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Mãe empreendedora: como conciliar as funções de maternar e empreender

Mãe empreendedora: como conciliar as funções de maternar e empreender

7 de maio de 2021
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Artigo atualizado em 7 de maio de 2021

Não é uma tarefa fácil conciliar a criação dos filhos, cuidados com a casa e a administração de um negócio. Se pensarmos o cuidado dos filhos como a gestão de uma startup, há muitas semelhanças do ponto de vista de gerenciamento de prioridades e demandas. Afinal, é necessário fazer a coordenação do todo, planejar o dia a dia, criar metas, prever falhas, pensar no próximo passo e muito mais.

Além da administração, cabe à mãe o trabalho dos colaboradores do negócio, a mão de obra: elas preparam o alimento do filho, dão banho, lavam suas roupas, o colocam para dormir, levam à escola e ao médico, dedicam tempo para ajudá-lo com lições de casa e separam um momento para brincarem juntos. São 67 milhões de mães no Brasil, das quais 31% criam os filhos sozinhas e 46% trabalham, dados da pesquisa do Instituto Data Popular

Um estudo feito pela Fundação Getúlio Vargas, mostra que 50% das mulheres são demitidas após, aproximadamente, dois anos da licença maternidade. Esse é um fato que comprova a dura realidade que mães enfrentam no mundo corporativo. A pouca receptividade a esse novo momento na vida dessas mulheres, leva cada vez mais mães a buscarem sua própria dinâmica de trabalho: o empreendedorismo. 

Empreendedorismo materno

Quando nasce uma mãe, nasce uma empreendedora. É isso o que mostra uma pesquisa da Rede Mulher Empreendedora. De acordo com o estudo “Empreendedoras e seus negócios”, de 2019, 68% das empreendedoras decidiram investir no próprio negócio após se tornarem mães. O estudo também revela que 53% das empreendedoras entrevistadas têm filhos. 

Segundo o Female Founder Report, no ecossistema de inovação, mais da metade das respondentes afirmam ter filhos, 51,6% delas são mães. Entre as fundadoras, mais de 30% indicou parcial ou total a não participação de parceiros na criação dos filhos. O estudo também mostra que o quinto motivo principal pelo qual elas decidem empreender é para ter mais proximidade com os filhos. 

Novas barreiras

As situações constrangedoras que antes eram vividas em entrevistas de emprego ou atuando dentro da empresa, agora acontecem nos pitchs de investimentos, reuniões com clientes, feiras e summits, entre outros ambientes que fazem parte do ecossistema de inovação, um meio com predominância masculina. O Female Founder Report evidencia uma realidade que precisa ser transformada, 90,2% das startups são fundadas exclusivamente por homens. 

Ser uma mãe empreendedora impõe alguns desafios, mas conciliar a vida pessoal e profissional está entre os principais deles. O Distrito convidou cinco mães que são residentes no programa de desenvolvimento Distrito for Startups para compartilharem suas experiências nessa admirável jornada de se dedicar a diferentes paixões e funções. 

Mãe, empreendedora e muito mais

Meu nome é Fernanda, tenho 41 anos, sou empreendedora desde os 16 anos e me tornei mãe do Felipe, de 4 anos, em setembro de 2020. Sou responsável pela Mais.im, uma startup de soluções de comunicação para a área da saúde e times de atendimento ao cliente. A empresa foi fundada junto com o Márcio, que, além de conduzir toda estrutura tecnológica da empresa, também é meu companheiro de vida. Compartilhamos os desafios da empresa, que não são poucos, e também o de construir essa nova família.

Empreender requer muita dedicação e ser mãe também! Acho que o mais difícil é conciliar as demandas, que além de serem muitas, são muito diferentes e chegam a todo momento. Meu maior desafio tem sido conseguir realizar o que planejo para o meu dia e não me sentir culpada por não ter conseguido fazer tudo. Manter o foco já era um desafio pessoal que tinha antes da maternidade, agora, isso ficou ainda mais difícil!

Outro ponto comum e tão desafiador entre o maternar e o empreender é a necessidade de encontrar equilíbrio emocional. A criança nos desafia a todo momento com comportamentos que nos tiram do eixo e ao mesmo tempo a empresa está exigindo que tomemos decisões que podem mudar o rumo do negócio. É preciso tempo e dedicação para conseguir tomar boas decisões e manter a mente saudável!

Com a maternidade, aprendi a ser mais leve e a considerar o que é possível ao invés do perfeito, além de escolher melhor o que é prioridade tanto nas atividades da empresa, quanto no dia a dia em casa. Mesmo assim, ainda sinto muita angústia por não realizar tarefas que, a princípio, parecem simples.

Depois que virei mãe, tenho pensado todos os dias em como esses desafios podem me ajudar a criar uma nova rotina na empresa, mais direcionada para a gestão feminina e maternal, gerando resultados sustentáveis para o negócio e para a vida de todos que nos ajudam na empresa.

Me chamo Júlia Schuwartz, sou founder e CEO da startup Bem Cuidar. Sou mãe de dois meninos, o Murilo (2 anos e 3 meses) e Bruno (8 meses) , e de uma menina, a Catarina, que virou um anjinho há três anos e meio. Em meio a perda da minha filha, a minha mãe também estava passando por um momento bem delicado, com uma demência já em estado avançado, a minha vida realmente virou de ponta cabeça. Após muitos anos de um sofrimento intenso e a partida da minha mãe há um ano e meio, vimos na dor uma forma de ressignificar todo esse sentimento e transformar em amor, ajuda e solução para tantas famílias que vivem o que eu experimentei sem apoio e sem ajuda. Assim criamos a bemcuidar.app que há quase dois anos já cuidou de quase 100 pacientes e famílias. 

Meu maior desafio é dosar a disponibilidade da função de empreendedora e de mãe, e equilibrar o meu papel entre uma coisa e outra, que muitas horas se confundem por estar fazendo várias coisas ao mesmo tempo. Para mim este é o meu maior desafio, equilibrar o tempo, a disponibilidade e não deixar faltar em lado algum. 

Acho que só uma mãe mesmo tem essa capacidade de conciliar as duas coisas, porque nós mulheres temos a capacidade de dar conta de tanta coisa sendo apenas uma. Eu me multiplico em quantas preciso ser e conto com uma rede de apoio durante o dia para conseguir trabalhar e dar o meu máximo na empresa. Mas gerir uma startup é tão desafiador quanto o maternar… os dois tem as delícias e as amarguras de ser e existir. 

Sou Tais Pinheiro, mãe da Celina (que completa 2 anos esse mês), fundadora da Conube Contabilidade Online, empreendedora há dez anos e contadora há mais de 20 anos. Acredito que a transformação e evolução começam em mim!

Sou mãe há dois anos apenas. Mas o primeiro desafio foi fortalecer a importância sobre meu autoconhecimento. Empreender é também uma forma de falar de mim, sobre o que acredito, nos meus propósitos. Ao me tornar mãe eu pensei: “O que devo ser agora? A qual papel devo me empenhar mais?” Passei a entender que eu poderia exercer os dois papéis, e outros ainda se eu quisesse. No dia a dia eu fui entendendo e sentindo que, seja como mamãe da Celina ou founder da Conube, eu me sinto realizada quando dou o meu melhor! E a maternidade aumentou mais meu sentimento de ser uma pessoa melhor todos os dias. Faço questão de participar na construção do amanhã, porque é onde minha filha estará: no amanhã!

É um reaprendizado sobre conciliação de agendas e identificação de prioridades (tanto no maternar, como na gestão). Sabe sobre a metodologia ágil? Então, também aplico no maternar quando estou nos momentos de desenvolvimento com a minha filha, rs. 

imagem de Renata Bonaldi, fundadora da SleepUp

Renata Bonaldi, fundadora da SleepUp

Meu nome é Renata Redondo Bonaldi, sou engenheira, casada, tenho 1 filha de 2,5 anos. Sempre trabalhei com inovação, em grandes multinacionais. Morei 6 anos fora do Brasil, onde fiz meu mestrado, doutorado e MBA.

Sempre tive um mindset empreendedor, adoro criar, aprender, pesquisar e descobrir. Meu sonho era empreender e fazer algo inovador que pudesse ajudar as pessoas. Após terminar meu MBA e voltar da licença maternidade, decidi pedir demissão da carreira corporativa e seguir um propósito maior. 

Então ingressei no ecossistema de empreendedorismo e inovação, montei a equipe e nesse pouco mais de um ano de estrada, temos muitos sucessos para compartilhar! Somos graduados no Founder Institute, residentes do Distrito, acelerados pela Samsung Creative Startups, incubados na Eretz.bio e Supera, e ganhadores da premiação UK Medtech Awards.

Tenho mais 3 mulheres na equipe, com filhos pequenos, que nasceram e cresceram na pandemia. É muito difícil pra todos nós, mas conseguimos juntar forças e está valendo super a pena o esforço para ajudar milhões de pessoas a dormir melhor, já que distúrbio do sono já é a terceira grande consequência da pandemia, e isso reforça ainda mais nosso propósito de ajudar as pessoas a ter mais qualidade de vida!

São muitos os desafios, principalmente com a pandemia, os filhos querem brincar, querem atenção, são apegados à mãe e os mais pequenos não entendem que a mãe tem que trabalhar em casa. Como empreendedora, estamos focando 100% do tempo na empresa e separar vida profissional com vida pessoal é um desafio grande, nem sei se faz sentido separar hoje em dia, visto que com a pandemia o trabalho entrou pra dentro de casa. Existe também o sentimento de culpa de não poder dar a atenção que eles pedem e a preocupação com a parte pedagógica. Quando minha filha tinha 10 meses eu fui pro Vale do Silício e fiquei 1 mês lá, ficar longe dela foi muito difícil, mas era importante para a startup. Tenho sorte de ter um marido e família que me apoiam! Mas quem não tem esse apoio é ainda mais difícil.

imagem de Isis Grossi, fundadora da Baby Concierge

Isis Grossi, fundadora da Baby Concierge

Eu sempre tive vontade de ser mãe. Em 2020 tive a oportunidade de lançar no mercado um serviço voltado para este público e eu ainda não sabia na prática o que eram todas essas vivências. Empreender nesse nicho me fez mudar de pensamento, me aprofundar mais sobre uma realidade ainda desconhecida e também me sentir mais preparada para a chegada da minha filha, já que engravidei em meio a esse processo. 

O Baby Concierge é como se fosse um filho. É um projeto muito especial, ainda mais por ser pertinente ao momento, mas não só por isso, temos um propósito muito claro e real, que é o de facilitar as vivências maternas por meio de conhecimento, indicações de chancelas importantes e serviço necessários para o universo materno-infantil.

Empreender nesse ramo é como nutrir um bebê na gestação. Eu aguardo pela chegada da minha filha enquanto aguardo a decolagem da minha startup. Tem muito amor envolvido além de tudo necessário para um negócio. E eu espero por muitos anos ver o projeto crescer bem como o crescimento da minha filha.