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Empreendedorismo feminino: como o Venture Capital impulsiona as mulheres?

Empreendedorismo feminino: como o Venture Capital impulsiona as mulheres?

9 de maio de 2024
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Artigo atualizado em 9 de maio de 2024

Nos últimos tempos, as startups comandadas por mulheres têm se destacado de forma impressionante no universo empreendedor. Contudo, apesar dos avanços, o financiamento para essas empresas ainda não é tão significativo em comparação ao mercado geral.

Neste artigo, vamos mergulhar no papel fundamental dos investimentos de Venture Capital, no crescimento e evolução do empreendedorismo feminino. Além disso, vamos explorar como eles podem impulsionar a inovação e a igualdade de gênero no mercado.

A importância da equidade de gênero no ecossistema de inovação

Para entender a relação entre Venture Capital e empreendedorismo feminino, é importante compreender onde as mulheres estão no ecossistema de inovação.

As mulheres são mais de 50% da população mundial. Mas, de acordo com uma pesquisa realizada pela Startup Genome, somente 15% das fundadoras de startups são mulheres. Na América Latina, essa média é ainda menor: 12,6%. Enquanto isso, dados do Distrito mostram que apenas apenas 4,7% das startups brasileiras foram fundadas exclusivamente por mulheres e outras 5,1% têm um time fundador misto, com pelo menos uma mulher atuante na fundação da empresa.

Inegavelmente, apesar dos avanços observados nos últimos anos, as mulheres continuam enfrentando desafios quando se trata de criar negócios e desenvolvê-los.

Ainda de acordo com o Distrito, quase 65% das empresas comandadas por mulheres surgiram só a partir de 2015. Ademais, mais de 50% das empreendedoras ainda estavam em fase de validação de produto ou início de operações em 2020.

A mesma pesquisa também identificou que 60% das empreendedoras ouvidas relataram a dificuldade em escalar seu negócio como o principal desafio enfrentado em suas jornadas. Além disso, a falta de boas conexões (44,6%) e a dificuldade em captar investimentos (38,8%) também foram questões bastante apontadas pelas entrevistadas.

Certamente, esses dados revelam que ser uma mulher empreendedora é extremamente desafiador. Por isso, falar sobre equidade de gênero é uma agenda urgente que pode (e vai) beneficiar o ecossistema de inovação como um topo.

Só para exemplificar, uma pesquisa do Boston Consulting Group (BCG) constatou que o PIB global poderia crescer entre 3% e 6% se homens e mulheres tivessem as mesmas oportunidades no empreendedorismo. Isso representa impressionantes US$ 2,5 a US$ 5 trilhões a mais para a economia global.

Além disso, a mesma pesquisa concluiu que startups fundadas por mulheres geram receitas acumuladas 10% maior que aquelas fundadas por homens em um mesmo período de cinco anos.

A relação entre Venture Capital e empreendedorismo feminino

Sob esse contexto, o mercado de Venture Capital pode desempenhar um papel transformador no mundo do empreendedorismo feminino. Isso porque empoderar mulheres nesse contexto é essencial para ajudá-las a superarem obstáculos e alcançarem o sucesso com seus negócios.

O investimento em startups lideradas por mulheres não apenas impulsiona a economia, mas também promove a diversidade e a inclusão no ecossistema empreendedor. Com mais mulheres recebendo apoio financeiro, novas ideias e soluções inovadoras podem surgir, beneficiando não apenas as empreendedoras, mas toda a sociedade.

Em 2020, infelizmente apenas 0,04% dos mais de US$ 3,5 bilhões aportados no mercado brasileiro de inovação foram para femtechs. Quando olhamos para o mundo todo, essa participação foi de 2% em 2022 e 3% em 2023, segundo o Fórum Econômico Mundial (FMI). Isso é reflexo também da falta de diversidade de gênero entre os fundos de Venture Capital: ainda de acordo com o FMI, apenas 15% das pessoas que assinam os cheques de investimento são mulheres.

Por isso, o investimento em Venture Capital tem um impacto significativo no crescimento e desenvolvimento de negócios liderados por mulheres. Ele permite que essas empresas tenham acesso a recursos e suporte necessários para escalar seus negócios.

Além disso, é importante ressaltar que o mercado de Venture Capital não se limita apenas à injeção de capital financeiro nas empresas. Ele também traz consigo uma vasta rede de contatos e expertise que podem ser fundamentais para o sucesso e expansão dos negócios liderados por mulheres. Essa rede de apoio muitas vezes inclui mentorias, conexões com outros empreendedores e investidores, além de conhecimentos estratégicos que podem impulsionar o crescimento das empresas de forma exponencial.

Para mudar essa realidade, algumas iniciativas, como a Female Force Latam, estão emergindo como grandes catalisadoras dessa transformação.

Sobre a Female Force Latam

A Female Force Latam é uma comunidade que existe desde 2019 voltada para mulheres empreendedoras em startups de tecnologia.

A organização foi criada com o propósito de melhorar o cenário de investimentos em empresas fundadas por mulheres e transformar o mercado brasileiro de empreendedorismo feminino. Para isso, realiza um programa anual e gratuito feito exclusivamente para mulheres que desejam captar investimento para suas startups. Assim, o programa fortalece conexões, realiza mentorias e apoia as empreendedoras na preparação para sua jornada de captação.

Desde o início de sua operação, a Female Force Latam apoiou mais de 64 mulheres que captaram mais de R$ 25 milhões para suas startups.

Como o Venture Capital pode impulsionar o empreendedorismo feminino?

Para entender como o mercado de Venture Capital é uma força motriz para o crescimento do empreendedorismo feminino, conversamos com a Fernanda Caloi, General Manager da Latitud. Confira!

Como você descreveria o atual panorama de investimentos nas femtechs?

Nos últimos anos, surgiram iniciativas sérias de fomento a mulheres empreendedoras sob a lente de captação de investimento. Vimos um aumento global no número de mulheres em posições de liderança em fundos de Venture Capital e mais dinheiro para essas firmas. Cerca de 3% do capital levantado foi para tais firmas em 2023, ante 2% em 2022. Há um tímido crescimento, e o caminho ainda é longo. Mas vamos continuar buscando os caminhos, pois mais capital para esse tipo de investidores irá também impulsionar os investimentos em femtechs. E com os casos de sucesso aparecendo e ganhando mais maturidade, frutos começam a surgir em novos ciclos das empreendedoras e das próprias startups.

Como o investimento em femtechs impulsiona positivamente o mercado de Venture Capital?

Explorar grandes mercados é a base para startups em busca de escala, justamente as que mais atraem fundos de Venture Capital por conta do potencial de múltiplo de retorno sobre o investimento (MOIC).

Oferecer melhores soluções para a saúde e sexualidade feminina pode parecer um nicho à primeira vista, mas estamos falando da maioria da população em diversos países, como o próprio Brasil. Esse potencial só fica ainda maior quando vemos uma população em processo geral de envelhecimento aliada à uma preocupação crescente com a saúde física e mental.

Esses mercados não devem ser apenas grandes, mas também apresentar grandes dores e carecer de soluções efetivas. É o que vemos na saúde em geral, mas mais ainda em femtech. Existe um potencial enorme em de fato escutar essa parcela da população, através de diversos estratos culturais, financeiros e sociais, e elaborar soluções melhores em áreas como bem-estar físico, bem-estar sexual, menstruação, contracepção, fertilidade, saúde mamária e uterina, saúde hormonal, saúde mental, saúde do sono, saúde dos ossos, saúde do envelhecimento e tantas outras.

Qual é a sua visão para o futuro do investimento em femtechs na América Latina? Que tipo de impacto você acredita que as femtechs podem ter na sociedade?

Ao trabalhar problemas que antes podiam ser considerados invisíveis (por exemplo, questões de sexualidade, fertilidade e envelhecimento próprias das mulheres, como a menopausa), estamos dando chance a uma parte da população que nunca teve acesso a um serviço especializado de poder lidar com questões que impactam sua vida de forma permanente.

Dessa forma, estamos criando movimentos de mudança. Toda uma geração pode ser impactada por uma questão resolvida com sucesso por uma femtech. Devemos celebrar, apoiar e dar mais luz à mulheres à frente de femtechs resolvendo problemas que antes não eram relevantes, pois o principal decisor de investimento sempre foi um homem.

Sabemos que as mulheres empreendedoras muitas vezes enfrentam desafios adicionais ao buscar financiamento. Quais são os principais obstáculos que você vê que as fundadoras enfrentam nesse processo e como podemos mitigá-los?

O principal obstáculo é enfrentar tanto o viés inconsciente do outro lado (que já espera que um fundador bem sucedido de uma startup seja um homem), quanto a sua própria autoestima e confiança de que você é a pessoa certa para executar aquela tarefa.

Muitas mulheres têm dificuldade com esse tópico. Isso porque, no geral, fomos criadas para sermos “modestas, discretas, não chamar muita atenção, ser grandes apoiadoras e servidoras dos outros, seja o filho, marido, o pai, o chefe…” mas não para liderar um movimento.

A maioria das mulheres têm muita dificuldade em se sentir à vontade numa posição de destaque e liderança (que homens ocupam com facilidade, mesmo quando tem pouca qualificação) simplesmente porque a vida toda ouviram que não é o papel delas (ouviram de suas famílias, de seu superiores, das propagandas na TV e da sociedade como um todo).

Mitigar esses obstáculos é um trabalho geracional, onde uma puxa a outra, onde devemos ter cada vez mais exemplos para nos inspirar. Com isso, a aliança entre mentoras e “patrocinadoras” (da palavra sponsor, em inglês) nos faz acreditar que podemos fazer aquele negócio dar certo. Recomendo o workshop I am Remarkable (disponível online) para quem quer começar a trabalhar essa autoconfiança e também desenvolver uma rede de apoio para os momentos mais difíceis.

Por fim, para mulheres que estão começando a empreender agora, quais conselhos você daria?

Tenha muito claro aonde você quer chegar, e saiba que vender a sua visão sobre o problema que você está resolvendo é um trabalho “full time”. As pessoas fundadoras de startup não param nunca de performar dois trabalhos: recrutamento e captação.

Você está “always hiring” e “always raising”, porque nunca se sabe quando ou onde você vai encontrar a próxima candidata a uma vaga chave no seu time, ou a próxima investidora no seu captable. Normalmente o momento mais importante de performar bem ambos esses trabalhos é quando você não está precisando deles, então esteja sempre atenta às oportunidades e construindo sua rede intencionalmente