ‘Os grandes bancos estão acompanhando as mudanças, mas tendem a se mover mais lentamente em função do peso do legado e do aculturamento de uma enorme massa de clientes de várias gerações, o que, em ciclos tão acelerados de transformação, se torna um ônus e causa risco de perda de competitividade.’