O que esperar dos fundos de Venture Capital no Brasil
Artigo atualizado em 2 de abril de 2020
O mercado brasileiro de Venture Capital esteve em pleno crescimento nos últimos dois anos. Apenas para se ter ideia do desenvolvimento, somente em 2019 surgiram 5 novos unicórnios – startups que atingem o valor de mercado de US$1 bilhão. Além disso, o capital investido em startups brasileiras foi o maior da história no país. Cerca de US$ 3 bilhões foram investidos, através de mais de 260 aportes realizados. Volume 198% superior em relação a 2017 e 80% maior do que o movimentado em 2018.
Apesar da evolução dos números de investimento em startups e das condições econômicas terem melhorado nos últimos anos, estamos enfrentando agora o que talvez possa ser o maior Cisne Negro – evento completamente imprevisível que ocasiona resultados altamente impactantes – dessa década, o covid-19.
Isso porque o surto de coronavírus tem causado estragos nos mercados financeiros ao redor do mundo, além de ter restringido a movimentação de pessoas e desafiado os sistemas de saúde. A pandemia tem gerado muitas incertezas do que irá acontecer nos próximos meses e até mesmo sobre qual será a sua duração.
Fundos de Venture Capital: o que têm a dizer sobre o impacto do coronavírus
Pensando em discutir um pouco sobre o momento, e como ele irá impactar os fundos de Venture Capital no Brasil, alguns dos maiores investidores do Brasil, sejam early-stages como late-stages, se reuniram e discutiram sobre o tema. Confira a seguir a percepção de cada um deles sobre o momento e o vídeo na íntegra aqui.
Hernan Kazah – Kaszek Ventures
Para a Kaszek a tese de investimentos não se alterou. A gestora de Venture Capital continua buscando empreendedores fantásticos e que possuam modelos de negócio inovadores”. A alocação do capital também deverá seguir o mesmo modelo: investir de 30% a 40% do fundo nos primeiros cheques e reservar o restante para seguir com investimentos follow-on.
Entretanto, nesse momento de crise a atuação mudou. Kazah divide a atuação da gestora em duas frentes: a de cuidar do portfólio de investidas atuais e a busca por novas oportunidades no mercado. Nesse momento, a busca por novos investimentos acabou sendo reduzida à medida que se tornou mais necessário auxiliar as empresas do portfólio.
Eric Acher – monashees
Para a monashees, embora a crise seja um território diferente, tanto em formato como em duração, é necessário olhar para trás e aprender com outros momentos críticos que já passamos. Neles, apesar de diversas dificuldades, grandes empresas e empreendedores continuaram existindo.
Por isso, segundo Acher, não é momento de mudar fundamentalmente a estratégia do fundo de Venture Capital, apesar das incertezas. Mesmo que agora, o tempo destinado para auxiliar os empreendedores seja muito maior.
Segundo Acher, se existe um tipo de líder na sociedade capaz de lidar com risco e incerteza são os empreendedores. Eles já têm esse preparo por vivenciar isso todos os dias.
Michael Nicklas – Valor Capital Group
Desde que a crise começou, a Valor Capital já realizou um trabalho “one to one” com cada uma das suas investidas. Fazendo simulações com o runway, caixa e faturamento dessas empresas em diferentes cenários da crise.
A Valor, possui empresas em seu portfólio que tiveram o faturamento praticamente zerado, assim como,outras empresas que tinham um runway de 6 meses e tiveram que reestruturar um plano para aumentar a vida do caixa.
Nicklas diz que ao conversar com os empreendedores entende que o momento é de bastante dificuldade, mas também oportunidades, uma vez que diversas das investidas do portfólio estão performando bem.
Marcos Toledo – Canary
Marcos segue acreditamento que o Brasil, após a crise, irá seguir no turning point do surgimento de bons empreendedores.
Na Canary, gestora que levantou um segundo fundo no meio do ano passado, Toledo comenta que: “apesar da tese de investimento seguir a mesma, não dá para falar que o fundo irá não mudar um pouco a forma de se operar”. Para ele, é necessário ter uma preocupação adicional com as empresas que estão no portfólio.
Olhando um cenário geral, Toledo acredita que para novos investimentos irá existir reprecificação e aversão ao risco por parte dos investidores – o que pode impactar o mercado de alguma forma.
Anderson Thees – Redpoint eventures
Segundo Thees, a incerteza agora é muito grande para o mercado de Venture Capital. Apesar da Redpoint eventures não mudar sua estratégia de investimentos, taticamente a gestora já alterou a sua postura, estando focada agora totalmente em auxiliar as investidas do portfólio.
Diversas delas também sofreram graves consequências com a crise, algumas inclusive também tiveram as receitas praticamente zeradas. No outro extremo, no entanto, existem empresas que estão “afogadas” em demanda e tem um desafio também enorme de crescer em meio a crise.
Segundo ele, ainda não dá para avaliar o quanto a estratégia irá mudar, mas concorda que deverá existir alteração no critério de seleção de investimentos.
Paulo Passoni – SoftBank
Segundo Passoni, ninguém sabe de fato o que vai acontecer com a crise, então, o melhor a ser feito é se preparar para o pior, e esperar pelo melhor. Segundo ele, com o passar do tempo conseguiremos ter uma ideia melhor do que está acontecendo de fato e traçar planos de ação.
Para ele, a principal razão que faz os gestores investirem no mercado de Venture Capital é pela capacidade dos empreendedores criarem novas tecnologias ou formas de solucionarem os problemas existentes. O que deve mudar agora.
Neste momento, segundo Passoni, o Softbank está totalmente focado nas empresas do portfólio e é muito mais provável que qualquer investimento realizado seja nas próprias investidas. Entretanto,diante do cenário atual é algo difícil que isso aconteça num curto período de tempo, visto que todas empresas estão bem capitalizadas.
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