Conheça a visão da e.Bricks, um dos maiores fundos de Venture Capital do Brasil
Artigo atualizado em 27 de maio de 2020
Este conteúdo foi produzido como parte do estudo Distrito Fintech Report e traz a entrevista completa com Thiago Maluf, General Partner da e.Bricks
Fundada em 2013 com a visão de ajudar os melhores empreendedores a construir empresas capazes de transformar seus mercados, a e.Bricks Ventures está atualmente entre os principais fundos de Venture Capital da América Latina com mais de 30 investimentos realizados. Atualmente a gestora possui 10 fintechs em seu portfólio: Avenue, Vérios, BCredi, Finpass, Liber, BX Blue, Guia Bolso, Contabilizei, Arquivei e S4.
O Distrito Dataminer conversou com Thiago Maluf, General Partner da e.Bricks para compreender melhor a atuação da empresa no cenário das fintechs brasileiras.
Entrevista completa com Thiago Maluf, da e.Bricks
1.Dentre as investidas da e.Bricks estão algumas fintechs como a FinPass, Liber, Contabilizei, GuiaBolso e BxBlue, quais são os critérios utilizados por vocês para selecionar estas oportunidades e quais os maiores pontos de atenção ao investir neste setor?
Atualmente temos 10 fintechs em nosso portfólio: Avenue (corretora para brasileiros que querem acessar o mercado financeiro global), Vérios (um dos maiores robôs de investimento brasileiros), BCredi (entre os maiores de home equity e mortgage), Finpass (marketplace de crédito para empresas), Liber (plataforma de desconto de recebíveis com foco no risco sacado), BX Blue (crédito consignado privado), GuiaBolso (maior plataforma de finanças pessoais da América Latina), Contabilizei (maior plataforma de contabilidade para PMEs do Brasil, com uma crescente oferta de produtos financeiros), Arquivei (tracking de notas fiscais eletrônicas) e S4 (empresa Argentina focada em modelos inovadores de seguro agrícola). Muitas dessas empresas têm a liderança em seus segmentos e potencial de transformar os respectivos mercados, com produtos inovadores, experiência de uso muito superior à oferecida por players tradicionais e foco em clientes mal servidos pelos players tradicionais.
Nosso principal critério de escolha é sempre o empreendedor o time. Acreditamos que nenhum fator tem mais impacto na probabilidade de sucesso de uma startup quanto o time, por isso dedicamos tempo e energia e entender a visão e motivação das pessoas, a cultura e interação entre os membros, bem como as forças e os eventuais gaps a ser endereçados no tempo.
Além do time, focamos também em entender qual o tamanho que a empresa pode atingir – queremos ter certeza que a empresa esteja em um segmento grande o bastante, e que o modelo de negócio seja escalável. Investir em empresas early stage envolve bastante risco, logo queremos ter certeza que, em caso de sucesso, a startup pode se tornar uma empresa de escala.
Também dedicamos bastante tempo para entender qual a proposta de valor da empresa (em outras palavras, qual o “problema” que ela está resolvendo) e quão relevante essa proposta é para os potenciais clientes. Para isso quase sempre fazemos entrevistas ou pesquisas com cliente para entender a sua visão sobre a empresa, produto, precificação, dentre outros.
Esses três critérios acima estão entre os mais importantes, mas a análise é sempre feita caso a caso e normalmente leva em conta diversos outros como a estratégia de distribuição, a dinâmica competitiva, as alternativas de saída envolvida, etc.
Entre os pontos de atenção, o setor financeiro como um todo é bastante regulado então é crítico entender quão aderente a empresa está à regulamentação existente, quais as tendências de mudança nessa regulamentação e como isso pode afetar as investidas. Também é crítico entender, no caso de empresas de crédito ou seguros, a qualidade dos modelos preditivos que essas usam para avaliar risco, e quem fica com o risco em última instância.
2.Qual é o papel dos investidores no desenvolvimento do ecossistema de empreendedorismo e inovação, especialmente no setor financeiro?
Primordialmente investidores têm o papel de apoiar financeiramente empreendedores. Além do aspecto mais óbvio (financiar projetos ou sustentar empresas seu crescimento até que elas atinjam fluxo de caixa positivo), a certeza de que haverá capital para bons projetos é algo crítico para o desenvolvimento do mercado, na medida em que dá conforto a profissionais com custo de oportunidade alto a deixar carreiras consolidadas para seguir um caminho empreendedor. Esse é um movimento que vimos ao longo dos últimos anos – muitos de nossos empreendedores são profissionais com carreiras consolidadas, entre 35 – 50 anos e que decidiram abandonar uma posição em grandes empresas para criar suas próprias companhias.
Investidores têm ainda um papel de disseminar conhecimento, melhores práticas e experiências bem sucedidas, tanto com as empresas de seu portfólio quanto para o mercado como um todo. Na e.BRICKS nós vemos que alguns desafios para expandir uma empresa são comuns para boa parte dos nossos empreendedores, e nesse sentido buscamos aproximar founders e times de diferentes investidas para fomentar a troca de experiências, em um processo que beneficia o portfólio como um todo. Como um exemplo, atualmente temos 5 empresas focadas em crédito no portfólio, além de mais algumas cujo roadmap de produto passa por crédito – as trocas fomentadas pelo fundo já ajudaram as empresas mais early stage do grupo a evitar erros e já viabilizaram acordos de cooperação entre as companhias do portfólio.
Finalmente, investidores podem ainda apoiar empreendedores com os muitos desafios impostos pelo crescimento de suas empresas. Ajudar founders a pensar e recrutar times, estabelecer mecanismos de incentivo que atraiam e retenham talento, pensar e executar estratégias de crescimento inorgânico (M&A) e conectar empreendedores com outros investidores em rodadas subsequentes são alguns exemplos de como investidores podem gerar muito valor suas empresas investidas. Como observamos nos últimos anos no Brasil, startups de sucesso têm um impacto positivo no mercado como um todo, criando um ciclo virtuoso no qual cases de sucesso motivam mais empreendedores e investidores a considerar investir tempo e recursos em venture capital.
3.As fintechs concentram cerca de um terço de todo o capital investido em startups em 2019. O que faz com que o setor seja tão atrativo do ponto de vista dos investidores?
O setor financeiro combina tamanho, grande concentração em poucos incumbents e uma alta velocidade de adoção tecnológica, o que explica o grande número de startups e a atratividade dessas para investidores.
Historicamente a distribuição de produtos financeiros estava baseada em rede de agências bancárias, então era difícil, senão impossível, para uma instituição sem presença física entrar no jogo. Atualmente os canais de distribuição digitais permitem a uma startup competir com um grande banco pelo mesmo cliente, às vezes inclusive com vantagens por oferecer uma experiência de uso melhor ou processos mais ágeis.
Adicionalmente, startups tipicamente operam em uma estrutura de custo mais enxuta e sem legados como grandes bancos, o permite que essas empresas foquem em produtos pouco viáveis economicamente para bancos tradicionais. Ao redor do mundo há inúmeros casos de startups focando no público desbancarizado ou nas pequenas e médias empresas, dois segmentos de clientes historicamente mal servidos pelos grandes bancos.
A atuação regulatória também tem sido um ponto positivo para as fintechs. Os órgãos reguladores do setor financeiro têm sido bastante abertos à inovação e à atividade empreendedora. Iniciativas como o Ambiente Controlado de Testes para Inovações Financeiras e de Pagamento (Sandbox Regulatório) ou a regulamentação das Sociedades de Crédito Direto e Sociedade de Empréstimos entre Pessoas criadas pelo Banco Central são marcos importantes, abrindo espaço para inovação e permitindo que startups operem de forma mais ágil e independente de instituições financeiras tradicionais.
Finalmente, as start-ups geram ainda um grande benefício à sociedade por democratizar o acesso a produtos financeiros. Algumas empresas do nosso portfólio exemplificam esse movimento, como a Avenue, uma corretora para clientes de varejo brasileiros que querem acessar o mercado financeiro global. Historicamente, investir fora do Brasil era uma alternativa apenas para clientes de private bank, dados os custos, volumes mínimos e a complexidade envolvida. A usando uma estrutura inovadora, integração das operações de câmbio e automatização de processos, a Avenue conseguiu dar acesso a dezenas de milhares de brasileiros ao mercado financeiro dos EUA sem volumes mínimos, com custos competitivos e experiência superior à oferecida por players tradicionais.
4.O Brasil tem atraído cada vez mais atenção de investidores estrangeiros, quais são os pontos positivos e negativos desse movimento para o ecossistema?
Nós vemos o movimento dos investidores estrangeiros como extremamente positivo e como um passo natural no amadurecimento do mercado. Poucos países têm uma combinação tão positiva quando o Brasil em termos de tamanho de mercado, instituições e sistema legal sólidos, população jovem e aberta à inovação tecnológica, entre outros. Sendo assim, na medida em o mercado se desenvolve, ele naturalmente atrairá cada vez mais investidores globais, em um movimento que beneficia a todos os seus participantes.
A entrada de novos participantes aumenta a liquidez do mercado como um todo, beneficiando empreendedores que buscam captar recursos, fundos locais que tenham em seu portfólio companhias captando e mesmo investidores de rounds anteriores que eventualmente queiram monetizar parte de seus investimentos, completando seu ciclo de investimento.
Investidores globais também trazem um conjunto de experiências que podem ser valiosos para o mercado Brasileiro. A indústria nacional de venture capital é bastante jovem, com poucos ciclos completos. Os Estados Unidos, por outro lado, tem atividade de venture capital há mais de 50 anos, ao longo dos quais a indústria já passou por muitos ciclos e acumulou experiências que podem ser extremamente úteis ao mercado Brasileiro. Já investidores de mercados emergentes como os asiáticos podem não se beneficiar de uma indústria de venture capital tão longeva, mas trazem experiências e modelos de negócio aplicáveis a países em rápida transformação como o Brasil.
Um ponto de atenção é que o aumento da liquidez tipicamente eleva as expectativas de valuation – embora esse seja um movimento natural, se exagerado ele pode comprometer retornos futuros, o que no longo prazo pode impactar negativamente a indústria nacional de venture capital.
5.Quais características em comum possuem as startups e empreendedores de sucessos que vocês já apostaram?
É difícil definir uma receita para o sucesso – cada empresa e empreendedor trilhou o próprio caminho, com vitórias e desafios únicos.
Isso posto, algumas características são comuns a boa parte dos empreendedores que nós vemos como bem sucedidos. Esses empreendedores são tipicamente visionários, que conseguem enxergar oportunidades em mercados ineficientes e modelos de negócios inovadores para endereçar essas ineficiências – e que conseguem comunicar essa visão para parceiros, investidores e clientes de uma forma clara e cativante.
Além da visão, esses empreendedores normalmente balanceiam a visão com foco na execução. É esse foco que transformará o potencial em realidade, entregando valor para os clientes e demais stakeholders no processo.
Muito empreendedores de sucesso têm self-awareness elevado, conseguindo identificar no que eles são realmente bons e se cercando de co-founders, parceiros e times com perfis complementares. E tendo em vista que quase sempre a responsabilidade por montar o time é dos fundadores, esses precisam ser bons em identificar, atrair e reter talento.
Finalmente, todas as nossas empresas investidas tiveram e têm altos e baixos – o caminho nunca é linear e os empreendedores precisam ter resiliência para não desistir face aos muito desafios, e para conseguir aprender e evoluir com o que eventualmente não acontecer de acordo com o plano.
6.Quais foram seus principais erros e aprendizados como investidor?
Nosso principal aprendizado foi jamais subestimar a importância do empreendedor. Com isso em mente, nós buscamos e implementamos metodologias para avaliar de forma consistente e sistemática as características que buscamos nos times. Do nosso primeiro fundo para o fundo II e agora para o fundo III ficamos muito mais seletivos e passamos a dedicar mais tempo para conhecer a fundo e passar tempo com founders e seus times – e isso também beneficia os empreendedores, que têm mais tempo e pontos de contato para fazer a própria diligência em seus futuros sócios.
Outra evolução no nosso modelo foi que nos tornamos mais focados em como ajudar empreendedores e seus times. A e.BRICKS foi criada com a visão de ser um investidor hands-on que trabalha junto com founders para transformar sua visão em empresas de sucesso. Com a experiência fica cada vez mais claro em que verticais podemos gerar mais impacto, ao mesmo tempo que o conhecimento acumulado nos deixa mais efetivos em ajudar os empreendedores.
Finalmente, ao longo desses 7 anos fica claro a importância de ter empreendedores incentivados e governança adequada. Nossas experiências com empresas nas quais os empreendedores estavam excessivamente diluídos ou nas quais os cap tables eram excessivamente pulverizados foram ruins, e atualmente esses são pontos que, se preciso, tem de ser endereçados antes da nossa entrada.
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