Loggi capta US$ 212 mi (R$ 1,15 bi) e alcança valor de mercado de cerca de US$ 2 bi
Artigo atualizado em 1 de março de 2021
Impulsionado pela pandemia, o e-commerce no Brasil acabou potencializando também outros setores, como o da logística, que precisou se desenvolver para atender a alta demanda. A Loggi é um exemplo do quanto o setor logístico no país está em plena expansão. Neste domingo, 28, a startup unicórnio anunciou um aporte bilionário: US$ 212 milhões (R$ 1,15 bilhão) – é a maior captação já realizada pela empresa.
O aporte Series F, ou seja a sétima rodada, foi liderada pela CapSur Capital e teve participação do Fundo Verde, do megainvestidor Luis Stuhlberger. Participaram também investidores que já haviam injetado dinheiro na companhia como, por exemplo, Monashees, SoftBank Vision, SoftBank Latam, GGV, Microsoft e Sunley House
Um pouco da história da Loggi
Fundada em 2013, a Loggi é uma empresa de logística que usa tecnologia para transformar o setor. Ela atende tanto Pessoa Física quanto outros negócios (pequenos, médios e grandes e-commerces, sobretudo) e oferece uma estrutura para que clientes possam acompanhar as entregas.
As entregas agenciadas pela Loggi são feitas por uma frota de aproximadamente 40.000 entregadores autônomos cadastrados na plataforma, circulando em cerca de 500 municípios brasileiros.
A startup investe em sua infraestrutura tecnológica (Inteligência Artificial, Internet das Coisas etc) para oferecer uma estrutura logística de última geração para clientes e prestadores de serviço, tornando as entregas mais econômicas e seguras.
Ela se tornou um unicórnio com a rodada de investimentos de US$ 150 milhões, liderada pelo SoftBank em 2019, com participação de Microsoft, GGV, Fifth Wall e Velt Partners.
Entrevista completa com Ariel Herszenhorn – VP de Vendas na Loggi
Ariel Herszenhorn, vice-presidente de Vendas na Loggi, concedeu entrevista inédita publicada no Distrito Corrida dos Unicórnios 2021, e deu detalhes dos próximos passos da empresa, das ações adotadas durante a pandemia e o que significa para ele o título de unicórnio conquistado pela Loggi nos últimos anos.
O maior objetivo da startup de “Entregar qualquer coisa para qualquer um em qualquer lugar” é bem ambicioso. Quais as frentes de expansão, no curto prazo, para alcançar essa meta?
Estamos em um momento onde aproveitamos nossa expertise na entrega de documentos para alavancar nossa escala em um negócio nacional de entregas. Atendemos mais de 500 cidades e, até o final deste ano, pretendemos atender pelo menos 3. 000. Aquela percepção do motoboy com o baú azul ainda existe e é importante, mas já passamos anos-luz desse momento. Já temos operações de primeira linha para viabilizar entregas em qualquer lugar e por meio de diferentes modais. Estamos ampliando a capacidade de nossos cross-dockings nacionalmente, abrimos seis só no último ano. Se fizemos tudo isso em um ano e meio, imagina o que faremos nos próximos anos.
A Loggi também ampliou o home office até dezembro para dar previsibilidade para o time, já que muitos Loggers estão vivendo a quarentena fora de São Paulo e até do Brasil. Além disso, a empresa anunciou a criação de um modelo 100% remoto para parte do time de tecnologia. Na primeira fase do processo o foco está em contratações já com o home office permanente.
Durante o auge da pandemia, quais foram os impactos no negócio da Loggi?
A Loggi foi uma das primeiras empresas a reagir à pandemia. Nós acompanhamos a situação nos outros países e pudemos agir com antecedência. Focamos muito nas pessoas envolvidas: parceiros autônomos, o que inclui os entregadores, e toda a equipe interna envolvida na operação.
Como nosso serviço foi considerado essencial para apoiar a população brasileira durante a quarentena, adotamos diversas medidas para viabilizar um ambiente seguro e não contaminado.
Depois, a preocupação foi com as pessoas que passaram a trabalhar de casa. Apoiamos desde a organização de espaços adequados de trabalho, com reembolso para compra de equipamentos, até com questões psicológicas.
Na parte operacional, terminamos o ano com uma atividade 360% maior do que no ano anterior. O salto foi muito significativo. Ter a capacidade construída acelerou muito os nossos processos, mas tivemos que aprender a operar ao longo do ano com o mínimo de espaço e recursos.
O aumento de custo foi significativo, mas aprendemos muito a operar neste novo ambiente e mantivemos todos seguros na medida do possível. Crescemos quatro vezes o volume de pacotes, mesmo com o distanciamento.
Em 2019, a Loggi realizava cerca de 3 milhões de entregas por mês e pretendia dobrar este número em 2020. Quais foram os principais desafios enfrentados desde que essa meta foi traçada? A meta foi alcançada?
Em 2020, que foi um ano super desafiador, pensar em logística em meio a uma pandemia teve seus desafios incrementais. A logística tende a te levar a espaços menores, mais otimizados e com uma rotatividade de pessoas circulando. É baseada em eficiência, e a pandemia quebrou essa lógica. Conseguimos passar por esse período com tranquilidade porque construímos essa capacidade com antecedência, em 2019, para os dois anos seguintes. Em 2020 antecipamos esse plano para funcionar com 100% da capacidade. Ao longo do ano, proporcionamos aos consumidores a possibilidade de realizar compras de maneira segura e eficaz, com prazo de entrega médio de 1.3 dias numa abrangência nacional.
No ano de 2020 vimos como e-commerce é essencial, em todos os sentidos. O negócio de entregas em casa tem um enorme potencial e foi utilizado na pandemia.
Quais as vantagens que a Loggi pode oferecer para as grandes varejistas?
Quando mencionamos tecnologia, estamos falando especificamente da abordagem que a Loggi tem. Por exemplo, se olharmos para a população brasileira, vamos ver que cerca de 50 milhões de pessoas estão em regiões remotas, periféricas ou em situação de risco securitário elevado. Atender a este público já é atender a uma população enorme. É uma demanda difícil de suprir, no qual as pessoas têm que pagar muito mais caro por um serviço básico de entrega. A abordagem de tecnologia é olhar o serviço como produto, ter uma equipe focada em usabilidade e dados para propor uma solução viável de atendimento.
E, por outro lado, a área de logística é muito complexa e tem risco de segurança pública, clima, imprevistos, trânsito. O ser humano é incapaz de absorver toda essa responsabilidade, então colocamos tudo no algoritmo para pensar por nós. A nossa tecnologia ajuda a estruturar a demanda logística, o que não é qualquer player que tem.
Os grandes clientes da Loggi, e-commerces e varejistas, estão se transformando devido a um movimento de verticalização das operações logísticas. Como vocês enxergam esse cenário? Estão sendo formados novos concorrentes?
Vemos com bons olhos essa movimentação, pois cada uma das empresas tem algo diferente para oferecer ao mercado. O setor ainda é incipiente no país, mas está crescendo agressivamente. Se comparado ao exterior, somos um mercado bem tímido, seja por estruturas rodoviárias, disponibilidade de acesso pelo celular, custo, burocracias internas etc. Quando os players investem em tecnologia, melhoramos todo o ecossistema. Seguimos como parceiros dos grandes varejistas e convivemos neste ambiente em conjunto. Além disso, entregamos uma solução 100% independente, somos prestadores de serviços para todos eles, o que não relaciona nossos serviços aos concorrentes.
Cada vez mais os consumidores enxergam menos barreiras entre o físico e o virtual – segundo relatório da consultoria McKinsey, o consumidor utiliza de 3 a 5 canais diferentes para tomar uma decisão de compra. De que forma essa tendência omnichannel afeta as operações da Loggi?
Trabalhamos há um tempo com o conceito de customer centric, cliente no centro da estratégia, pois mesmo quando pensamos em e-commerce, estamos falando de um termo antiquado. Hoje, quando falamos em comércio eletrônico, parece um conceito de 20 anos atrás – e o omnichannel também está chegando lá. O omnichannel representa quais são os canais pelos quais eu vou oferecer o produto para o meu cliente, mas, às vezes, o consumidor quer o contrário. Quero que a empresa olhe onde eu, como cliente, estou e onde eu quero consumir.
As grandes varejistas estão cada vez mais adeptas ao Ship from Store – utilização do estoque de loja para abastecer o e-commerce. De que forma a Loggi se posiciona com relação a essa estratégia dessas lojas? Qual o futuro para essas e outras práticas de omnichannel?
Nós sempre tivemos essa visão e hoje conseguimos oferecer esse mesmo olhar para os nossos embarcadores. A parte boa de ser tecnológico é que temos variáveis que mudam a todo tempo. A partir do celular, conseguimos viabilizar um ponto de entrega em qualquer lugar do Brasil. Para isso, oferecemos o ship from store, click & collect e entrega em domicílio. Já para o futuro, queremos oferecer um serviço de logística reversa. Então, todos os nossos serviços são baseados em atender o consumidor onde ele estiver.
O que significa, na prática, o título de unicórnio para a startup e como isso impacta nos objetivos estratégicos da empresa?
Por muito tempo, startups foram vistas como “legais”. Só agora essas empresas estão ganhando visibilidade e se tornando negócios de fato para o público. Nós, aqui na Loggi, sempre tivemos um objetivo claro: conectar o Brasil, entregar uma encomenda em qualquer lugar do país. É uma meta bem desafiadora, ainda mais considerando que o ambiente de logística é muito tradicional. Mas o título de Unicórnio, apesar de não ser um fim, é um marco, uma espécie de selo de que existe potencial no mercado brasileiro e na Loggi. E de que é possível atender essa enorme demanda que ainda não é atendida. Este selo representa mais um passo na nossa trajetória de conectar o nosso país.
Qual o próximo passo da startup após o reconhecimento como unicórnio?
A Loggi já investia e pretende investir ainda mais em alguns fatores-chave, como:
Tecnologia: temos um time de produto e engenharia bem qualificado e entendemos ser necessário continuar investindo em talentos para criar um diferencial ainda mais competitivo a longo prazo.
Infraestrutura: atualmente, temos sete cross-dockings, grandes galpões onde são feitas as distribuições de pacotes via softwares, e diversas agências para conseguir atender todo o País. Temos construído capacidade para o que vislumbramos de e-commerce no futuro, mas ainda há muito o que ser feito.
Acessibilidade: queremos viabilizar que cada pessoa mande um pacote para qualquer lugar do Brasil e, para isso, investimos tempo, força e energia neste propósito. Este ano e o próximo serão muito relevantes para isso.
No que diz respeito ao seu modelo de negócio, como balancear o crescimento acelerado e a busca por lucratividade?
Tivemos um bom desenvolvimento ao longo dos anos para construir uma mentalidade balanceada e positiva entre sustentabilidade financeira e posicionamento de crescimento.
A logística é um negócio de escala. Nós desenvolvemos uma tecnologia que nos permite crescer de maneira agressiva e sem prejudicar os nossos indicadores financeiros.
Quais são, hoje, os seus principais competidores: empresas tradicionais, novos negócios disruptivos ou players internacionais?
No ambiente de transporte, todos tendem a concorrer. Nós atendemos desde e-commerces a pessoas físicas que querem enviar um pacote localmente, lidamos com diversos competidores e acreditamos que, por meio da tecnologia, conseguimos ganhar capacidade e escala – algo que outros players não têm. Nosso negócio foi elaborado com esse propósito, para crescer muito e suprir a deficiência de investimento de tecnologia no Brasil. Quando pensamos em escala e tamanho, temos poucos jogadores competindo neste sentido.