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Bexs Banco e a internacionalização dos investimentos de risco

Bexs Banco e a internacionalização dos investimentos de risco

30 de junho de 2022
10 minutos de leitura
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Artigo atualizado em 30 de junho de 2022

Luiz Henrique Didier Jr., CEO do Bexs Banco, fala sobre o aumento da participação de investidores estrangeiros na América Latina e no Brasil nos últimos anos

Nos últimos anos, a participação dos investidores estrangeiros cresceu consideravelmente no mercado de inovação latino-americano, sobretudo no Brasil.

Em 2017, cerca de 20% dos aportes em nossas startups contaram com a contribuição de investidores internacionais, número que subiu para mais de 33% em 2021.

A partir de 2018, grandes gestoras globais começaram a enxergar no Brasil um terreno fértil para negócios inovadores, especialmente nos setores imobiliário e de finanças. Isso por causa da enorme massa de pessoas sem conta em banco ou acesso a serviços financeiros, e também da relativa falta de estrutura da indústria de real estate em nosso país.

Assim é que, em 2021, o volume de capital de risco aplicado na indústria brasileira de tecnologia chegou a 0,63% do PIB, porcentagem bastante próxima à atingida nos Estados Unidos em 2019, ainda que em uma escala incomparavelmente menor.

Luiz Henrique Didier Jr. falou sobre essa mudança de cenário em uma entrevista publicada no relatório de investimento estrangeiro na América Latina e reproduzida logo abaixo.

Luiz Henrique é o atual CEO do Bexs Banco, líder em pagamentos internacionais no Brasil e que atende nomes como Avenue Securities, Tiktok, B2W e OpenSolo.

Combinando tecnologia e know-how regulatório, o Bexs oferece soluções de câmbio by design para operações complexas, como investimentos de venture capital, pagamento e recebimento de serviços, reestruturações societárias envolvendo parte estrangeira e planos de stock options com instituições no exterior.

Investidores estrangeiros no Brasil

Em 2018, cerca de 76,7% das rodadas de investimento em startups brasileiras foram compostas apenas de investidores brasileiros. Em 2021, essa participação caiu para 66,7% (33,3% das rodadas tiveram investidores estrangeiros), motivada pelo aumento considerável de investidores estrangeiros que apostaram no ecossistema de inovação brasileiro.

Quais os principais fatores que você acredita que levaram tantos estrangeiros a investir no Brasil no ano passado? 

O Brasil está no contexto da América Latina, que possui um mercado consumidor considerável. São aproximadamente 650 milhões de pessoas, e os brasileiros representam um terço da população da região. O PIB latino-americano é superior ao de regiões como o sudeste asiático, que já contava com um ecossistema de venture capital mais maduro. Nos 33 países que integram o continente, encontramos problemas estruturais de educação, saúde e sistemas financeiros que não atendem às respectivas populações. As empresas de tecnologia querem resolver grandes problemas e, consequentemente, encontrar escala para as suas soluções. A América do Sul é a região onde existem essas oportunidades.

O mercado de inovação latino-americano se desenvolveu prioritariamente nos locais mais focados no early stage, fomentando os primeiros passos das startups na região. Com o passar dos anos, o ecossistema deu sinais de amadurecimento. Algumas startups chamaram a atenção de investidores globais. Prova disso é que, só em 2021, no Brasil, com uma economia que responde por 30% do PIB do continente, conhecemos dez novos unicórnios, praticamente 50% do total do país, mas em um só ano. Os números de toda a região comprovam que 2021 foi muito especial. Os fundos de venture capital levantaram US$ 14,8 bilhões em 772 deals (PitchBook), um valor superior à soma dos seis anos anteriores.

Grandes players internacionais, como Softbank, Tiger Global, D1, DST e Coatue Management reconheceram esses sinais promissores e sabem que o Brasil é a maior economia e principal porta de entrada da região. Ecossistemas mais maduros, como o dos Estados Unidos e da Europa, têm concorrência mais acirrada por bons projetos e valuations em patamares mais altos. Com esse cenário, a América Latina, e em especial o Brasil, consolidaram-se como uma oportunidade de diversificação de portfólio.

Especificamente no Brasil, em 2021 o setor de fintechs também explica o ingresso mais robusto de investimentos. As startups de finanças foram o segmento que mais recebeu recursos: foram US$ 3,7 bilhões, ou 40% do volume total investido no ecossistema de tecnologia do país nesse ano. As mais de 1,2 mil startups do setor trazem soluções com forte viés digital e de aprimoramento do customer experience (CX). Produtos mais simples e “mobile first” se destacam num mercado concentrado, no qual pouco mais de 30% da população têm cartão de crédito. O Brasil ainda conta com 40 milhões de pessoas desbancarizadas ou com acesso precário a serviços financeiros. Ou seja, um mercado com problemas latentes e consumidores desassistidos é um prato cheio para empresas que possuem a capacidade de inovar. 

Diante disso, acreditamos que os grandes números dos mercados latino-americano e brasileiro, somados ao amadurecimento dos projetos locais, são as duas grandes causas da atração de investimentos estrangeiros.

Por que a América Latina

Dados preliminares de 2022 mostram que cerca de 38% de todas as rodadas no ano tiveram algum investidor estrangeiro, sendo 14,61% compostas exclusivamente por eles.

Mesmo com o desenvolvimento do ecossistema brasileiro de inovação, com cada vez mais empresas brasileiras lançando projetos de corporate venture capital e veículos nacionais de investimentos em startups sendo criados, é natural que a participação de estrangeiros se torne mais e mais relevante? 

É natural que as empresas de investimentos de alcance global busquem alternativas fora dos circuitos maduros do hemisfério norte, como já comentamos. Ainda, os investidores estrangeiros também têm mais acesso a recursos de crédito e instrumentos específicos para investimentos de risco. O segundo aspecto que devemos observar é que essa onda de investimentos mais representativos no Brasil é muito recente.

No Brasil, em relação aos números de deals de operações mais robustas, de série C à G, tivemos 44 transações em 2021, acima dos 38 deals dos três anos anteriores somados (2018, 2019 e 2020 – Distrito). O mercado brasileiro, até poucos anos atrás, apresentava um número errático de operações late-stage. Estamos apenas no início do processo de ingresso de aportes de valores maiores, justamente aqueles com mais participação de VCs estrangeiros. Os números também mostram que os aportes que contaram apenas com players locais cresceram em 2021. O que ocorreu é que os investidores globais não querem mais ficar distantes do Brasil e da América Latina, e, comparativamente, aumentaram sua participação. Historicamente, esses investidores têm um horizonte de médio a longo prazo, e, uma vez estabelecidos aqui, vão manter o foco.

Paralelamente, enfrentamos um cenário macroeconômico desafiador. A inflação afeta as principais economias do mundo, os bancos centrais estão recalibrando os juros e as empresas de tecnologia sofrem redução no valuation pré-IPO. Até esse início de maio, o índice NASDAQ apresentava queda superior a 20%. Uma das alternativas que o capital estrangeiro pode buscar é o ingresso via negociações early-stage. Nessas operações, os valuations estão em patamares preliminares. O ano de 2022 tem um componente de correção dos valuations e do porte de investimentos, mas há alternativas para contornar esse quadro.

Finalmente, o Brasil tem empresas de tecnologia bem posicionadas para prosseguir com o crescimento. Como o próprio estudo “Corrida Dos Unicórnios” do Distrito mostrou, temos sérios candidatos ao posto: Alice, Omie, PetLove, Descomplica, Shopper etc. Essas empresas têm o potencial de se expandir pelo continente, aumentando a escala. Os investidores internacionais reconhecem esse conjunto de oportunidades que, somadas à qualidade dos projetos de inovação do país, torna o crescimento do fluxo natural.

Um ambiente favorável à inovação

Quais são os principais fatores que podem atrair cada vez mais capital para o Brasil? E quais os principais benefícios dessa entrada?

Os investidores internacionais vão observar como a economia do país está se desenvolvendo e se estamos adotando medidas que suportam a inovação, a criação e o desenvolvimento das empresas. Em especial, no Brasil, tivemos no passado algumas reformas importantes, como a trabalhista e a da previdência. Mesmo não atendendo toda a expectativa gerada, elas trouxeram algumas melhorias relevantes. 

Também tivemos a formalização da autonomia do Banco Central, que garante que essa instituição se pautará mais por políticas de estado e de longo prazo e estará menos sujeita às pressões de governos.

Finalmente, quando falamos em atrair capital estrangeiro para o Brasil, temos que tocar em dois assuntos que têm influência direta: tributação e câmbio. Com relação à tributação, acreditamos que a grande questão está relacionada às alterações na lei do Imposto de Renda, que poderão tornar as empresas brasileiras mais ou menos atrativas. Já sobre o câmbio, o Banco Central do Brasil tem desempenhado um papel muito relevante na modernização da nossa economia. A agenda BC#, um conjunto de iniciativas de impacto e modernização do mercado financeiro, tem, nos últimos anos, trazido muita inovação, como o PIX e o open finance. Agora, estamos aguardando o aperfeiçoamento das normas relacionadas ao câmbio, pois com o Novo Marco Legal do Câmbio, ficou sob a responsabilidade do Banco Central regulamentar as diretrizes trazidas no final do ano passado por essa nova lei.

Mudanças na legislação cambial

Como as mudanças regulatórias no mercado de câmbio podem acelerar essa entrada de capitais?

Estamos em um momento muito propício para falar desse assunto, pois tanto o poder legislativo como o próprio Banco Central estão trilhando o caminho para modernizar nossa legislação cambial. 

Em setembro do ano passado, o Banco Central alterou a principal norma de câmbio a fim de fazer mudanças que se mostravam muito necessárias, como, por exemplo, permitir que a liquidação do câmbio pudesse ocorrer em contas de pagamento, pois no passado essa liquidação somente poderia acontecer em conta de cliente em banco comercial. Além dessa adequação da norma à realidade, outras novidades foram apresentadas, como a possibilidade de abertura de conta de pagamento pré-paga para não residentes e a possibilidade das instituições de pagamento, a partir de setembro de 2022, também poderem solicitar autorização perante o Banco Central para operarem no mercado de câmbio.

No final de dezembro de 2021, a Lei 14386, que ficou conhecida como o Novo Marco Legal do Câmbio, revogou e alterou mais de trinta normas diferentes, muitas inclusive das décadas de 40, 50 e 60 do século passado! Pelo texto da norma, é possível depreender que a intenção é simplificar a regulamentação do câmbio, sinalização que o Banco Central já deu em alguns eventos posteriores ao Novo Marco Legal, em que mencionou que será publicado um edital de consulta pública para que todos os players do mercado possam analisar o texto, elaborar seus comentários e enviá-los ao Banco Central. A nova norma deve entrar em vigor até o fim deste ano de 2022.

Portanto, aguardamos ansiosamente esse novo normativo. Acreditamos que a autarquia está atenta à simplificação de alguns processos, como os de registro de capital estrangeiro no país, seja pelos sistemas RDE-IED ou RDE-ROF, e a uma maior flexibilidade para a realização das operações de câmbio por canais digitais, a fim de permitir que a tecnologia torne o câmbio um assunto não tão receoso para todos, fazendo inclusive com que mais estrangeiros tenham acesso ao que o Brasil e os brasileiros podem oferecer de melhor.



https://distrito.me/blog/venture-capital-no-brasil/