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A importância da liderança em tempos de covid-19

A importância da liderança em tempos de covid-19

17 de junho de 2020
9 minutos de leitura
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Artigo atualizado em 17 de junho de 2020

Nunca foi fácil ser um bom líder, mesmo em condições normais. Entretanto, no momento que estamos vivendo, a liderança nas empresas é ainda mais crítica e complexa do que em qualquer outro momento nas últimas décadas. “Mas por quê?”, você pode estar se perguntando.

Como as empresas estão lidando com a crise?

O GPTW compartilhou com o Distrito, pesquisa inédita para medir como as empresas estão lidando com a crise do covid-19. Foram ouvidas 97 empresas e mais de 26.000 funcionários até o momento. As conclusões foram as seguintes:

  • A pesquisa foi dividida em dois pilares: “cuidado com as pessoas” e “incentivo aos negócios”. No pilar pessoas, temos uma média de 96 pontos (máximo de 100) e em negócios, 89 pontos.
  • As pessoas estão dispostas a colaborar, mas poderiam ser mais envolvidas na busca de possíveis soluções.
  • Quem não migrou para o modelo de home office apresentou notas menores, o que era de se esperar, já que a ameaça ao contágio é maior.
  • 97% dos respondentes afirmam estarem confiantes na maneira com que a crise está sendo gerenciada pela empresa, e que foram tomadas todas as medidas possíveis para proteger as pessoas e suas famílias do coronavírus.

Apesar dos números animadores, é preciso lembrar que esses são números de empresas que se voluntariaram a fazer essa pesquisa com o GPTW. E essas, historicamente em sua maioria, são empresas que já se preocupam com as pessoas como parte de seu DNA. Fazem parte de um pequeno grupo.

Dessa forma, para se ter um maior entendimento, também é necessário olhar para os gestores, mais focado no todo. De qualquer forma, é animador saber que algumas organizações são capazes de reagir positivamente à atual situação.

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Como os gestores estão lidando com a situação

Em uma pesquisa com mais de 2.5 milhões de gestores no mundo todo, a Gallup, mostrou que 70% desses líderes não estão preparados para cumprir a sua função gerando um prejuízo de mais de US$ 300 bilhões na economia globalmente. 

Segundo a careerbuilder.com, 58% dos gestores dizem não ter recebido nenhum tipo de treinamento em Gestão de Pessoas, A falta de preparação para a posição de é um problema grave. Apesar do tema estar entre as maiores responsabilidades desses profissionais, é preciso refletir e fazer as seguintes perguntas:

  • Quantos desses gestores estudaram Gestão de Pessoas?
  • Quantos tiveram um gestor para mostrar o caminho das pedras?
  • Quantos podem contar com um BP de RH desde o primeiro dia?

O fato é que as empresas, em sua maioria, não têm preparado os líderes e nem sabem como. O principal critério para promover um funcionário a gestor é sua habilidade técnica, o que não está atrelado a competências de liderança. Muitos tornam-se gerentes ou coordenadores porque é o único caminho disponível para crescer na empresa. Então tornam-se gestores mesmo quando não querem ou têm competência para lidar com pessoas. Afinal, existe uma crença infundada que o gestor sempre deve ter o salário mais alto na equipe. O impacto disso? Quem nunca teve uma experiência extremamente negativa com um gestor?

Qual deve ser a prioridade das empresas

Em uma pesquisa interna feita pelo time de produtos da GPTW, notamos que há um enorme gap entre as expectativas que a alta liderança espera dos líderes e o que os seus liderados esperam.

De um lado, os gestores são cobrados pela alta liderança, especialmente para gerar resultados. Do outro, seu time cobra desenvolvimento de carreira, feedbacks constantes e “cuidado”. E no meio do caminho, está o gestor tentando equilibrar os pratos.

No final do dia, vence a cobrança que vem de cima, ou seja, resultado. E essa busca incessante por melhores resultados tem como principal objetivo dar um maior retorno para os acionistas – uma herança de décadas de uma economia na qual o valor das ações é o principal indicador de sucesso de uma empresa de capital aberto. Na prática: o retorno ao acionista é a única prioridade na maioria das empresas. O que não se encaixa na realidade do século 21: vemos exemplo após exemplo nos últimos anos de empresas que colocam o lucro acima de qualquer outra coisa e geram um impacto negativo nas pessoas, nos próprios negócios e no mundo.

Por isso, precisamos de uma mudança também na alta liderança. Os fins não justificam os meios, e o lucro não pode mais ser o objetivo final absoluto. Afinal, sem pessoas não há resultados! 

Os Impactos emocionais na média liderança

Estudos feitos pela Harvard Business Review mostram como estar na média liderança é exaustivo. Lidar com pessoas de diferentes níveis de autoridade é desgastante. Afinal, é preciso ser líder e também liderado, e balancear isso em todas as interações com os diferentes stakeholders não é simples. Segue abaixo uma tradução realizada pelo GPTW com trecho do artigo publicado pela HBR.

“Gestores de média liderança têm um relacionamento complicado com poder porque é ativado e vivido no contexto de relações interpessoais. Ao interagir com nossos superiores, naturalmente adotamos um comportamento mais de deferência (baixo poder). Quando interagimos com subordinados, por outro lado, adotamos um comportamento mais assertivo (alto poder).”

Cabe ao gerente, e a média liderança, que consiga alinhar a estratégia, a parte tática e a operação. É também de sua responsabilidade desdobrar e alinhar a cultura, os processos e o conhecimento. É normalmente também quem tem o pulso do negócio, pois está lidando diretamente com a operação da empresa, ou seja, está de frente para os problemas da área e sabe como ninguém o que precisa ser feito, ou deveria saber.

Como se tudo isso não fosse o suficiente, o gerente além disso precisa saber lidar com clientes, fornecedores, time, gestores de outras áreas, diretores, VPs e assim por diante. Sem resiliência e muito jogo de cintura não há como aguentar tamanha pressão. Falamos de tanta coisa que você pode até ter esquecido que ainda tem todo o contexto trazido pelo cov-19, que discutimos no início do texto. E agora? 

Sendo gestor, como dar conta de tudo isso mais o contexto de confinamento?

1. Buscar apoio psicológico 

Nunca houve um momento tão propício para as pessoas, que ainda não fazem, começarem a ter um atendimento terapêutico. Terapia serve para todos e nesse momento é importante ter uma pessoa para “desabafar” e ajudar no processo de autoconhecimento. O confinamento em si pode ser um grande impulsionador desse processo; ser forçado a estar apenas com você pode ser bem difícil, mas é essencial para o desenvolvimento pessoal e, consequentemente, como líder. Afinal, como liderar pessoas sem ser capaz de liderar a própria vida? 

E mesmo no contexto de isolamento social, existem saídas. Por exemplo, empresas como a Vittude, uma plataforma que possibilita a conexão com milhares de terapeutas online ou a Cíngulo, um app que busca gerar um processo guiado de terapias em áudio que podem ser escutadas no próprio aplicativo. 

2. Focar na zona de controle

Um exercício interessante é fazer uma lista com tudo aquilo que tira o sono em um papel, e  dividi-la em 2 colunas: “Tenho controle” e “Não tenho controle”. Para aquilo que está fora do controle, é necessário “desapegar” pelo menos um pouco, ou seja tentar não sofrer. Ex: o aumento de casos do covid-19 no Brasil pode ser preocupante, mas entraria na categoria do “não tenho controle”. Já ficar em quarentena e evitar qualquer contato social está na coluna do “tenho controle”. 

O mesmo vale para situações de trabalho: uma medida drástica de corte de custos no qual é preciso demitir 20% do seu time, para a maioria, infelizmente não estará sob controle. Porém, o que está sempre na zona de controle é tentar fazer esse processo o menos doloroso possível para as pessoas que vão sair e para as que irão ficar. O que é possível fazer dentro da zona de controle para melhorar o dia-a-dia dos outros como líder?

3. Rotinas e Rituais 

Criar rotinas e rituais. Praticar exercícios. Mesmo em casa, praticar meditação, ler livros, escrever. Criar hábitos positivos, ou manter hábitos de “antes” são importantes, porque geram um senso maior de controle sob a rotina, mesmo em isolamento. Também vale a pena evitar hábitos negativos, como o excesso de informação (e desinformação) em grupos e mais grupos de WhatsApp, noticiários, redes sociais, etc. 

Manter a sanidade mental é fundamental para todos. Para líderes, ainda mais. As pessoas buscarão neles o apoio, segurança e confiança para conseguirem passar por esse momento. Manter rotinas e rituais também com o seu time é fundamental. Reuniões diárias para saber como todos estão, o que têm feito e principalmente para manter um contato com as pessoas do seu time podem ajudar muito. Também ajuda manter os mesmos rituais do escritório presencial porém de forma online (reuniões com toda a empresa, Happy Hours virtuais, etc). 

Infelizmente, o quadro que temos hoje é o de gestores sobrecarregados, que chegaram à sua posição sem a preparação adequada, tentando resolver exigências opostas e irreconciliáveis, e ainda por cima em tempos de uma crise da qual não conseguimos enxergar o final, e que está desesperado até a mais calma das pessoas. 

Mas embora tudo isso, você, como gestor, tem um papel essencial na empresa, e sua equipe precisa de você nesse momento. Então se cuide você!

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