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Como os fundos de venture capital incorporam critérios de ESG em suas decisões de investimento?

Como os fundos de venture capital incorporam critérios de ESG em suas decisões de investimento?

22 de outubro de 2020
7 minutos de leitura
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Artigo atualizado em 22 de outubro de 2020

A preocupação com a sustentabilidade das empresas vem ganhando espaço nas decisões dos fundos de venture capital. O tema deixou de ser apenas uma questão periférica para se tornar critério decisivo para a escolha das empresas-alvo das gestoras.

Pesquisa da consultoria e auditoria EY mostrou que fatores não financeiros se tornaram parte fundamental do processo de tomada de decisão de investimento. Em um levantamento com investidores institucionais, 97% afirmaram que realizam algum tipo de avaliação não financeira nas empresas candidatas a receber investimentos.

Neste artigo, vamos entender melhor o que é investimento sustentável — ou ESG (Environmental, Social and Governance), em inglês — e como os fundos de venture capital estão incorporando essas questões em suas decisões de investimento. Acompanhe!

O que é investimento sustentável?

Para entendermos o que é investimento sustentável, vamos recorrer ao termo usado em inglês: ESG, que significa Environmental, Social & Governance, ou seja, Ambiental, Social e Governança. 

Assim, investir em ESG significa fazer investimentos sustentáveis e socialmente responsáveis em empresas que contemplam, atreladas à sua missão e operação, a transformação do mundo em um lugar melhor, respeitando normas ambientais e administrativas.

Um exemplo da relevância crescente desse tema vem da BlackRock, a maior gestora de investimentos do planeta com mais de US$ 7 trilhões sob gestão. Em sua carta anual para CEOs, a empresa anunciou uma série de iniciativas para colocar a prática de investimentos sustentáveis no centro da construção de carteiras e da gestão de risco. 

O documento deixa clara a mensagem de que empresas com alto risco ambiental seriam removidas de sua carteira. Entre as iniciativas para posicionar a sustentabilidade no coração da sua estratégia de investimento, a gestora cita o desinvestimento de negócios com alto risco de sustentabilidade, como os produtores de carvão para termoelétricas.

Como os fundos de Venture Capital aplicam o conceito de investimento sustentável?

Para mostrar como os fundos VC vêm usando o conceito de ESG em suas decisões de investimento, vamos ver três exemplos. Confira a seguir.

Crescera

Entre os casos citados no relatório está o da Crescera Investimentos (antiga Bozano Investimentos), uma gestora de recursos com aproximadamente R$ 2,3 bi sob gestão e foco em Private Equity e Venture Capital. Ela incorpora os critérios ESG ao processo de investimento na fase de due diligence, com a participação de escritórios de advocacia especializados e consultorias que avaliam os impactos da empresa sobre a comunidade e principais stakeholders (empregados, administradores e acionistas).

Foi assim com a decisão de investir no Hortifruti Hortigil. Em 2010, a gestora fez um aporte de R $85 milhões na empresa. Naquele momento, tratava-se de um negócio familiar do Espírito Santo, com 15 lojas em 3 cidades do estado, que comercializava frutas e vegetais frescos. Em 2016, quando ocorreu o desinvestimento, sua atuação havia se ampliado para 40 lojas em 7 cidades do Rio de Janeiro e Espírito Santo, 6.600 funcionários, com um volume de vendas de 20mil ton/mês e crescimento da receita de R$ 400 milhões em 2010 para R$ 1 bilhão em 2015.

A Crescera Investimentos teve papel ativo na governança da empresa, por meio de participação no Conselho de Administração, provendo e alocando capital, negociando contratos com partes relacionadas e profissionalizando a empresa. 

Com isso, promoveu mudanças nas práticas de governança da companhia, com a profissionalização da gestão. O desenvolvimento de Comitês e a contratação de executivos para os cargos de CFO, e posteriormente de CEO, trouxeram sólida experiência à empresa. As práticas ajudaram a aumentar satisfação de colaboradores — e consequentemente reduzir a rotatividade, além de aprimorar o monitoramento e gestão de fornecedores, dado que 80% das vendas e 50% da receita eram oriundos de produtos perecíveis. 

A Hortifruti estabeleceu uma série de soluções para melhorar a qualidade dos insumos, otimizar a colheita, o armazenamento da produção, o sistema de irrigação e a drenagem do solo e, em última instância, os lucros dos produtores. Além disso, melhorou a eficiência energética nas lojas, o que reduziu o custo operacional, e conseguiu diminuir resíduos de desperdício de alimentos. As práticas apoiaram a mudança de cultura da empresa, aumento do desempenho e redução de custos recorrentes.

Rise Ventures

Esse tipo de preocupação está longe de se restringir à Crescera Investimentos. A Rise Ventures, um fundo de Private Equity Early-Growth, seleciona empresas que apresentam retorno financeiro e impacto positivo, seja ele social e/ou ambiental.

Ela estabeleceu três princípios que guiam a sua atuação, e todos estão centrados em questões de sustentabilidade. Veja abaixo:

  1. a preservação da vida e a inclusão social são temas urgentes e demandam solução;
  2. é papel dos líderes da nova economia fazer essa transformação acontecer;
  3. o “futuro melhor” já começou, e só será status quo com um dia de trabalho após o outro.

No seu portfólio, constam empresas como a Beleaf, de alimentação plant-based; a Alba, de energia solar; e a Okana, de coleta, tratamento e destinação de efluentes industriais perigosos.

Os assinantes do Inside Venture Capital Brasil já têm acesso exclusivo à entrevista que realizamos com o CEO e co-fundador da Rise Ventures Pedro Vilela. Está imperdível!

Barn Investimentos

Outro exemplo nesse sentido é o do Barn Investmentos, que afirma, em seu relatório de impacto, que “todos os investimentos têm impacto sobre o planeta. Esses impactos podem ser positivos, como criação de empregos e desenvolvimento de tecnologias limpas, ou negativos, como desmatamento, poluição e exploração de populações vulneráveis”.

Nesse sentido, o fundo entende que o crescimento populacional e as necessidades da sociedade moderna, combinado com as mudanças climáticas, impõem desafios que demandam modelos de negócios inovadores e tecnologias que possam oferecer bens e serviços para um número crescentes de pessoas usando menos recursos.

Por isso, vem investindo em empresas que tenham impacto positivo no meio ambiente e/ou na sociedade moderna.

Para medir esse impacto, a Barn criou uma metodologia própria e estabeleceu alguns KPIs ESG. O BOIS (Barn Overall Impact Score, ou índice de impacto geral Barn) leva em consideração seis critérios:

  • meio ambiente: recurso, ecossistema e clima;
  • sociedade moderna: economia, bem-estar e trabalho.

Depois de determinar o BOIS, o fundo seleciona pelo menos dois indicadores de objetivos de desenvolvimento sustentável para medir e acompanhar anualmente. O portfólio de cada companhia investida conta com um conjunto de indicadores, de acordo com o setor em que atua.Assim, vimos que o investimento sustentável está ganhando espaço também nas decisões dos fundos de venture capital. A urgência de cuidar da preservação do planeta e da vida fez com que os temas de ESG passassem a ocupar um papel central no mundo dos negócios. Vale destacar que os exemplos citados neste artigo estão longe de esgotar o assunto. Diversos outros fundos de Venture Capital também adotam práticas semelhantes, como o Positive Ventures, Barn Investimentos e a Vox Capital.

No vídeo abaixo, você pode conferir a live com Fabio Carrara da Solfácil Fintech, investida do Distrito Ventures, sobre ESG (Environmental, Social and Governance) ao lado de grandes nomes como Guilherme Benchimol, Marcos Sterenkrantz e Marta Pinheiro da XP, Franklin Luzes Junior da Microsoft e Gabriela Chagas Chodakiewitz da VOX.