O futuro do mercado Venture Capital no Brasil
Artigo atualizado em 21 de março de 2022
Futuro do mercado Venture Capital é promissor e impulsiona startups brasileiras
Há alguns meses um artigo do The Information, intitulado “O Fim do Venture Capital Como Conhecemos”, chamou a atenção da comunidade de startups. No texto, seu autor, Sam Lessin, aponta para uma série de disrupções do setor que já estão em andamento. Sobretudo, destaca que, durante o decorrer deste ano, os investidores não tradicionais irão aplicar mais recursos em startups do que em empresas tradicionais de capital de risco.
A força que as ICOs (Initial Coin Offering) – oferta de um token digital para diferentes investidores em um estágio inicial de um projeto – vêm ganhando nos últimos anos está aí para provar que o cenário defendido por Lessin está mais perto do que imaginamos de se tornar realidade.
Nos últimos anos, observamos o ecossistema brasileiro ganhar maturidade. Tanto que, já em 2020, vimos mais de US$ 3,5 bilhões alocados em startups de tecnologia, o que representou um crescimento de 17% em relação ao ano anterior. O volume de investimentos somado a um cenário macroeconômico de juros baixos e a transformação digital em diversos aspectos da nossa vida e da economia, têm estimulado movimentos nessa direção.
Saiba o que esperar para o futuro do Venture Capital no Brasil. Continue a leitura!
Como o mercado de Venture Capital está evoluindo no Brasil
O ano de 2021 será lembrado como o ano que mudou o ecossistema de Inovação do Brasil de patamar. Com o recorde no volume de investimentos, com US$ 9,4 bilhões investidos no ano, um aumento de 166% em relação a 2020 e um valor que supera a soma dos 3 anos anteriores, houve um grande amadurecimento do mercado que atrai cada vez mais novos players interessados em investir em soluções nacionais.
O mercado está em um momento de extrema liquidez, com novas empresas de tecnologia surgindo diariamente e novos unicórnios brasileiros na expectativa de se consolidarem. A maturidade do mercado nacional de inovação permite que, mesmo em momentos de instabilidade e incerteza, os investimentos em Venture Capital se mantenham em patamares elevados, principalmente em empresas consolidadas, que já demonstraram resiliência no mercado.
Dessa forma, embora exista seletividade e cautela entre os investidores por conta da instabilidade econômica do país, a liquidez do mercado e a entrada de cada vez mais players internacionais devem manter o ecossistema de inovação brasileiro aquecido.
Participação de fundos estrangeiros em startups brasileiras
O interesse de fundos estrangeiros por startups brasileiras já vem acontecendo há alguns anos, porém ganhou muita força em 2021, principalmente com o anúncio do fundo de investimento do Softbank no valor de US$ 3 bilhões na América Latina .
Investidor de 15 dos 25 unicórnios da região, a presença do Softbank consolida a tendência de atração de fundos internacionais investirem nas startups do continente em geral e do Brasil em particular.
Muitos dos fundos de venture capital que lideraram ou participaram dos maiores aportes em startups brasileiras ano passado têm sede fora do país: Tiger Global Management, Tencent, Accel, Ribbit Capital e QED Investors são alguns deles.
A presença desses players sinaliza em primeiro lugar a qualidade técnica e a visão
dos empreendedores locais e a presença de oportunidades na região, mas também significa uma abertura da América Latina e do Brasil para o mundo, posto que conecta nossas soluções com mercados, investimento e talentos globais.
Com esses fundos operando na região, é de se esperar um incremento nos late stages, um aumento substancial nos valores investidos e um número cada vez maior de unicórnios surgindo em nosso ecossistema.
Principais mudanças pelo mundo
Segundo o relatório da Innosight, há quatro grandes mudanças surgindo no cenário de capital de risco: democratização, crescimento de negócios, diversificação e digitalização.
Democratização
A democratização é caracterizada, sobretudo, pela entrada de novos investidores e startups no cenário de Venture Capital, como o crescimento do acesso de escritórios de diferentes tipos de VC, o aumento no número de startups financiando seu próprio negócio ou conseguindo fontes alternativas de financiamento.
Um dos exemplos das opções de financiamento que têm se tornado cada vez mais fortes são as SPACs – Special Purpose Acquisiton Company, em português, veículo com propósito específico de aquisição. Uma SPAC é uma empresa de aquisição que levanta dinheiro por meio de uma oferta pública inicial para adquirir um negócio e então tornar uma companhia de capital aberto.
Elas tornaram-se um fenômeno nos Estados Unidos, gerado pelos rápidos retornos econômicos que oferecem aos seus patrocinadores, baixos juros em todo o mundo, pela certeza da precificação e pelos desafios trazidos pela pandemia do Covid-19.
As SPACs são comparadas aos famosos “cheques em branco” – pois os investidores, a princípio, não tem uma empresa-alvo definida –, e viraram o foco das atenções não só de investidores, fundadores e unicórnios, mas também de celebridades. E, como todo fenômeno de mercado, tornaram-se alvo de órgãos reguladores como a SEC, cuja investigação parece não ter afetado seu crescimento.
Segundo a SPAC Research, 349 dessas SPACs — empresas de capital aberto não operacionais que visam adquirir outras operacionais e que sejam rentáveis — registradas nos Estados Unidos em 2021, levantaram até o momento, US$108,4 bilhões.
Crescimento de negócios
O volume de investimentos em VC está cada vez maior e seguirá batendo recordes apesar dos desafios de instabilidades econômicas. O período da pandemia fez com que as startups mostrassem ao mercado que são resilientes, sabem navegar em períodos turbulentos, atrair talentos e ao mesmo tempo movimentar empresas de diversos tamanhos e segmentos para repensarem seus modelos de negócio.
Conforme divulgado pelo Infomoney, o investimento global em capital de risco atingiu US$ 125 bilhões durante o primeiro trimestre de 2021. Essa é uma alta de 50% sobre o quarto trimestre de 2020, e um salto de 94% sobre o primeiro trimestre de 2020. Foi um recorde de funding para startups – a primeira vez em que a captação global bateu a marca de US$ 100 bilhões em um trimestre.
Um dos fatores que explicam a alta dos números é que a pandemia de fato aumentou o interesse não apenas por compras digitais, mas por startups como negócio e como investimento. Em entrevista ao próprio Infomoney, Dan Yamamura, sócio da gestora Fuse Capital,comenta que esse movimento veio para ficar:
(citação) “Muitas corporações se viram muito mais atrasadas; muitos investidores se viram muito mais mal alocados; e muitos governos perceberam que são menos incentivadores de inovação do que imaginavam. Essa percepção generalizada e muito forte que faz com que os investimentos em startups e empresas inovadoras de tecnologia ainda venham a atrair muito capital não só ao longo dos próximos trimestres, mas certamente nos próximos anos e talvez décadas”.
Diversificação
Diversidade tem sido uma palavra chave em VC, tanto por conta da diversificação geográfica com o crescimento de investimentos em economias emergentes como China, Índia, América Latina e Sul da Ásia, como no aumento na prioridade de investimentos em ESG.
Segundo matéria do Estadão, ESG será pauta fundamental nas corporações, fundos e mercado impulsionado pela demanda do consumidor
Conforme divulgado pelo jornal, os fundos verdes em todo o mundo alcançaram a marca dos US$ 400 bilhões em 2021, quase o dobro do recorde registrado em 2020, US$ 270 bilhões. Segundo os dados, cerca de US$ 54 bilhões foram investidos em fundos ESG.
Tal tendência deve seguir nos próximos anos, já que grandes corporações e as PME’s perceberam a oportunidade de colaborar ativamente para atuar de forma preventiva para minimizar a crise climática e o conceito de ESG tem sido pauta recorrente nos conselhos de administração.
Digitalização
A análise de dados e inteligência artificial já têm sido utilizadas em áreas como gerenciamento de portfólio, gestão de risco e negociação, permitindo que os gestores de ativos analisem conjuntos de dados mais amplos com maior profundidade.
As evidências mostram que a IA é um recurso extremamente útil para o gerenciamento de portfólio. Segundo a Refinitiv, a empresa de consultoria e pesquisa Cerulli Associates descobriu que os hedge funds que utilizavam recursos de IA tinham uma grande vantagem competitiva sobre os outros. De acordo com a empresa, os fundos que se baseavam em Inteligência Artificial teriam gerado retornos médios de 34% durante um período consecutivo de três anos, até maio de 2020, em comparação com um ganho de 12% do setor global de hedge funds nesse mesmo período.
Além da análise de portfólio, o trading é uma área particularmente fértil para a aplicação de IA, que pode ser utilizada para auxiliar as empresas a identificar automaticamente os melhores horários, dimensões e locais para se realizar as negociações.
Orientações para momentos de crise
Para solucionar alguns gaps e gargalos que crises recentes causaram, algumas estratégias são ventiladas e sugeridas pelas VC, tais como:
– venture debt, que é uma forma de financiamento de capital;
– “estender pista”, garantir a evolução do negócio nos próximos 18 meses seguintes;
– segurar novas contratações e também cortes de profissionais, se possível;
– fazer dívidas apenas se for para aproveitar oportunidades de aquisição, por exemplo;
– trabalhar o Valuation e a Governança Corporativa do negócio;
– não destruir o valor do negócio, ou seja, mitigar os efeitos da crise sem cortar áreas e diferenciais importantes para o mercado, para o negócio e para o produto.
Outro ponto importante é que os investidores de Venture Capital, especialmente os brasileiros, estão aprendendo a investir no longo prazo, o que faz com que eles continuem trazendo mais recursos para o mercado VC.
Unindo o aumento de investidores conscientes do potencial de aplicações de longo prazo, juros baixos que os governos provavelmente continuarão praticando e o potencial empreendedor brasileiro, boas oportunidades surgirão no horizonte.
Os gestores de fundos de Venture Capital, portanto, acreditam que o futuro do mercado VC seja ainda mais promissor, são otimistas com a forma em que a Transformação Digital está sendo impulsionada pelos desafios que a pandemia de coronavírus causou nos mercados brasileiro e mundial.
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