IPO de startups no Brasil coloca ecossistema em um novo patamar
Artigo atualizado em 6 de novembro de 2020
Texto enviado por Paulo Roberto Silva, editor do Inovação Aberta
Nos primeiros dias de novembro três startups farão os seus IPOs na B3, a bolsa de valores brasileiras. Enjoei, Méliuz e Wine já estão em período de reserva de ações, e Mosaico e Bemobi estão com seus planos de abrir capital em análise na CVM. Fora a Locaweb, que abriu os trabalhos em fevereiro e se tornou o melhor IPO do ano.
Este é um movimento inédito e muito significativo para o ecossistema brasileiro. A última empresa de tecnologia a abrir capital na bolsa brasileira até 2019 havia sido a Linx, em 2013. De lá para cá o ecossistema de startups brasileiro amadureceu e se fortaleceu.Só para dar uma ideia da maturidade do ecossistema, já temos 12 startups consideradas unicórnios no Brasil.
Mesmo assim, abrir capital na bolsa brasileira não estava no radar das startups até este ano. Uma das razões era o tamanho limitado do nosso mercado, que até 2018 contava apenas com 813 mil investidores pessoas física. Desde então o mercado de capitais brasileiro cresceu de forma exponencial, atingindo 1,6 milhões de investidores individuais em 2019 e 3 milhões de investidores em setembro de 2020.
Além disso, a queda dos juros dos títulos públicos aos patamares mais baixos da história, 2% ao ano, aumentou o apetite dos investidores a risco.
Esta combinação de fatores fez com que a bolsa brasileira se tornasse atrativa para IPOs de startups. Até 2019 o destino mais provável das brasileiras que queriam abrir capital era o mercado norte-americano. O caminho foi aberto pela Netshoes em 2017, e nos anos seguintes fizeram o mesmo PagSeguro (2017), Stone (2018) e XP (2019).
O IPO da Netshoes foi bastante analisado pelo ecossistema brasileiro. O artigo do Diego Gomes da Rock Content analisando a operação em cima dos acontecimentos circulou intensamente na época. Há três anos, quando a Netshoes fez seu IPO, Nova York parecia o caminho ideal para as startups brasileiras em busca de abrir o capital.
Agora o mesmo deve acontecer com os resultados de Enjoei, Meliuz e Wine, que estão sendo acompanhados de perto pelo ecossistema. Entre os impactos que essas operações de IPO podem causar no mercado, podemos listar:
- Investidores e analistas vão aprender a analisar os indicadores de sucesso de startups. De certa forma, o caminho já vem sendo preparado com os grandes varejistas como B2W e Magazine Luiza, o Banco Inter e as empresas de SaaS como TOTVS, Linx e Locaweb. Os relatórios trimestrais dessas empresas estão acostumando o mercado a interpretar dados como GMV, CAC, churn rate e outros típicos dos negócios digitais;
- Modelos de negócio mais disruptivos podem ser melhor compreendidos. É o caso especialmente do Méliuz, que opera em cashback, cuja compreensão pelo mercado é crucial para o sucesso dos papéis na bolsa. E seu sucesso pode estimular a abertura de capital de startups com modelos de negócio mais inovadores ainda;
- Essas empresas sairão de seus IPOs com dinheiro em caixa, o que pode fomentar novas aquisições e investimentos
Em especial, o sucesso dessas operações de IPO pode abrir caminho para outras startups brasileiras abrirem capital no Brasil. O que coloca o ecossistema brasileiro em um patamar superior ao atual, tanto em estímulo a novos empreendimentos quanto em disponibilidade de capital para investimento.