Brechó de luxo: plataformas de compra e venda de itens de prime usados ganham popularidade
Artigo atualizado em 1 de outubro de 2021
Para a geração Millennial e Z, frequentar brechós já se tornou uma atividade corriqueira. A necessidade de se manter sempre a par das tendências de moda, por mais voláteis e efêmeras que possam ser, fez com que alternativas mais baratas para aquisição de roupas e acessórios se popularizassem. Paralelamente, a ideia de ir em busca de peças atemporais e que tenham qualidade para perdurar durante anos também está crescendo junto ao movimento slow fashion. Quando se une essas duas tendências — a de busca por alternativas mais baratas de compra de roupas e a necessidade de ter peças que apresentem qualidade elevada — nasce um mercado ainda pouco explorado, o brechó de luxo.
As plataformas de venda de itens de luxo de segunda mão são consequências de duas crises comuns entre os jovens com menos de 35 anos: crise financeira e crise ética. Apesar de serem atualmente a população com maior número populacional, os Millennials são considerados os com menos recursos financeiros da história. Paralelamente, os movimentos ambientais e éticos que estão forçando mudanças políticas são encabeçados por jovens da geração Z, em sua maioria.
O brechó de luxo veio como uma solução que atende simultaneamente ambas dores. Por ofertarem produtos de segunda mão, o preço obviamente é negociado por um valor muito menor do que o encontrado em lojas originais ou revendedores autorizados. Ao mesmo tempo, a reutilização desses itens que poderiam ir para o lixo desacelera a necessidade de financiar a cadeia de lojas fast fashion, que comprovadamente é uma das indústrias mais poluentes.
Esse movimento de revenda de itens de luxo já está em alta pelo mundo. Segundo pesquisa da Luxe Digital, brechós de luxo representam um mercado de US$ 24 milhões, e cresce três vezes mais rápido que o mercado de luxo de primeira mão. Na América do Norte, empresas como The Real Real já se consolidaram entre o público alvo, e competem em pé de igualdade com varejistas tradicionais do setor fashion.
Aqui no Brasil, o mercado ainda é pouco explorado — o que não significa que não haja potencial de crescimento. A CanseiVendi, maior site de revenda de itens de luxo do país, cresceu 80% no último ano, alcançando 10 mil clientes, e aposta na democratização da alta costura com artigos de grife de segunda mão e produtos sustentáveis novos. Leilane Sabatini, fundadora da empresa, nos conta em entrevista como ela enxerga o mercado de brechós de luxo no país.
Como foi o processo de transformação da CanseiVendi, de empreendimento solo para startup de varejo? Qual foi o maior desafio que você encontrou na jornada?
A Cansei Vendi começou como um hobby pessoal meu, comecei a operação sozinha. De 2013 a 2017 era um negócio bem amador porque eu tinha como atividade principal a minha profissão como trader, e apenas quando eu realmente decidi pegar minha carreira para profissionalizar a empresa que ela efetivamente virou uma startup do varejo, com métricas, planejamento, investimentos, etc .
Todos produtos comercializados na CanseiVendi passam por um processo de verificação de autenticidade. Como foi a procura de mão de obra especializada para essa atividade? E como funciona a logística por trás dessa operação?
Nós desenvolvemos uma metodologia de avaliação interna e treinamos os profissionais para essa posição. Não existe no Brasil uma mão de obra já qualificada para esse tipo de trabalho, então qualificamos in house. Todos os produtos são avaliados pessoalmente e ficam consignados conosco.
Podemos observar uma grande tendência liderada pelos Millennials e GenZ de adotar o slow fashion, e priorizar produtos de melhor qualidade para que possam durar mais tempo. Essa tendência já chegou no mercado de brechó de luxo? Atualmente, qual é o público-alvo da marca?
Sem sombras de dúvidas a Geração Z é um público muito relevante no mercado second hand de luxo, principalmente de itens vintage exclusivos. Mas vale lembrar que quem tem esses itens para vender são os boomers e geração Y. Ou seja, nosso mercado é de todos.
Paralelamente à tendência de comprar seminovos, temos também a trend de valorizar produtores locais que também buscam utilizar mão de obra ética e materiais mais ecológicos. Você acha que esses são movimentos opostos? Ou você acredita que há a possibilidade de marcas nacionais de bolsas e acessórios chegarem ao patamar de alto luxo?
O slow fashion está muito alinhado com o conceito por trás do consumo de usados, principalmente usados de luxo, que já tem um processo de fabricação mais cuidadoso e em menor escala. O consumo circular tem como premissa fomentar o reuso e diminuir os impactos de uma produção desenfreada, e o slow fashion tem esse mesmo objetivo. Então com certeza tem tudo para convergir.
Como você enxerga o futuro do varejo high-fashion no Brasil? Você acredita que a valorização do dólar vai impactar o consumo de grandes marcas de luxo internacionais?
Sim, já impactou. Podemos facilmente notar o aumento de preços dos itens de luxo no mercado, e impactou também (positivamente) o mercado de usados, uma vez que os itens que hoje estão em circulação pela segunda, terceira ou mais vezes, foram adquiridos em outro patamar cambial, então se tornam uma oportunidade de compra.
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