Como a Norte Ventures avalia o ecossistema de startups no RJ?
Artigo atualizado em 4 de maio de 2023
Para essa pergunta também foi considerada a opinião do Alex Vilhena, co-fundador da Malga, uma startup fluminense que a Norte investiu. Como um empreendedor que começou e está escalando uma empresa no Rio, Alex contribuiu com visões únicas sobre os pontos fortes e desafios do ecossistema do Estado.
De maneira geral, o ecossistema de startups e tecnologia no Rio de Janeiro é um dos mais robustos do Brasil. Entre as principais oportunidades, destacam-se o mercado menos competitivo em relação à São Paulo, o que permite escalar o negócio em um ambiente de oceano mais azul e reduzir gastos com aquisição de clientes, que é um dos principais desafios das empresas early-stage.
Outra questão interessante e até não-óbvia (aqui foi o Alex da Malga que deu o insight) é que, como o Rio está um pouco mais afastado do centro do ecossistema de tecnologia em São Paulo, há mais espaço para pensar de maneira individual e chegar a conclusões independentes.
Em São Paulo, como se fala com muitas pessoas, investidores, etc., pode-se acabar levando em consideração diferentes opiniões, o que pode prejudicar a formação de opiniões próprias e independentes.
Outro ponto positivo é que o governo do Rio tem tomado muitas iniciativas para fomentar o ecossistema, como trazer o evento Web Summit para a cidade, que é uma oportunidade incrível para startups e investidores locais se conectarem com players internacionais.
Quais os principais desafios das startups cariocas atualmente?
Em relação a desafios, acredito que alguns dos principais são os seguintes:
A maioria dos fundos de investimentos no Brasil está concentrada em São Paulo, o que pode dificultar a obtenção de recursos para as startups da região.
É claro que você pode falar com investidores via videoconferência ou outros métodos remotos, mas para estabelecer uma relação de confiança e de parceria de longo prazo (como é a relação entre investida e investidor), o “olho no olho” e a interação pessoal são fatores muito importantes para uma tomada de decisão.
Outro desafio para empreendedores no Rio de Janeiro é que, por estarem afastados do centro do empreendedorismo, eles têm menor chance de encontrar, por acaso, potenciais clientes ou empreendedores na rua, ou em escritórios, o que poderia levar a situações de negócios promissoras.
Esse aspecto é ainda mais importante para startups em estágios iniciais, já que ao final do dia, um potencial cliente ou investidor estará comprando o empreendedor mais do que o produto que ele vende (considerando que o produto ainda está em fase inicial). Portanto, a interação cara-a-cara ajuda muito nesse momento para estabelecer confiança e uma parceria de longo prazo.
Por fim, uma oportunidade seria incentivar cada vez mais o desenvolvimento de lugares geográficos onde as startups do Rio se concentrem e possam ter contato presencial, isso pode ajudar a aumentar as chances da sorte com o “acaso” e fortalecer o ecossistema empreendedor no Rio de Janeiro.
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Confira a entrevista de José Pedro Cacheado, Managing Partner, da Norte
Qual o papel dos investidores no fomento e desenvolvimento do empreendedorismo no Rio de Janeiro? Como a Norte Ventures tem contribuído para esse cenário no Estado?
O papel dos investidores no fomento e desenvolvimento do empreendedorismo no Rio de Janeiro é crucial. Investidores devem estar próximos do ecossistema, conhecer os empreendedores e entender o que eles estão fazendo de novo, além de conectar esses empreendedores a outros players, como fundos, empreendedores de fora, entre outros. É importante que os investidores atuem como apoiadores dos empreendedores, oferecendo orientação e recursos para ajudá-los.
No caso da Norte Ventures, temos investido ativamente em empresas que começaram no Rio de Janeiro, como Arcca, Gabriel, Hashdex, Malga, entre outras. Além disso, estamos muito próximos dos principais orquestradores do ecossistema do Rio de Janeiro, sempre dando opiniões e realizando eventos para o ecossistema quando possível.
Historicamente, RetailTech, EdTech e FinTech foram os três setores com maior capital recebido no estado mas quais são os outros setores com potencial de crescimento e inovação na economia do Rio de Janeiro?
Aqui eu sinceramente acho que não importa muito quais os setores que atraíram maior capital recebido no estado. Essas empresas que receberam capital vão atacar o mercado do Brasil como um todo e não só o do Rio de Janeiro (um fundo investe em empresas pensando no mercado do país, e não de estados separados). O investimento maior em fintechs, edtechs e retailtechs reflete mais o interesse dos investidores por esses setores no Brasil do que no estado do Rio por si só.
Seguindo essa linha, os setores que possuem um potencial de crescimento são os setores do Brasil que os investidores olham com bons olhos. Eu destacaria o setor de fintech, que continua como um setor que os investidores olham com bons olhos dadas as recentes mudanças regulatórias que desencadearam novas possibilidades de negócios (pix, sandbox do segmento de seguros, open banking, entre outros) e também o setor de saúde, que é um mercado enorme no Brasil, mas ainda sem uma startup que ganhou um tamanho relevante no país.
Algumas empresas do Estado já alcançaram o patamar late-stage, mas, especialmente no último ano, com a situação macroeconômica adversa no mercado global, a concentração de capital ficou no early-stage. O que esperar do mercado Early e Late Stage para os próximos meses?
O ecossistema de Venture Capital na América Latina teve um grande crescimento entre 2018 e 2021, com investimentos em startups aumentando de US$ 2,5 bilhões para US$ 18,5 bilhões na região. No entanto, em 2022, houve uma queda de cerca de 35% nos aportes, se comparado com o ano anterior. Essa diminuição ocorreu principalmente devido às mudanças nas condições macroeconômicas, decorrentes do aumento das taxas de juros em vários países ao redor do mundo.
Dito isso, uma vez que as taxas de juros sobem, o custo de capital das empresas naturalmente acompanha essa elevação. Portanto, como as empresas de tecnologia possuem a maior parte de seu valor na perpetuidade, elas são mais sensíveis a esses aumentos. Logo, com essas mudanças, os valuations de empresas late-stage de tecnologia são afetados de maneira extremamente significativa. Com isso, os fundos também diminuíram a velocidade com que estavam alocando recursos e ficaram mais criteriosos em onde alocar.
Em nossa visão e usando como base um estudo da gestora Kamaroopin, atualmente existe um déficit de US$ 2,4 bilhões em capital para startups que precisam levantar um aporte de série B ou superior para crescer. Como resultado, muitas startups estão sendo mais seletivas em relação aos investimentos e algumas estão sendo obrigadas a diminuir sua estrutura de custos (i.e., layoffs).
Mas a médio prazo, quando começarmos a ver uma melhoria nos indicadores macroeconômicos, o número e volume de investimentos em empresas late-stage deve naturalmente aumentar, pois existem muitos fundos (tanto brasileiros quanto internacionais) com capital levantado que precisarão ser alocados nos próximos anos.
Em relação ao early-stage, o mercado é um pouco menos elástico. O volume de investimentos diminui, mas não da mesma magnitude que o late-stage. Portanto, no curto prazo os investimentos naturalmente diminuem, mas a expectativa para o médio prazo é similar à do late-stage.