Comunidade de inovação: importância para o ecossistema de empreendedorismo
Artigo atualizado em 1 de abril de 2020
Segundo Josh Linkner, empreendedor, professor de autor do best-seller “Disciplined Dreaming: A Proven System to Drive Breakthrough Creativity” (“Disciplina criativa: um sistema comprovado para conduzir à criatividade disruptiva”, sem tradução em português), a maioria das empresas não consegue destravar seus recursos mais valiosos: a criatividade humana, a imaginação e o pensamento original. Isso porque falta a elas uma abordagem sistemática para construir uma cultura e comunidade de inovação.
Mas como é possível acessar esse tipo de criatividade em estado bruto? A verdade é que estamos altamente conectados digitalmente, mas isso também significa que é provável que nos encerremos na nossa bolha, em uma comunidade de pessoas cujas experiências são muito semelhantes às nossas e não são, assim, tão originais.
Então, onde encontrar diversidade, inovação e troca de ideias criativas? A resposta pode ser se juntar a uma comunidade de inovação. Neste artigo, vamos explorar esse conceito a fundo: o que é, para que serve, sua importância, os benefícios que oferece e o que startups e empresas podem encontrar nelas. Acompanhe!
O que é uma comunidade?
Antes de falarmos de comunidade de inovação, vamos dar um passo para trás e entender melhor o conceito de comunidade. Não se trata apenas de um grupo de pessoas. Criá-la é mais complexo do que isso: requer planejamento e a adoção de uma estratégia de engajamento.
É preciso, portanto, ter um propósito, ou seja, os membros daquele grupo estão ali com o objetivo de perseguir aquele objetivo. Conhecemos várias comunidades que deixam seus propósitos bem claros. Pense no LinkedIn, por exemplo: “O lugar para encontrar e ser encontrado”.
É isso que fazemos ali, não é? Procuramos relações, quase sempre profissionais. Há muito tempo deixou de ser uma espécie de banco de currículos online para ser uma rede de relacionamento: você segue as pessoas e empresas que interessam a você, encontra pessoas que podem ser relevantes para o que está buscando para a sua carreira ou negócio e o contrário também é verdade.
Vamos combinar que esse conceito faz parte da história da humanidade desde a Antiguidade. Sócrates se reunia com seus discípulos na Ágora, ou seja, na praça central de Atenas. Outros filósofos e aprendizes estavam ali, todos com o mesmo propósito: apresentar suas ideias, ouvir as ideias dos outros e construir novas ideias a partir disso.
Comunidade de inovação
Voltando para o presente (e também para o futuro), uma comunidade de inovação se insere perfeitamente nesse cenário. Envolve um grupo de pessoas com conhecimentos e experiências diversas que se reúnem para trocar ideias, falar sobre os problemas que precisam solucionar e contar sobre novos recursos em espírito de colaboração.
Partindo do princípio de que o todo é maior do que a soma das partes, os membros de uma comunidade de inovação procuram ajudar uns aos outros, contribuindo para elevar as conquistas a novos patamares e inspirando novas ideias às quais uma pessoa (ou equipe) sozinha não conseguiria chegar.
Enquanto algumas organizações buscam montar uma comunidade de inovação entre seus próprios colaboradores internos, e outras estimulam o feedback de seus clientes, existe uma tendência de vermos empresas variadas, de setores distintos, colaborando para atingir novas metas.
Vale mencionar ainda que o conceito de comunidade é mais amplo do que o de um hub de inovação, ou seja, é mais do que um espaço físico com startups, empresas e investidores. O hub de inovação pode fazer parte (e muitas vezes faz mesmo) da comunidade de inovação, mas estamos falando mais de algo que também pode envolver outros atores, como pesquisadores, universidades e até órgãos governamentais.
Não existe um modelo fechado de comunidade de inovação, mas a ideia é que seja um espaço pensado para promover a inovação, com programas e eventos voltados para o tema e com uma postura colaborativa.
Qual a importância de uma comunidade de inovação?
O conceito de comunidade de inovação está ligado também ao de open innovation, ou seja, a percepção de que nem todas as mentes mais brilhantes estão dentro da sua empresa. A visão de alguém de fora, com outras experiências, pode ser muito útil para encontrar uma resposta inovadora para um problema que você quer solucionar.
Assim, colocando diversas startups e empresas fisicamente no mesmo lugar, com esse mindset, cria-se um ambiente voltado para a inovação, com uma diversidade maior de profissionais do que qualquer empresa sozinha conseguiria ter, mesmo quando pensamos nas grandes corporações.
Pense, por exemplo, em uma empresa da indústria automobilística. Por mais que ela tenha seus designers, seu time de marketing, de vendas, ela nunca vai contar com um profissional da indústria da moda na sua equipe. No entanto, essa pessoa sabe como ninguém como lidar com os desejos das pessoas, suas aspirações e outros aspectos do comportamento do consumidor que podem ser muito úteis para quem quer vender automóveis.
Para que serve uma comunidade de inovação e como funciona?
Estar em uma comunidade de inovação pode trazer uma série de benefícios. Acompanhe abaixo.
Fornece novas perspectivas
Quanto mais possibilidades seu time colocar na mesa, maior é a chance de criar uma ideia que vá ao encontro de um número maior de pessoas.
Essa é uma das maiores forças de uma comunidade de inovação: reúne uma grande variedade de pessoas com diferentes históricos, perspectivas e expertise em um único espaço desenhado especialmente para a inovação. Essa é uma combinação ideal para gerar ideias inovadoras.
Aumenta os seus recursos
Encontrar colaboradores qualificados não é uma tarefa fácil. Ao mesmo tempo, a evolução tecnológica e as mudanças no mercado de trabalho exigem que a empresa tenha profissionais cada vez mais criativos e inovadores, que dominem um conjunto altamente especializado de habilidades.
O problema, como já apontamos, é que nenhuma empresa sozinha consegue empregar esse tipo de profissional em número suficiente para criar uma massa crítica capaz de prover as necessidades de geração de ideias e soluções inovadoras necessárias.
Assim, adotar uma estratégia de inovação colaborativa é uma forma de suprir essa falta, além de fornecer à empresa ferramentas às quais ela não teria acesso de outra forma.
Por que esse conceito se popularizou?
O engajamento é o grande diferencial das comunidades, uma vez que é muito mais fácil ter um propósito comum. Por isso, cada vez mais se olha para comunidades menores, em que esse engajamento é mais forte, e menos para as grandes plataformas, como Facebook e Twitter.
Vamos ver algumas diferenças para os participantes dos grandes grupos e das comunidades menores.
Grandes grupos
Nos grandes grupos, os membros em geral são inscritos não por vontade própria e permanecem ali porque têm alguma obrigação, de alguma forma. Os membros executam tarefas, fazem transações e as decisões são “top-down”, ou seja, vêm de baixo para cima. As pessoas são gerenciadas e as atividades são prescritas.
Já na comunidade são os membros que decidem participar e estão lá porque querem. Logo, há um sentimento de pertencimento e, em vez de transações, há interações. Muitas vezes têm um alinhamento mais horizontal, próximo da auto-organização.
Não chega a ser novidade dizer que os resultados são muito melhores quando as pessoas estão engajadas naquilo e se sentem donas do negócio.
O fato de poder contar com um contingente maior e mais variado de profissionais e de ser um grupo mais coeso e engajado explica o sucesso das comunidades de inovação e sua crescente popularização. É uma solução na qual todos saem ganhando.
Quais são os benefícios de se conectar com uma comunidade de inovação?
As organizações já usam há vários anos diversas ferramentas que facilitam a colaboração. Podemos citar o Trello para projetos e tarefas, o Slack para comunicação e o Google Docs para documentação, entre tantos outros que fazem do trabalho colaborativo algo natural do dia a dia.
Com a comunidade, você consegue construir em cima dessa colaboração. Shawn Murphy, autor do livro “The Optimistic Workplace: Creating an Environment That Energizes Everyone” (“O local de trabalho otimista: criando um local de trabalho que energiza todo mundo”, em tradução livre), propõe a seguinte equação:
Colaboração + conexão = comunidade
Assim, os líderes da comunidade, assim como seus membros, devem estar permanentemente construindo conexões. São elas — as conexões — que diferenciam as comunidades de outras iniciativas de inovação e que garantem um diferencial no resultado.
Esse é o grande benefício de se juntar a uma comunidade de inovação. Vamos lembrar mais uma vez que a comunidade não deve ser aberta para todo mundo. Ela é, antes, formada por um grupo de pessoas que estão ligadas por uma crença, um objetivo ou pela comunhão de algo.
O que uma startup pode encontrar em uma comunidade de inovação?
As startups respiram inovação e vivem à base disso. Esse é o negócio delas. Por isso, precisam estar permanentemente em contato com o que existe de mais atual nas suas áreas de atuação. Estar em uma comunidade de inovação permite essa troca com profissionais de outras startups e empresas e não é raro que dali saiam parcerias, negócios e até mesmo fusões.
Ao mesmo tempo, é comum que não tenham tantos recursos e contem com equipes enxutas, justamente por serem empresas jovens, pequenas e, por vezes, ainda estarem em estágio pré-operacional.
Para elas, estar em uma comunidade de inovação é uma oportunidade para ter acesso a outros profissionais e conseguir ajuda para resolver problemas com soluções inovadoras. Da mesma forma, podem colaborar em outros projetos, o que ajuda a equipe a ganhar mais conhecimento e experiência.
Além disso, a comunidade de inovação é uma “vitrine” para as startups. Ter seu projeto aceito e ser convidado para entrar na comunidade é uma espécie de selo de qualidade, o que é uma boa ajuda para atrair investidores.
Por fim, vale lembrar que as grandes empresas também estão presentes nas comunidades de inovação. Essa proximidade é essencial para as startups, que podem conseguir fechar parcerias ou até mesmo sociedade com alguma grande empresa que se interesse pelo produto ou serviço que está sendo desenvolvido.
O que uma grande empresa encontra em uma comunidade de inovação?
Do outro lado da moeda, as grandes empresas já entenderam há muito tempo que, em vez de competir com as startups, o melhor é juntar-se a elas. As startups contam com uma agilidade que as grandes corporações têm muita dificuldade de conseguir, justamente pelo seu tamanho.
Além disso, existem várias startups em cada setor da economia, criando produtos e serviços inovadores que podem ser muito úteis para as grandes empresas. Dessa maneira, uma comunidade de inovação é um celeiro de oportunidades também para as grandes corporações.
Em alguns setores, como o de tecnologia, essa aproximação já é mais consolidada. Outros segmentos resistiram mais a entrar nesse processo, mas, se pararmos para pensar, qual setor não é mais tecnológico atualmente? Falamos em fintechs, edtechs, adtechs, martechs, healthtechs, legaltechs, retailtechs e por aí vai.
A evolução tecnológica permeia todos os setores da economia e não podemos nem dizer mais que quem não entrar no jogo vai ser expulso do mercado porque, na verdade, esse momento já passou. A transformação digital já chegou e estamos em outra fase, tratando de Inteligência Artificial, Machine Learning, Internet das Coisas, cloud computing etc. Assim, a discussão já mudou de patamar.
As comunidades de inovação, são, portanto, não apenas “aquários” nos quais as grandes empresas podem pescar novos parceiros, mas também uma forma de manter seu próprio quadro de colaboradores atualizado com o que há de mais inovador sendo produzido em seus setores.
Exemplos de comunidade de inovação
As comunidades de inovação estão presentes em todo o mundo. Confira como funcionam algumas!
Campus Google
A comunidade de inovação do Google se materializa em 7 campi espalhados pelo mundo, sendo um deles em São Paulo. Conta com um programa de residência para startups selecionadas, com suporte para o crescimento e acesso a recursos, especialistas e parceiros globais do Google.
Oferece também programas especiais para startups em diferentes estágios e com objetivos distintos.
Porto Digital
Localizado no Recife, em Pernambuco, o Porto Digital é um dos principais parques tecnológicos e ambientes de inovação do país. Concentra sua atuação nos eixos de software e serviços de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) e Economia Criativa (EC), além de atuar também com tecnologias urbanas e futuro das cidades.
Fruto de uma parceria entre governo, universidades e empresas, foi fundado no ano 2000 e ocupa uma área de 149 hectares em uma região da cidade que era degradada e vem sendo revitalizada, principalmente graças à construção do Porto.
A estrutura impressiona. As startups que ficam no Porto contam com 22 laboratórios, dois auditórios, dois showrooms, quatro salas de treinamento, nove salas de reunião, duas aceleradoras, três incubadoras e cinco espaços de coworking, além de treinamentos e cursos de educação a distância.
Venture Café
Criada em 2009, a Venture Café é uma organização não-governamental que dá suporte a empresas em estágios iniciais. Conta com 11 unidades no mundo e planos de expansão para outras localidades. Cada uma delas é gerenciada de forma independente, mas todas promovem o principal programa da rede, que é o Thursday Gathering.
Trata-se de um evento semanal que reúne empresários novos e outros mais experientes para trocar ideias e prestar suporte. Inclui sessões gratuitas voltadas para ensinar empreendedores a gerenciarem seus negócios. São momentos informais, que visam dar a oportunidade de discutir ideias criativas, além de encontrar novos colaboradores, mentores ou investidores.
Station F
A Station F reivindica para si o título de maior campus para startups do mundo. Fica na França e foi construída em uma estação de trem com mais de 51 mil metros quadrados. Abrigando cerca de mil startups, mais de 30 programas de mentoria e aceleração e com parcerias com 40 fundos de investimentos, foi criada para reunir no mesmo espaço startups, empresas e investidores.
Foi fundada por um bilionário da área de tecnologia, Xavier Niel, que conseguiu atrair também grandes empresas para o espaço. Google, Apple, Amazon, Facebook, Microsoft e Adidas estão presentes, seja com escritórios de mentoria, seja coordenando programas de aceleração.
O local também se tornou um polo de cultura e lazer. Com diversos bares e restaurantes, atrai amigos, famílias e todo tipo de pessoa que queira aproveitar o local. Além do espaço de trabalho, a Station F tem também um alojamento com capacidade para alojar 600 pessoas. A ideia é hospedar temporariamente empreendedores ou funcionários das startups, uma vez que encontrar moradia em Paris não é das tarefas mais fáceis — nem mais baratas.
Comunidade de inovação do Distrito
O Distrito é uma das principais comunidades de inovação do país. Atuamos em diversas frentes promovendo a Inovação Aberta. Ajudamos startups a desenvolverem suas ideias em um ambiente colaborativo, promovemos eventos ligados ao tema, levantamos dados e produzimos conteúdos e relatórios sobre o setor, além de conectarmos startups a empresas e a investidores, por meio da nossa divisão de Venture Capital.
O Distrito Dataminer conta com banco de dados proprietários sobre as startups do Brasil, o que nos permite produzir inteligência para você entender as principais tendências, aplicações e consequências das novas tecnologias no mercado e na vida dos consumidores.
Coletamos dados sobre startups, corporações, investidores e centros de tecnologia e convertemos em informação estruturada que pode servir como base para a tomada de decisões qualificadas e planejar os próximos passos com segurança.
Nossa divisão de Venture Capital está preparada para ajudar os empreendedores a se estruturarem para conseguir o capital necessário para o desenvolvimento do negócio. Na outra ponta, também fazemos co-investimento com os melhores Venture Capital do mercado. Nossos investidores são executivos renomados e empreendedores com experiência, conhecimento e bom trânsito no mercado.
Por fim, estamos preparados para ajudar sua startup a inovar e crescer, com programas voltados especialmente para isso, como o Business Hacking e o Reality Transformation.
Nosso programa de residentes inclui aceleração, programa de benefícios, conexão com grandes empresas, participação em eventos, acesso aos outros hubs do Distrito, acesso a associações e entidades setoriais que auxiliam as startups na validação de mercado e outras vantagens.
Hubs de inovação do Distrito
O Distrito conta com cinco hubs de inovação, sendo quatro na cidade de São Paulo e um em Curitiba. Somando, são 5.000 metros quadrados nos quais se encontram as melhores cabeças com o objetivo de criar, testar e expor as tecnologias do futuro.
Mais do que um mero espaço físico, nossos hubs são uma comunidade inspiradora cheia de aprendizados e oportunidades para empreendedores. Em São Paulo, cada espaço é dedicado a um setor: fintechs, adtechs, retailtechs e healtechs, enquanto a unidade de Curitiba abriga empresas de todas as áreas.
Agora você já entende como funcionam as comunidades de inovação e sabe quais são os benefícios que elas trazer para todo o ecossistema.
Quer saber como construir uma comunidade? Aproveite para baixar nosso e-book sobre assunto.
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