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Por que a CCR, criadora do Sem Parar, investiu na startup de mobilidade Quicko?

Por que a CCR, criadora do Sem Parar, investiu na startup de mobilidade Quicko?

22 de maio de 2020
13 minutos de leitura
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Artigo atualizado em 22 de maio de 2020

Este conteúdo faz parte do estudo Distrito São Paulo Report e traz a entrevista completa com Pedro Somma, CEO da Quicko.

Nos últimos anos vimos diversos serviços e aplicativos surgirem no mercado levantando uma questão muito importante: qual seria o futuro do transporte no Brasil e em cidades como São Paulo?

Só para você ter uma ideia, o Uber chegou ao Brasil, em meados de 2014, primeiramente no Rio de Janeiro, e posteriormente, no mesmo ano, em São Paulo. Com ele vimos uma discussão tomar conta sobre atendimento ao usuário e o papel do táxi no transporte.

De lá para cá, anos se passaram e o futuro que discutimos há sete anos já chegou com novos players, demandas e serviços sendo ofertados. Antes o que podia ser considerado um “oceano azul” (que representa um novo mercado, uma oportunidade que outras empresas ainda não enxergaram) hoje pode ser considerado um mar vermelho com diversas startups e empresas brigando por uma fatia do mercado de mobilidade.

Um desses serviços que traz uma proposta diferenciada é a Quicko, startup de mobilidade urbana que oferece diversas soluções para o usuário integrar diferentes meios de transporte para garantir uma jornada mais rápida e conveniente. O app traça rotas a partir de cerca de 15 modais disponíveis em São Paulo e do comportamento dos mais de 21 milhões de habitantes da região metropolitana.

Recentemente, a Quicko recebeu um investimento de US$ 10 milhões da CCR, empresa criadora do Sem Parar, e do J2L, fundo de private equity do Rio de Janeiro. Para entender mais sobre o aporte recebido, os planos da startup e a relação com a CCR, entrevistamos Pedro Somma, CEO da Quicko.



Entrevista completa com Pedro Somma, CEO da Quicko

Qual é o diferencial da Quicko para outros aplicativos de mobilidade urbana como a Moovit ou até mesmo o Google Maps?

A Quicko tem como objetivo olhar a jornada completa da pessoa e não só a mobilidade, essa é a primeira diferença que se vê. Nós sentimos isso com relação a Moovit, Citymap entre outros concorrentes. Nós tentamos de alguma maneira criar de fato um ecossistema da jornada da pessoa. Por exemplo, o aplicativo da Quicko está plugado em outra startup que disponibiliza aluguel e compra de guarda-chuvas, ao longo da jornada, em mais de 300 pontos da cidade.

Sabemos que se você estiver de ônibus ou metrô sua rotina muda e te ajudar com um guarda chuva talvez seja uma excelente facilidade para seguir numa boa. 

Por sermos brasileiros, temos toda a estrutura para estar aqui e acreditamos muito no território, entender São Paulo e criar uma estrutura que consiga perceber como é a vida naquela cidade. Hoje estamos somente em São Paulo, mas quando expandirmos para outras cidades a ideia é ter um viés bem local, que é bastante relevante para as operações e colaborar com os usuários.

A Quicko anunciou em setembro o recebimento do aporte de US$ 10 milhões da CCR em Séries A, como esse capital será aplicado? Quais são as estratégias de expansão?

Sim, nós recebemos US$ 10 milhões da CCR e da J2L Partners, um fundo do Rio de Janeiro, e a nossa ideia é utilizar o capital para fazer o product market-fit da Quicko, nós montamos uma equipe de produto e desenvolvedores bastante robusta para construir isso.

Temos hoje aproximadamente 35 pessoas no time e para escalar isso até um número de usuários que nos dê segurança que o negócio está evoluindo. Nós fizemos em outubro o lançamento oficial do aplicativo, utilizando diversos canais de comunicação e toda essa parte de Growth. 

Nós estamos também nos metrôs e ônibus onde sentimos que a dor da pessoa é mais vivida, mais onde ela sente a necessidade de utilizar nossa solução. Além disso, também patrocinamos eventos para levar um discurso mais técnico sobre a temática.

Um ponto bastante importante: a Quicko tem um viés muito técnico de mobilidade, com especialistas em nossa equipe. Recentemente, passamos a marca de 200 mil downloads em pouco tempo. Com isso, nós sentimos o crescimento relevante de usuários e entendemos que as pessoas estão de fato interessadas em ter uma ferramenta que ajude a jornada de mobilidade e nós estamos bem empolgados para esse ano. É claro que a crise que estamos vivendo neste momento tem impacto, mas achamos que mesmo assim há pessoas que estão nas rua nós e teremos que ajudá-las, como policiais, bombeiros, garis, entre outros. Elas vão encontrar ajuda na gente para passar por isso de maneira fácil.

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Quais foram as motivações para a Quicko captar os recursos? E o que muda com a chegada da companhia?

Explicando o contexto da Quicko, nós somos mais uma Corporate Venture do que um Venture Capital. A Quicko surgiu como uma visão de jornada do usuário pela própria CCR, então nós recebemos o aporte a partir do momento que aquele projeto tivesse asas e pudesse caminhar com as próprias pernas.

A CCR tem sido um parceiro super importante para nós entendermos a visão do operador de logística e sendo nós uma plataforma que pluga todos os operadores para facilitar a vida do usuário, como Tembice para bicicletas, ônibus, metrô, patinetes e outros parceiros de mobilidade e experiência.

Encaramos a parceria com a CCR como um aprendizado muito importante na relação “operador e mobilidade”. Nós temos desenvolvido a operação com qualidade e criando uma ótima experiência para a pessoa que está dentro da jornada. Por ser um Corporate Venture, a gente está com eles desde o começo, esse aporte foi para executar uma visão de plataforma de um operador logístico.

Em relação ao empreendedorismo quais foram seus maiores aprendizados tanto Quicko quanto na 99, quando você ingressou como um dos primeiros funcionários?

O ponto mais importante que aprendi na 99, onde entrei logo no começo, em 2013, foi foco. Nessa época, tínhamos pouquíssimos recursos para testar, o que nos obrigava a escolher bem o que fazer. O foco era achar rapidamente um táxi rápido para um usuário, gerando corridas para os motoristas e fazer isso bem foi essencial para crescer muito rápido.

Na Quicko, nos esforçamos muito nesse sentido. Com um escopo potencialmente muito amplo e o investimento que recebemos do Grupo CCR e da J2L, ter foco é ainda mais desafiador, já que muitas portas se abrem, mas as ‘acabativas’ são tão importantes para os negócios quanto às iniciativas.

Acredito que a segunda lição muito importante é resiliência. O ambiente de negócios de uma startup é cheio de riscos e incertezas, por isso é vital ter energia para testar, errar e ajustar sem se abater ou desistir porque as iniciativas não saem exatamente como o esperado. É preciso aprender com isso e tentar de novo, rapidamente.

Entendo que este processo é bastante demandante emocionalmente e parecido com uma montanha russa: é possível ter certeza que a startup será um unicórnio logo de manhã, ao meio dia achar que precisa fazer as contas para fechar porque algo não saiu como esperado e às 15h fechar uma parceria incrível que anima novamente. A 99 teve dias muito difíceis, em que não sabíamos o que aconteceria na semana seguinte, e também fases sensacionais, com a energia muito alta. Um bom empreendedor precisa ter capacidade de passar pelos dois momentos com resiliência e boa gestão emocional.

Em relação a experiência que você teve na 99, ela que te fez empreender?

Pessoalmente falando eu tive diversas experiências empreendedoras, poucas coisas na minha vida foram tão empreendedoras quanto trabalhar no centro acadêmico da faculdade, de fato, você precisa resolver muita coisa e muito rápido. Para mim o empreendedor é um resolvedor de problemas que tem foco, capacidade para testar e também resiliência para resolver problemas.

Comecei na faculdade isso, fui de um centro acadêmico, fui coordenador de um cursinho popular e vi que as oportunidades em empresas robustas me davam menos capacidade testar e aprender. Então o que despertou foi isso e a 99 me deu a oportunidade de trabalhar empreendendo, ganhar dinheiro empreendendo e daí para frente foi uma decisão de vida trabalhar desta forma.

Como você enxerga a evolução da mobilidade urbana em São Paulo com as soluções de mobilidade como Uber, 99 e a Quicko integrando esses modais?

Eu acho que mobilidade é fazer as oportunidades serem acessíveis, preciso fazer as pessoas chegarem à eventos culturais, ao trabalho, à escola entre outros locais. Então, eu acho que qualquer coisa que trabalhe nesse sentido é mobilidade e ajuda muito. Nesse sentido, duas tecnologias ajudaram muito. A primeira é a Mobile com GPS que foi fundamental, surgindo diversas facilidades com isso. A outra foi a tecnologia de Open Data que é muito interessante e por fim uma filosofia de Share Economy.

Uber e 99 Táxi tudo isso vem de uma esteira de combinação desses fatores que tornaram o ecossistema de mobilidade muito interessante facilitando a vida das pessoas, seja pedindo  um táxi de maneira rápida ou até mesmo pela Quicko ao verificar onde está o ônibus em tempo real. São tecnologias que ajudaram muito.

Atualmente a discussão gira em torno da infraestrutura urbana e a relação com a cidade – que ficou bem mais sofisticada também; não acredito que a evolução é colocar mais modais na rua.

Dessa forma, o próximo passo da transformação urbana  está ligado à eficiência do ecossistema como um todo de mobilidade e, assim, se discute os novos serviços, Uber , 99, Tembice e a infraestrutura urbana, os terminais de ônibus, ciclovias, corredores e faixas exclusivas para você realizar isso.

O ponto principal que norteia essa eficiência, que é o que a Quicko acredita e tem liderado, é a eficiência colocada do ponto de vista do usuário da mobilidade e não das empresas de mobilidade.

Hoje, uma pessoa para sair de casa precisa de quatro a cinco aplicativos, lidar com o risco de saber se terá uma Tembice na ponta do metrô, não sabe se teve algum problema na linha de metrô, porque a informação está localizada e a principal fonte de informação do metro é o Twitter e não o site oficial. Acho que o desafio de mobilidade não é colocar mais modais na rua e, sim, fazer com que eles convivam bem no ponto de vista do usuário, bilhetagem na integração de pagamentos, entre outras. O futuro da mobilidade é discutir isso. Existe até um termo que gosto de utilizar para expressar esse momento que é “Mobility as a Service”. Mobilidade cada vez mais vai ser encarada como um serviço e não como propriedade. Você não vai precisar ter um carro, não vai precisar ter uma bike. Mas terá a possibilidade de escolher se um dia irá de bike e no outro se irá de carro a qualquer lugar.

E como foi acompanhar essa evolução de 2012 com a 99 até agora, em 2020, do setor de mobilidade? Mudou muita coisa?

Sim, com as tecnologias e também com as pessoas. A última pesquisa realizada em 2017 com usuários do metrô foi muito reveladora: o número de pessoas que usam bicicletas aumentou drasticamente, como também das que usam táxi. A grande diferença que percebo é que as próprias pessoas de São Paulo, especificamente, mudaram a forma de se relacionar com a mobilidade, isso é evidente.

Então, desde de o Governo Kassab vem sendo discutido fortemente a questão de mobilidade. As pessoas começaram a ver a cidade de outra forma e começou a demandar do poder público soluções, um movimento bastante interessante de fato. Hoje poucas pessoas esperam um táxi no ponto de táxi e espero que com a Quicko futuramente as pessoas, também não esperem os ônibus sabendo o momento que ele passa, e eventualmente também ter uma bicicleta disponível.  Dessa forma, São Paulo já está mudando as burocracias que existiu há muito tem para a evolução de novas soluções.

Anteriormente, você citou sobre profissionais de tecnologia, como está sendo a busca por esses profissionais?

Um dos maiores desafios das startups hoje é de encontrar profissionais de tecnologia e de produto. O mercado de startups no Brasil cresceu muito nos últimos anos. Quando eu estava na 99, em 2013/2014, tinham poucas startups e hoje vemos o ecossistema mais organizado e crescendo, então a demanda por profissionais aumentou. No entanto, acreditamos muito nas indicações, por isso incentivamos todo mundo a indicar pessoas para a Quicko. Quanto mais eles sentirem que gostam da empresa e do nosso propósito, por estarem se desenvolvendo bem e crescendo suas carreiras, mais eles indicam pessoas boas para integrarem ao time. Nós achamos que o employer brand é super importante para trazer mais gente e tem dado certo, nós temos conseguido trazer muita gente boa.

O que nós temos visto bastante e também tem sido bastante questionado é esse modelo de capital intensivo que as startups acabam tendo. O quanto que vale queimar caixa em troca de teste e expansão. Nesse momento de coronavírus, isso vai ser colocado em prova, certo? Qual é a sua visão hoje e como vocês se estruturaram para esse sentido?

No ponto de vista de mobilidade estamos discutindo operador e plataforma. No ponto de vista negócios acreditamos que temos que ser um negócio sustentável, as duas grandes visões que sustentam a Quicko, o ponto de vista de plataforma, operador logístico dos negócios como startup de capital intensivo.

O plano é muito claro, ainda mais para essa primeira captação, que nós precisamos fazer o negócio gerar dinheiro. Temos isso em mente e é muito importante fazer isso acontecer. Nós não acreditamos em capital intensivo e crescimento a qualquer custo, queremos criar e desenvolver um produto bem encaixado. Por isso, boa parte do aporte é para o desenvolvimento de produto e para um negócio que consiga crescer bem e com qualidade. Respondendo sua pergunta, nós não iremos seguir para um modelo de capital intensivo e queima de caixa indiscriminada para crescimento, acreditamos crescer com um produto e negócio sustentável.

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