4 tendências que transformarão o mercado financeiro, segundo o Fintech Summit 2024
Artigo atualizado em 11 de março de 2024
O Fintech Summit 2024 reuniu, no BTG Pactual, em São Paulo, mais de 14 experts no mercado financeiro, que trouxeram reflexões acerca da força da IA nos serviços financeiros, do protagonismo do Brasil com o DREx e tokenização, da expectativa de Venture Capital para fintechs, do Open Finance, e das oportunidades e riscos do mercado atual. Saiba mais!
Na última sexta-feira (8), o BTG Pactual sediou o Fintech Summit 2024. Correalizado em parceria com o Distrito, o evento trouxe os principais nomes do mercado financeiro para discutir as oportunidades no setor.
E oportunidades realmente não faltam: de acordo com dados do Distrito, as fintechs são 13% das startups da América Latina. Apesar disso, elas recebem quase 40% de todos os investimentos de risco na região, o que representa quase US$ 16 bilhões.
Ademais, elas também dominam o cenário de unicórnios da região, de forma que 19, dos 45 unicórnios latino-americanos, são fintechs.
Para Gustavo Gierun, CEO do Distrito, isso demonstra que há ainda muito terreno a ser explorado pelas fintechs, principalmente levando em consideração que 18% da população da América Latina não tem conta no banco.
Esse cenário traz consigo algumas tendências que estão revolucionando o mercado de fintechs. Conheça algumas abaixo!
Inteligência artificial é uma grande aliada no combate à fraude
A inteligência artificial (IA) veio para ficar e já provou que é uma forte aliada para o mercado, incluindo o financeiro.
Seja para gerar o desenvolvimento de softwares ou sintetizar dados, a IA é uma importante ferramenta para tornar os processos mais ágeis, personalizados e eficientes.
E dentre as diferentes formas de utilização dessa tecnologia, uma tem feito os olhos bancários brilharem: a prevenção e o combate à fraude.
De acordo com uma pesquisa da Visa, o Brasil é o 2º país que mais sofre com fraudes no mundo, com um índice de riscos de 14,24%, ficando atrás somente da China, onde o risco é de 14,93%.
Rafaela Helbing, CEO da Data Rudder, explica: “Nós somos muito bons em muita coisa e somos muito bons em tecnologia. Acontece que quem vai fazer fraudes também usa a tecnologia e IA. Isso, somado com os problemas sociais do Brasil, faz com que nós sejamos um dos países com mais fraudes do mundo”.
Porém, nem tudo está perdido. Devido à sua capacidade de lidar com um grande volume de dados, a inteligência artificial consegue identificar padrões de uso e consumo dos usuários, facilitando a identificação de fraudes e ajudando a combatê-los.
Como resultado, a IA pode ajudar a identificar as redes de contas bancárias “de passagem” (para onde o dinheiro é transferido antes de ser repassado) e mitigá-las.
Fabio Camara, CEO da FCamara, destaca que, em um futuro próximo, as soluções antifraudes também devem ser utilizadas a fim de gerar valor para o cliente. Visão essa também compartilhada por Semi Kim, senior fintech business development manager da AWS.
“Enxergo, para um futuro próximo, a multiplicação de soluções de antifraude para o mercado financeiro. E é aquilo, IA veio para ficar, você pode falar ‘estou bem como estou’ ou pode se destacar a aproveitar a onda”, finaliza.
Mudanças na regulação estão impulsionando a tokenização no mercado financeiro
“O Banco Central é uma grande startup”. Foi assim que André Portilho, head digital assets do BTG Pactual, definiu a autarquia federal. Isso porque a agenda do órgão está cada dia mais voltada para a tecnologia e inovação. Prova disso é o sucesso do Pix, que já se tornou o meio de pagamentos preferido dos brasileiros.
Por certo, o fato da agenda do Banco Central e da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) estarem voltadas para a inovação, favorece a criação de soluções tecnológicas para os problemas vividos pelo mercado financeiro.
Um exemplo disso reside no avanço do blockchain e da tokenização. Com a criação do DREx, o Banco Central fomenta o uso de uma tecnologia promissora para baratear os custos e agilizar os processos. “A regulação já está bem encaminhada e seguindo os passos de países mais avançados, como Alemanha e Suíça”, explica Nicole Dyskant, advisor da Fireblocks. Para Roberto Dagnoni, CEO 2TM do Mercado Bitcoin, no futuro, podemos esperar que grande parte dos ativos estejam on chain, principalmente no varejo, foco atual do Banco Central.
“A janela de oportunidade é muito boa. E quando olhamos para o passado, às vezes não dura muito. Então temos que aproveitar essa janela a nosso favor. Assim, para quem não está prestando atenção nesse mundo de DREx e blockchain, comecem a prestar atenção, pois tem muita oportunidade.”, encerra Portilho.
O mercado financeiro precisa pensar o Open Finance sob um novo paradigma
O debate sobre o Open Finance não ficou de fora do Fintech Summit 2024. Isso porque o Open Finance não só amplia a confiança das pessoas devido à dificuldade de fraudar dados, como também otimiza diversos processos e análises próprias do mercado.
“Antes, o mercado analisava fotos em baixa resolução. Agora [com o Open Finance] vê um filme em 8k”, compara Fernando Steler, CEO da DeLend.
E nesse momento, a IA entra como uma enorme aliada, já que é praticamente impossível pensar na análise de muitos dados sem IA.
Para Steler, a inteligência artificial muda a regra do jogo no mercado financeiro e torna o Open Finance bem mais ágil, fazendo com que os contratos se tornem smart contracts dinâmicos.
Porém, para maximizar as oportunidades geradas pelo open Finance e inteligência artificial, é imprescindível pensar na regulamentação da IA. “A regulamentação é fundamental para que a gente consiga equilibrar, se adequar e mitigar o risco”, completa Leonardo Santos, CEO e confundador da Semantix.
Outro desafio reside na baixa adesão ao Open Finance. Bruno Chan, cofundador da Klavi, relembra que quase 75% das pessoas que aderiram ao Open Finance não renovam. “Na tese é lindo, mas na prática estamos vendo pouca tração. Ou a pessoa não entendeu o benefício, ou a empresa não consegue dar bons benefícios”, completa.
De acordo com Steler, essa baixa adesão é reflexo de um paradigma ultrapassado. “Pegaram uma tecnologia nova com um paradigma antigo. Não estão criando produtos com base na tecnologia nova, mas, sim, voltando para a prancheta”.
Por isso, para que o Open Finance continue prosperando, é necessária uma mudança de paradigma urgente e temos o cenário ideal para isso “estamos em um momento único, pois temos IA, Open Finance forte, regulamentação e Banco Central do nosso lado”, finaliza.
Infraestrutura tecnológica, IA e inclusão financeira são as bolas da vez
Tantas movimentações tecnológicas no mercado financeiro têm animado o mercado de Venture Capital na América Latina. Especificamente no Brasil, a atuação do Banco Central em prol da inovação acaba acelerando o desenvolvimento de soluções tecnológicas financeiras na região.
“O Pix é um ótimo exemplo de como um órgão regulador consegue inovar no mercado financeiro”, exemplifica Thaisa Miyazaki, senior associate da Kaszek.
Marco Camhaji, cofundador e managing partner da Upload, compartilha essa visão e defende que as iniciativas do Banco Central, no Brasil, fazem toda a diferença para o fomento da inovação em terras tupiniquins.
“Na Colômbia, por exemplo, o governo está tentando emplacar o real time payment, mas não tem o mesmo entusiasmo. O Brasil está na vanguarda e é um grande case na região.”, completa.
As dinâmicas específicas do ecossistema brasileiro de inovação estão deixando os fundos “cautelosamente otimistas”, como chamou Miyazaki. Por isso, para a investidora, há muito espaço para empresas de infraestrutura tecnológica para o mercado financeiro, como o caso da Pismo, único unicórnio latino-americano de 2023. Há também muitas oportunidades para soluções de inclusão financeira para além do Pix e bancarização, como IA para ajudar as pessoas a investirem, por exemplo.
Gabriela Lima, VC director do BTG Pactual, também vê muito potencial nas soluções financeiras que usam IA pensando no cliente final, como no combate à fraude.
Já Camhaji acrescenta que a indústria de pagamentos parece estar muito aberta para a disrupção, portanto, soluções voltadas para pagamentos e usabilidade estão sob os holofotes. Porém, adiciona: “dependendo da indústria, podem existir muitos desafios. Como a indústria de crédito, por exemplo, que nesse momento parece ter uma dor maior”.
Todavia, tais desafios não significam a falta de acesso ao capital. “As empresas precisam ter o foco de construir uma empresa que de fato gere valor para o cliente na ponta, com bom economics, bom time e bom produto. Assim, terão o funding como consequência.”, conclui Miyazaki no Fintech Summit 2024.