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Venture Debt começa a ganhar espaço no Brasil

Venture Debt começa a ganhar espaço no Brasil

2 de fevereiro de 2022
5 minutos de leitura
time

Artigo atualizado em 2 de fevereiro de 2022

Quando um fundo de venture capital coloca dinheiro em uma startup, o que os investidores estão adquirindo é uma participação acionária (equity share), isto é, o direito a uma parte da empresa. Porém, existem outras formas de colocar um negócio no mercado, sem a necessidade de abrir mão de participação na empresa logo em seus estágios iniciais: o Venture Debt.

A expectativa é a de que o negócio cresça e a participação que o fundo comprou se valorize, gerando lucro aos acionistas. Para que isso aconteça, o equity dos investidores na startup deve ser minoritário: primeiro, porque o objetivo do fundo não é comprar a empresa, mas apenas ajudar os empreendedores a levá-la adiante; segundo, porque a startup investida deverá passar por outras rodadas de financiamento, e será preciso ainda haver equity sobrando para dar em troca desses novos aportes.

No entanto, há um terceiro motivo. Os fundos de venture capital não enxergam com bons olhos empreendedores que tenham vendido uma participação muito grande da empresa logo de cara, já que isso pode desmotivá-los a fazer o negócio crescer. Aliás, as próprias casas de investimento evitam adquirir participações elevadas por causa disso.

Por outro lado, não é incomum que empreendedores jovens e inexperientes acabem desistindo da própria empresa por haver entregue uma parte alta demais da startup aos primeiros investidores. Uma organização societária excessivamente fragmentada é desvantajoso tanto para o empresário quanto para o investidor.

O que é Venture Debt?

É para evitar a diluição da propriedade da empresa que alguns empreendedores preferem pegar dinheiro emprestado em vez de levantar um investimento, em um modelo de financiamento conhecido como venture debt

Diferente do venture capital, modalidade na qual os investidores empregar recursos financeiros em empresas que possuem alto potencial de desenvolvimento e rentabilidade, o venture debt é um tipo de financiamento para startups que não possuem garantias ou giro de caixa suficiente para justificar um empréstimo tradicional, a modalidade é empregada através de uma dívida não conversível.

Nos Estados Unidos, o ‘empréstimo de risco’ existe há cerca de quarenta anos, e ajudou a alavancar gigantes da tecnologia como Airbnb, Facebook, Spotify e Uber. Só em 2020, mais de US$ 25 bilhões foram aplicados em startups americanas por meio do crédito, através de mais de 3 mil rodadas de negociação. No Brasil, não existiam gestoras de venture debt especializadas em startups até 2018, quando a Brasil Venture Debt iniciou a captação de um fundo de R$ 140 milhões com a ajuda do BNDES.

Venture capital e venture debt não são modelos de financiamento concorrentes, mas sim complementares. Obter um investimento em troca de equity faz sentido quando a empresa quer atingir metas ambiciosas, como expandir o negócio internacionalmente. A vantagem é que o empreendedor devolverá o dinheiro recebido somente quando — e se — a sua startup for vendida ou fizer uma oferta pública inicial na bolsa. Já o empréstimo via venture debt permite ao empresário levantar recursos para necessidades mais pontuais, como comprar novos materiais ou equipamentos, sem o inconveniente de precisar abrir mão de uma parte da empresa que certamente poderá ser negociada por um preço melhor lá na frente.

Quando é interessante acessar o venture debt?

Naturalmente, o venture debt também possui suas desvantagens. Uma delas é que, como ocorre com todo empréstimo, a dívida deve começar a ser paga de imediato pelo empreendedor, e com juros. Uma startup comprometida com débito pode acabar enfrentando algumas dificuldades de crescimento, o que a torna menos atrativa para os fundos de venture capital. 

Os contratos de venture debt ainda podem incluir artigos estabelecendo determinadas métricas que a empresa deve atingir a cada trimestre, como garantia de que o tomador será capaz de quitar o empréstimo por completo. Por fim, cláusulas de mitigação de riscos isentarão o credor de seguir com o financiamento em caso de adversidade grave, como a perda de um cliente fundamental por parte da startup.

Cenário brasileiro

Decorridos mais de três anos desde que o Brasil Venture Debt deu os seus primeiros passos em 2018, hoje o mercado da dívida de risco no Brasil é um pouco mais competitivo. Instituições como o BTG Pactual, a Galapagos Capital e o Silicon Valley Bank já fornecem crédito para startups no país. Aliás, este último foi um dos primeiros a trabalhar com o produto nos Estados Unidos, na década de 1980. O próprio Brasil Venture Debt anunciou em janeiro de 2022 que irá captar um novo fundo, desta vez com valor entre R$ 250 milhões e R$ 300 milhões. As empresas-alvo da gestora são startups com faturamento mensal mínimo de R$ 550 mil por mês e que já tenham recebido aporte de um investidor institucional.

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