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Os desafios de se criar uma Fintech no Brasil

Os desafios de se criar uma Fintech no Brasil

23 de abril de 2019
6 minutos de leitura
time

Artigo atualizado em 23 de abril de 2019

Este texto foi realizado em parceria com a Fisher. O conteúdo foi revisado e adaptado pelo time de conteúdo do Distrito e foi escrito por Carlos Gamboa, sócio-fundador da companhia, e pelo Pietro Bonfiglioli, co-founder da Fisher VB. Os dois falam sobre o que é preciso para começar uma fintech e analisam o mercado financeiro no Brasil. O conteúdo fez parte do Fintech Mining Report e do Fintech Destaque 2018.

Um dos primeiros passos para montar e se pensar no processo de criação de uma fintech é compreender todo o caminho que você irá trilhar. Dessa forma, você não deve apenas entender a dor que irá resolver, mas precisa mapear bem qual o direcionamento e os caminhos regulatórios e processuais que irá percorrer e desafiar.

Portanto, saiba que uma fintech sempre terá o lado visível do problema como também a parte da máquina que opera a operação.

Contudo, tanto em segmentos B2B ou B2C, é preciso que você conheça o mercado, entenda das dores e crie testes para validar as soluções possíveis. Dessa maneira, com base na experiência real do problema (que você identificou com os testes) e um “olhar” que busca fazer diferente, tendo a tecnologia como uma ferramenta aliada, já é mais fácil definir o caminho a ser seguido.

Afinal, é extremamente difícil fazer a gestão de um negócio sem ter a mínima familiaridade com ele ou com os riscos possíveis!

Dessa maneira, no fim do dia, a criação de uma fintech envolve uma série de fatores que ultrapassam e vão além da “solução do problema”. Isso nos leva, muitas vezes, a transformação total do “modo de fazer” e executar.

A tecnologia é o ponto-chave e tem que estar conectada ao business para agregar valor e experiência de consumo ao cliente final. Nesse contexto, a figura do empreendedor é a peça-chave para esse fim. É ele quem se une à criação do negócio, abraça a causa e arrisca tudo para mudar o cenário.

Em muitos casos, em uma fintech, você está criando uma solução para um mercado muito consolidado e de difícil abertura. É muito provável que essa solução ainda não exista ou está trazendo conceitos novos, como aplicações diferenciadas. É uma jornada de incertezas, em que a única certeza que você tem é de que você está disposto a fazer funcionar.

Viver o dia a dia de uma startup é bem diferente de viver num ambiente corporativo. Entenda que palavras como “independência”, “autonomia”, “dinamismo” e “risco” são as que melhor descrevem o perfil de um empreendedor, como também do cenário de um startupeiro. Até porque, diferentemente de uma empresa tradicional, nesse mundo você é seu suporte. Você é o dono.

Nesse meio, ter uma rede de contatos e pessoas com experiência de mercado financeiro é uma das chaves para diminuir os riscos do negócio não dar certo. Afinal, você tem um ecossistema de inovação ao seu redor para validar suas hipóteses, aderir ao mercado e provar a eficiência da sua ideia.

Parceria intelectual para fintechs no Brasil

Dessa forma, a Fisher entra nesse processo como um parceiro intelectual, para ajudar na idealização, trazer a estrutura e mentalidade de startup para o seu business. O intuito é dar conselhos e contribuir com o background de cada um envolvido no ecossistema, complementando o processo e trazendo credibilidade para o negócio. E “metendo a mão na massa” durante esse processo!

Nós tomamos o risco em conjunto com o founder e nos dispomos efetivamente para ajudar a criar essa nova empresa, como um “co-founder”. Mas, sempre ciente de que cada startup habita nosso ecossistema, nosso “ZOO Fintech, tem que ter vida própria e caminhar cada vez mais independente.

Não somos os donos de ideias brilhantes, nem queremos receber o dono delas. Queremos, juntos, unir os dois pensamentos e escolher o melhor para desenvolver.

Cenário do setor financeiro do Brasil

Aumento de investimento, penetração de tecnologia e avanços regulatórios, somados ao cenário do setor financeiro brasileiro – alta concentração, alto custo e altos spreads – fizeram de 2018 um ano excelente para as fintechs.

Além disso, o número de novos players continua a crescer de forma acelerada, assim como o número de clientes. Além da facilidade trazida pela internet e os smartphones, a desconfiança em fazer investimentos ou abrir uma conta corrente via startups está ficando para trás, levando a base de clientes da casa dos milhares, para a dos milhões.

Observamos ainda o movimento de startups de Core não financeiro entrando no mercado de fintechs, oferecendo serviços e produtos financeiros como diferencial competitivo e forma de capturar mais valor de suas bases.

Para suportar esse crescimento, as fintechs brasileiras receberam investimentos recordes em rodadas cada vez maiores, inclusive de capital estrangeiro. O setor teve seu primeiro unicórnio, contou com deals (acordos) relevantes a nível global e três IPOs, sendo dois nos EUA e um aqui no Brasil.

Com o objetivo de reduzir custos e aumentar a competição no sistema financeiro, os reguladores – em especial o Banco Central – tiveram uma postura aberta e favorável às fintechs, aprovando medidas importantes para diminuir barreiras e tornar o sistema mais seguro e eficiente.

Mais afastado do olhar do público geral e impulsionando essa tendência de aumento de eficiência e diminuição de custo, as fintechs B2B vêm exercendo papel importante no crescimento sustentável de empresas de todos os portes, mas principalmente pequenas e médias, reduzindo custos, automatizando e inovando na “cozinha” do setor financeiro.

Todas essas conquistas fizeram de 2018 um ano de amadurecimento e avanços irreversíveis para as fintechs. Abaixo, você confere alguns dos números e constatações do report da Fisher sobre o cenário das fintechs:

  • CONCENTRAÇÃO: os cinco maiores bancos brasileiros concentram 85% da agências, 80% dos ativos e 79% do crédito.
  • CUSTO: além do spread no Brasil ser um dos mais altos no mundo, aqui o acesso a serviços financeiros também é caro.
  • POPULAÇÃO: o Brasil tem 209 milhões de habitantes, sendo 112 milhões parte da população economicamente ativa.
  • PENETRAÇÃO: a penetração de serviços financeiros é muito baixa. Aproximadamente 1/3 da população ainda é desbancarizada.
  • TECNOLOGIA: na contramão dos serviços financeiros, a penetração de tecnologia é elevada inclusive para padrões de primeiro mundo.