Guilherme Stuart, sócio da RGS Partners, comenta sobre a importância de estratégias de M&A
Artigo atualizado em 17 de fevereiro de 2022
O ano de 2021 foi o mais frutífero para o ecossistema de inovação, batendo recorde de M&A’s. Além do número histórico de fusões e aquisições, 2021 também entra na história por outro fator marcante: esse foi o primeiro ano em que startups foram as que mais realizaram operações de M&A, enquanto anteriormente esse status era dominado por grandes corporações.
A RGS Partners, uma assessoria de Fusões e Aquisições, revela que esse movimento marca uma nova era para o mercado, e essa é uma tendência que irá se tornar permanente. Guilherme Stuart, Sócio da RGS Partners, conversou com o nosso time e entrou em detalhes sobre esse fenômeno.
Impacto na economia
1) Como essa estratégia de M&A entre startups impacta a economia?
Em primeiro lugar, existe um contraste importante entre M&A de empresas tradicionais e startups. As motivações para uma fusão ou aquisição por uma empresa tradicional são muitas, às vezes uma empresa comprava outra simplesmente para absorver sinergia e conseguir ter melhor resultado, um lucro maior na operação já no dia seguinte. E esse lucro maior consequentemente aumenta os investimentos naquela indústria. São raros os casos em que há a compra de outra empresa para aumentar o preço e piorar a dinâmica para o consumidor, esses movimentos são cada vez mais restritos e impedidos pelas autoridades econômicas.
Já os M&As entre startups significam impulsionar as empresas para atingir um mercado ainda maior. Normalmente ela vai buscar em uma transação com uma empresa maior para complementar determinadas fraquezas ou oportunidades para ampliar o mercado em que ela já atua. Então é uma forma de aceleração da empresa adquirida. E olhando pela característica do cliente da empresa compradora, ele vai esperar uma oferta de serviços adicional.
Podemos citar como exemplos a Salesforce e Slack, ou a Totvs e RD Station. É um tipo de aquisição na qual se quer impulsionar um produto ou mesmo criar uma forma de se relacionar com seu cliente atual. Na minha visão, impacta de maneira superpositiva a economia, justamente porque são M&As transformacionais para uma indústria.
Corporações ou startups
2) Quais são as diferenças significativas entre ser adquirido por uma grande empresa ou uma startup já consolidada?
Essas diferenças existiam bastante no passado, principalmente em relação a cultura organizacional. As grandes empresas, os incumbentes, tinham culturas organizacionais já ultrapassadas, e as startups traziam uma cultura nova, de valorização do funcionário superforte, de equilíbrio entre a vida profissional e pessoal, de trazer um propósito. Hoje isso mudou. É claro que ainda não são todas as grandes empresas que mudaram essa cultura, mas isso de fato já não é uma diferença muito grande entre você ser adquirido por uma grande empresa ou uma startup consolidada. A mudança acaba sendo muito mais econômica pela ótica do vendedor, da startup que está sendo adquirida. Uma empresa já consolidada provavelmente vai pagar o preço ou parte em ações da empresa, às vezes já listadas na bolsa.
Outro aspecto é a segurança de recebimento, em que se tem o conforto de solidez financeira da grande empresa para as parcelas futuras. A startup já consolidada, por outro lado, partindo do pressuposto que ela não é listada na bolsa e ainda vai seguir com rodadas de capitalização antes de fazer um IPO, oferece ações menos líquidas porque não estão listadas. Elas podem ter um upside maior, mas tem a segurança financeira com risco também maior. Então os dois têm lados positivos e negativos, mas essa questão cultural, que era uma diferença muito grande, já é menor hoje.
Tendência ou momento
3) Vocês enxergam esse movimento entre startups de se tornar permanente, ou é uma tendência apenas momentânea?
Para mim é claramente permanente. A competitividade do mercado e a velocidade que as empresas precisam se adaptar estão cada vez maiores, e o M&A sempre foi uma mecânica, uma alternativa, para você rapidamente adaptar o seu modelo de negócio ou atingir determinado mercado. Isso se tornou muito mais saliente na estratégia das empresas, porque acelera esse processo. Construir uma startup, performar e dar tração no negócio é uma combinação de time, esforço, tempo e sorte. As empresas não têm principalmente esse tempo para passar por todo o processo de aprendizado para atender uma demanda que é cada vez mais rápida e exigente do mercado consumidor. Então eu não tenho a menor dúvida de que é permanente. O que vai fazer esse movimento ser mais ou menos intenso é a disponibilidade de capital, que é a principal preocupação de longo prazo dada a alta da taxa de juros. No longo prazo, a alta dos juros diminui os fundos os disponíveis para investimento em venture capital. Mas grande parte dos fundos de VC do mundo todo, inclusive do Brasil, estão bastante capitalizados para passar por um momento eventual de seca de disponibilidade de recursos. Os fundos já estão captados e muitos vão continuar investindo.
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