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Conheça a trajetória de Nohoa Arcanjo, cofundadora da Creators

Conheça a trajetória de Nohoa Arcanjo, cofundadora da Creators

11 de março de 2021
9 minutos de leitura
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Artigo atualizado em 11 de março de 2021

A barreira financeira, falta de incentivo e confiança, limitação de acesso a investimento e um mercado dominado por homens são algumas das formas de obstrução na jornada de mulheres empreendedoras no ecossistema de startups. É o que evidencia o estudo Female Founders Report 2021.

Segundo o report, menos de 10% das startups brasileiras têm mulheres na sua fundação, Além disso, o que mais chama atenção são os investimentos recebidos por elas: somente 0,04% dos aportes realizados em 2020 foram destinados às startups fundadas exclusivamente por mulheres.

É possível transpor esses obstáculos e há muitos exemplos de mulheres que vêm transformando esse cenário de baixa representatividade feminina no mercado de trabalho como um todo. 

Para reafirmar a importância de igualdade no ecossistema e trazer bons exemplos de liderança feminina à frente de startups de destaque, o Distrito conversou com fundadoras e cofundadoras e apresenta uma série de artigos com suas trajetórias no mês em que é celebrado o Dia Internacional da Mulher. 

Menos de dez por cento: quem são elas?

Nohoa Arcanjo, cofundadora da Creators, faz parte dessa estatística. A residente do programa Distrito for Startups compartilha sua trajetória e seu posicionamento como profissional negra e, a partir de sua vivência como empreendedora, avalia o mercado e aconselha outras mulheres que gostariam de empreender.

Início

Nohoa iniciou sua carreira no mercado de moda, começou trabalhando em uma confecção, depois se tornou produtora de moda, produzindo editoriais para as renomadas revistas Elle e Vogue e desfiles no São Paulo Fashion Week e Fashion Rio. Mas foi atuando como assessora de imprensa que lhe despertou o desejo de trilhar novos caminhos na carreira. O trabalho desenvolvido como relações públicas a aproximou da área de marketing e, foi nesse momento que decidiu pedir transferência de curso na faculdade, investindo todas as suas fichas na nova área. 

Determinada, Nohoa traçou um objetivo para conseguir uma nova colocação. Como produtora de moda, a profissional tinha uma agenda com o contato de todas as marcas residentes em São Paulo. Foi ligando de número em número e falando de loja em loja que, ao chegar na letra T dos contatos, suas tentativas tiveram o efeito desejado. Uma oportunidade surgiu e, profissionalmente, tudo mudou. Oficialmente, era uma profissional da área de marketing. Depois de passar por alguns lugares, sua insistência a levou à joalheria e multinacional Pandora, trabalhando diretamente com Raquel Maia, ex-CEO da Pandora e a única CEO negra no país.

Para Nohoa, essa oportunidade foi um privilégio. “Eu tive um exemplo muito próximo de inclusão e pude aproveitar muito dos conselhos da Raquel e de como ela me ajudava a crescer profissionalmente para eu ocupar meu espaço. Esse período foi muito importante pra mim”. O ciclo de 5 anos se encerrou quando a profissional já atuava na coordenação da equipe, mas logo após voltar da licença maternidade, sentiu que era o momento de encarar novos desafios. 

Creators

A Creators é uma HRTech que conecta profissionais criativos, de comunicação e tecnologia a empresas inovadoras, no formato plug and play.  O convite para ser sócia veio de seu companheiro e fundador da Creators. “Depois de receber seu primeiro investimento anjo, meu marido estava prestes a fazer o rebranding da marca e tinha acabado de desfazer uma sociedade. Foi assim que decidimos juntar esforços. Ele estava precisando de uma profissional que conhecesse tudo sobre marketing, já que esse é nosso business”, conta Nohoa.

Nesse momento de virada eles decidiram se inscrever no programa de aceleração Google for Startups. “Mudou tudo, fez toda a diferença. Eu aprendi absurdamente muito, consegui trocar com outros founders, conhecer outras startups, tive mentoria com googlers de todo o mundo. Consegui aprender e pegar feedback do negócio, entender sobre business model, entender o poder do produto tecnológico, como isso é uma vantagem competitiva, como aproveitar tudo isso para acelerar o crescimento e escalar”, afirma. 

Os profissionais autônomos que querem se cadastrar na plataforma da Creators podem fazer isso gratuitamente, mas todos os inscritos passam por uma curadoria humana e são aprovados um a um. “Para todos os talentos que fazem parte da nossa rede nós oferecemos uma intermediação, formalizamos os acordos de trabalho com contratos e organizamos o fluxo de pagamento. Temos uma regra de pagamento até 30 dias após o início do projeto. Nós nos preocupamos em oferecer ao cliente a segurança de que seu trabalho será entregue, e ao talento nós oferecemos o cuidado, porque é uma categoria pouco assistida, então garantimos a segurança de ambos os lados”, explica. 

Hoje, Nohoa Arcanjo é responsável pelas áreas de Growth, Sales e PR na startup. “Além de tudo, somos uma das três primeiras startups escolhidas para receber um investimento do Google na América Latina. Eles lançaram o programa Black Founders Fund, onde investem em startups lideradas por pessoas negras”. Dentro da Creators, Nohoa preza pela diversidade, entre os nove colaboradores há diferentes grupos minoritários, inclusive pessoas transgênero. 

imagem de uma mulher sorrindo para a foto

“Não só por ser uma mulher negra na liderança, mas é minha obrigação ajudar a fomentar oportunidades para pessoas negras, o fato de termos recebido um investimento de um programa para líderes negros também traz esse compromisso”. 

Trabalhos de impacto social

Nohoa era responsável por projetos sociais na Pandora. “Lá eu implementei um projeto muito bacana e nacional. Você é incrível, é um livro de mensagens feministas que foi vendido nas lojas, mas a renda foi transferida para a Rede Mulher Empreendedora com o intuito de acelerar cinco negócios liderados por mulheres.” Para a cofundadora da Creators, esse foi o trabalho mais legal já realizado por ela no mundo corporativo. “Eu tive a oportunidade de trabalhar com a ONU Mulheres, eles ficaram responsáveis por aprovar o conteúdo, nos disseram como nós tínhamos que nos comunicar, porque não adianta só falar de mensagens positivas, é necessário trazer dados. É preciso ter responsabilidade de conteúdo para falar sobre minorias”, relembra. 

“A mensagem mais importante que aprendi com a ONU Mulheres é que a única maneira de mulheres se livrarem de relacionamentos abusivos é tendo o próprio sustento. O que de melhor podemos fazer para que, de fato, mulheres ganhem liberdade e independência, é gerar trabalho”. 

Entrevista

Quais são os planos da Creators para o futuro?

O nosso objetivo é ser reconhecida como a rede mais segura para contratações criativas de forma plug and play do mundo, com os melhores talentos, com o relacionamento mais rápido e que todo mundo recebe o pagamento no dia combinado. Como somos um marketplace, então queremos esse reconhecimento dos dois lados, que os clientes se sintam seguros contratando nossos criativos e que os talentos se sintam seguros em fechar trabalhos através da nossa rede. 

Nossa meta para 2021 é captar um investimento seed para partirmos para uma aceleração de escala e atender clientes de outros países. Estamos olhando para fora e queremos oferecer talentos brasileiros para clientes internacionais. Mas é preciso deixar claro que não queremos ser a maior rede, mas uma rede segura e com os melhores talentos. 

Como é fazer parte do Distrito for Startups?

Estar dentro do Distrito é muito legal por rolar sempre uma troca. Temos contato com mentores, orientadores e outras startups. Acho muito interessante a divisão de hubs por vertical porque estabelecemos diálogo e trocamos ideias com startups mais parecidas com o nosso trabalho e entendemos como podemos melhorar juntos. 

Cada mentoria é muito valiosa, conhecer outras soluções nos mostra como sempre podemos melhorar e evoluir. Estar dentro da comunidade do Distrito tem nos ajudado muito no crescimento da Creators. 

Como mudar o cenário de baixa representatividade de mulheres empreendedoras e projetar uma sociedade mais igualitária?

Eu tenho visto muitas iniciativas acontecendo para mudar essa desigualdade, a primeira que gostaria de citar é a B2Mamy, uma aceleradora de negócios liderados por mulheres. O que elas fazem e que me ajudou muito a conseguir empreender é formar rede de apoio. Porque quando falamos de mulheres é muito importante falarmos de mães, não que todas as mulheres sejam obrigadas a ser, mas a maioria é. E a gente sabe o quanto é difícil lidar com tudo isso. 

Outro projeto que venho acompanhando é a Wishe, um fundo que ajuda mulheres a conseguirem investimento, porque essa fase é mais difícil para as mulheres. E, por último, a BlackRocks, que acelera startups só de pessoas pretas. É muito importante que mulheres que já conseguiram transpor essas barreiras se estruturem para ajudar outras mulheres nessa trajetória.

“O dono da dor sabe o quanto dói, então é importante ter uma pessoa que de fato sabe o que você está sentindo pra te ajudar a melhorar.”

Qual foi sua maior dificuldade ao migrar para a área de tecnologia?

Não sei dizer porque eu não consigo me ver diferente por ser mulher ou ser mulher negra. Eu entendo as desvantagens disso e elas são muito claras, mas eu confesso que não me demoro muito nesse ponto. Eu priorizo focar em aprender tudo que preciso saber para chegar onde quero chegar. O que eu preciso saber? Quem pode me ensinar? Eu preciso entender de financeiro? Eu preciso falar inglês? Então não fico presa nas diferenças impostas. Não podemos jamais ignorar o problema social que existe, mas a jornada toda é sobre os seus próprios objetivos e como alcançá-los. 

Quais seus conselhos para mulheres que pretendem empreender na área de tecnologia e inovação?

O conselho que eu dou, e eu gosto muito desse conselho, não está diretamente ligado à tecnologia. Um aprendizado que entendi a importância durante minha jornada empreendedora é sobre número e dados. Como eu vim do mercado de moda e comunicação, sempre me considerei “de humanas” e pensava que exatas não era pra mim. Recentemente eu entendi que as duas áreas podem e devem andar juntas, e que uma coisa não elimina a outra. 
Eu sendo uma ótima pessoa de PR e muito comunicativa, sou responsável pela área de números, insights e dados da empresa e vejo o quanto isso faz diferença, o quanto é mais fácil tomar decisões baseada em dados. E o meu maior conselho hoje é não tenha medo dos números, eles são nossos aliados. Daqui pra frente não existe mais viver em um mundo sem análise de dados.