Inovação Aberta: o que é e quais os benefícios para empresa?
Artigo atualizado em 1 de setembro de 2022
Por maior que seja uma empresa e por mais que ela possua um time focado somente nisso, é bem provável que ela não consiga apresentar as melhoras ideias para inovação sozinha em um mercado tão competitivo.
O desafio está no conceito tradicional de inovação, que utiliza uma estrutura vertical e se baseia em pesquisas internas para o desenvolvimento de novos produtos e serviços, dessa forma, somente então são apresentados ao mercado.
O conceito de Open Innovation — ou inovação aberta, em português — criado por Henry Chesbrough, professor de da universidade de Berkeley, nos Estados Unidos e autor de um livro com o mesmo nome, surgiu para quebrar esse paradigma.
A ideia é justamente ampliar o conceito de inovação de forma que haja colaboração entre empresas, órgãos públicos e pessoas de fora da organização para a criação de novos produtos e serviços. Para muitas empresas, isso ainda pode ser um tabu, já que existem crenças que todas as informações da empresa devem sempre ser guardadas a sete chaves, como um grande segredo.
No entanto, aderir a inovação aberta deixou de ser apenas sobre unir forças para desbravar a ciência que alcançou altos graus de complexidade, mas sim de permanecer competitivo no mercado dado a velocidade que as startups e empresas que adotam o modelo conseguem chegar com produtos no mercado.
Por sorte, vivemos em um mundo hiper conectado, que permite comunicação fácil. Dessa forma, a parceria com outros players ainda pode produzir aquela prática que os empreendedores tanto amam: reduzir custos, com o bônus de diluir os riscos.
Pensando nisso, preparamos este artigo super completo sobre o tema. Ao acompanhá-lo até o final, você vai entender melhor o que é inovação aberta, como ela se diferencia do conceito tradicional de inovação, quais os benefícios para as empresas, como implantá-la no seu negócio, quais são os principais desafios e, por fim, ainda vai entender como ela ajuda a aproveitar melhor os talentos da organização. Confira!
Afinal, o que é inovação aberta? O Distrito te explica!
Em um artigo publicado na Forbes, Chesbrough explica que, antes de ser professor de Harvard e, depois de Berkeley, ele foi executivo de uma empresa de tecnologia do Vale do Silício e, nessa posição, percebeu que o ambiente acadêmico estava muito desconectado do que estava acontecendo no mundo dos negócios.
Quando decidiu voltar para a universidade e fazer seu PhD, quis trabalhar para promover essa aproximação. Foi, então, que ele surgiu com o conceito de Open Innovation em 2003, publicando um livro sobre tema, que propõe uma abordagem de inovação mais bem distribuída entre os stakeholders, mais participativa e descentralizada.
Para entender melhor, vamos colocar a definição exata dada pelo autor: “inovação aberta é o uso de fluxos de conhecimento internos e externos para acelerar a inovação interna e expandir os mercados para o uso externo de inovação, respectivamente”.
Para que você possa entender melhor, vamos abordar as principais iniciativas para que a inovação aberta aconteça de forma fluída:
Cultura de inovação
A cultura de inovação consiste na combinação entre comportamentos, missão, valores e expectativas que movem as empresas que possuem o objetivo de transformar o cotidiano das pessoas por meio do seus serviços ou produtos. Como estimular a cultura de inovação?
- Promovendo treinamentos constantes;
- Capacitando os colaboradores para competências como intraempreendedorismo e metodologias ágeis;
- Promovendo encontros como hackathons, bootcamps, meetups, etc.
Conexão com o ecossistema de tecnologia e startups
Essa conexão também é fundamental para o conceito de inovação aberta. O contato com novas tecnologias no cotidiano da empresa tem o objetivo de expandir as possibilidades de geração de novas ideias em diferentes áreas da empresa, por meio de atividades como:
- Promovendo a participação em eventos de tecnologia, como pitch days;
- Criando eventos regulares convidando a participação de startups parceiras;
- Mapear e estudar as startups que promovem soluções relevantes para o negócio.
Vemos, portanto, que estamos falando de uma via de mão dupla. A empresa tira proveito do conhecimento que é produzido externamente, utilizando-os no desenvolvimento de produtos e serviços.
Ao mesmo tempo, o mercado como um todo ganha esse novo conhecimento que foi agregado e outros interessados podem fazer uso dele, formando, assim, um círculo virtuoso para a inovação.
Obviamente, não é todo conhecimento que vai para o mercado, do contrário, a empresa que investiu todo esforço de pesquisa não teria como proteger seus produtos e ter ganhos com isso. Entretanto, durante o processo, podem surgir ideias que não serão utilizadas e que a empresa pode decidir liberar para o mercado para que sejam incorporadas ao processo de inovação de outros interessados.
O conceito provou seu valor e a ideia se popularizou, tanto que Chesbrough conta que, antes de publicar seu livro, fez uma busca pela expressão “Open Innovation” no Google e a ferramenta retornou cerca de 200 resultados. Em 2010, fez novamente a mesma busca e obteve 13 milhões de links.
Inovação aberta e economia: qual é o cenário?
Daniel Goettenauer, especialista em Inovação no Manaus Tech Hub/Sidia, acredita que a inovação aberta está totalmente ligada ao futuro economia, isso porque a sociedade sempre anseia por novas formas de consumo, cria novas expectativas e sente necessidade de novas visões sociais.
Não é por acaso que, em 2023, foram investidos cerca de US$ 3,1 bilhões em startups latino americanas, mostrando o quanto o cenário de inovação está aquecido.
Também não podemos esquecer do conceito de nova economia, que consiste em uma série de mudanças existentes no mercado e que também impactam as empresas atualmente.
A transformação digital e as novas relações comerciais entre marcas e consumidores mostra muito claramente que é impossível não falar em inovação no cenário do mercado atual, por isso, é fundamental que as empresas conheçam o conceito de inovação aberta e inovação fechada para saber por qual caminho decidirão seguir para aproveitar as oportunidades do mercado.
NOVA ECONOMIA: COMO SE ADAPTAR A ESSE MOMENTO DE INCERTEZA
Inovação aberta x inovação fechada: quais as diferenças?
A diferença entre inovação aberta e inovação fechada está na forma como uma inovação é idealizada e projetada.
No caso de uma inovação fechada, as ideias, pesquisas e os desenvolvimentos necessários para colocar um produto no mercado são gerados dentro da própria organização.
Uma inovação fechada é baseada na visão de que as inovações são desenvolvidas pelas próprias empresas. Da geração de ideias ao desenvolvimento e marketing, o processo de inovação ocorre exclusivamente dentro dos limites da empresa. Neste modelo de inovação, é preciso considerar que:
- as empresas realizam grandes investimentos em pesquisas e desenvolvimentos internos (P&D);
- os departamentos de pesquisa e desenvolvimento devem pensar em recursos tecnológicos significativos que possibilitem a criação de produtos e soluções inovadores;
- todo o know-how, tecnologia, processos e propriedade intelectual permanecem sob o controle da empresa.
O problema é que esse processo só funciona bem se cumprir determinados pré-requisitos. Uma das principais questões é que ele demanda um número muito grande de colaboradores altamente qualificados, o que não é fácil de conseguir tampouco barato de manter.
Nos últimos anos, a inovação fechada vem perdendo espaço nas organizações. Segundo Henry Chesbrough, os seguintes fatores são responsáveis por isso:
- o número de profissionais altamente qualificados no mercado está aumentando;
- a disponibilidade de Venture Capital está aumentando;
- o ambiente inovador de uma empresa oferece oportunidades externas para inovações potenciais não utilizadas;
- o crescente número de clientes competentes, fornecedores especializados e pequenas empresas disponíveis como parceiros de cooperação;
- o ambiente inovador de uma empresa está se tornando cada vez mais importante para sua própria sobrevivência e a qualidade e quantidade de know-how externo está em constante crescimento.
Quando consideramos o sistema de inovação aberto, a empresa tem a possibilidade de usar recursos externos, como a tecnologia, e ao mesmo tempo disponibilizar suas próprias inovações para outras organizações.
Assim, a inovação surge a partir da interação de ideias, tecnologias, processos e canais de venda internos e externos. Nesse sentido, é possível integrar tanto os funcionários da empresa quanto clientes, fornecedores, pessoas de universidades, concorrentes ou até empresas de outros setores.
No entanto, a troca típica que a inovação aberta prega não significa acesso livre ao conhecimento e tecnologia de uma empresa, uma vez que, como vimos, nenhuma empresa colocaria dinheiro em pesquisa se não tivesse como lucrar com os resultados e, para isso, ela precisa ter exclusividade para usar a inovação que surge disso. Por isso, o termo se refere apenas a redes colaborativas
Ademais, embora a disponibilidade do Venture Capital vista por Chesbrough na época não seja a mesma, não significa que o Open Innovation perdeu força. Agora o capital é alocado de maneira mais criteriosa e inteligente, dessa forma sendo esperado que maiores retornos sejam observados mesmo que o volume dos aportes seja reduzido.
Por isso, o termo se refere apenas a redes colaborativas. Em resumo, podemos dizer que a inovação aberta parte do princípio de que ela pode aproveitar o melhor que existe, seja lá qual for a sua origem, enquanto a inovação fechada se dá apenas com recursos da própria empresa.
Quais benefícios o modelo de Open Innovation traz para a inovação corporativa?
A inovação aberta traz diversos benefícios para as empresas. Veja os principais:
1. É um ponto de partida para a inovação interna
Algo importante sobre inovação empresarial ou corporativa é que a inovação aberta pode ser uma opção para uma empresa iniciar um processo inovador interno. Em nossa matéria “Como liderar no mercado de inovação empresarial“, explicamos as diferentes formas de uma empresa inovar. Confira no gráfico abaixo:
O interessante é que muitas dessas formas de promover a inovação envolvem a disposição de diversos setores da empresas estarem abertos ao ecossistema de novas tecnologias, sobretudo, através da conexão com startups, centros de pesquisa, eventos, entre outros.
Nesse sentido, é importante destacar a importância da cultura de inovação para a promoção de um ambiente fértil ao desenvolvimento e à transformação digital.
Isso é Inovação Aberta!
Como explicado acima, é quando uma empresa não se fecha no seu universo e adota uma postura de troca, seja com outras grandes companhias, com startups ou, simplesmente, com pessoas de fora do seu ecossistema.
O CB Insights, que é uma plataforma que procura identificar tendências e busca respostas para questões complexas, traz reflexões importantes sobre como as grandes corporações podem construir pontes para a inovação junto com as startups.
Embora o conceito de inovação aberta esteja se ampliando, pode fazer sentido que uma empresa continue seguindo a abordagem da inovação fechada, adotando um mix de inovação aberta e fechada.
Também pode ser interessante fazer, ainda que aos poucos, uma transição da inovação fechada para a inovação aberta.
2. Reduz o tempo entre desenvolvimento e comercialização
O tempo de desenvolvimento de um produto ou serviço, desde os primeiros passos até o lançamento no mercado (time-to-market), está se tornando cada vez mais importante devido a ciclos de vida mais curtos e aumento da concorrência.
A inovação aberta pode otimizar o tempo de desenvolvimento ao dividir as atividades com os parceiros de inovação, uma vez que a empresa não precisa contar apenas com o seu time para desenvolver o trabalho.
Não é raro que a equipe esteja envolvida em outros projetos e tenham que colocar algum na fila de espera. Ou, ainda, pode ser que o time seja pequeno e não dê conta de uma demanda alta de pesquisa e desenvolvimento de diversos produtos de forma simultânea.
Contudo, se a empresa conta com ajuda externa, esse tempo de desenvolvimento pode ser reduzido pela metade em comparação com um projeto interno.
É possível, por exemplo, trazer o projeto para dentro da empresa quando todos os estudos preliminares já estiverem concluídos, deixando para a equipe interna apenas os ajustes finais, que requerem um conhecimento mais aprofundado do modelo de negócios da companhia e do público alvo.
Além disso, essas parcerias permitem que as empresas reajam de maneira mais rápida às novas tecnologias e exigências do mercado, gerando uma vantagem competitiva ou, pelo menos, impedindo que seu negócio seja rapidamente ultrapassado pela concorrência.
3. Reduz custos em diversas etapas
Tendo em vista os mercados globalizados e o dumping de preços associados, é possível ver que as empresas estão se esforçando muito mais para reduzir os custos do processo de inovação desde o início do planejamento até o lançamento no mercado (coast-to-market).
Além disso, é importante destacar que o custo para inovar vem crescendo, como aponta um estudo da universidade de Stanford, divulgado pela revista The Economist.
Isso porque, no nível de avanço a que chegamos, está cada vez mais difícil encontrar novas oportunidades para lançamentos de produtos.
Dessa forma, as empresas precisam investir muito mais — recursos financeiros e capital humano — do que faziam há algumas décadas, mas o ganho de produtividade não acompanha esse crescimento na mesma razão.
A inovação aberta proporciona uma evidente redução de custos com pesquisa e desenvolvimento, já que pode se associar a outros players para dividir pelo menos parte do investimento necessário nessa etapa e não só uma economia de gastos.
Existe ainda uma outra possibilidade, que é a de usar conhecimentos que já existem no mercado e recombiná-los de forma a criar algo totalmente novo.
4. Oportunidade de criar novos mercados
Outra vantagem central da inovação aberta é o fator novidade para o mercado, que ocorre quando o consumidor tem a percepção de que algo é, de fato, uma novidade. Em inovações de produtos, em particular, o grau de inovação geralmente é baixo, porque a maioria das inovações é incremental.
Os produtos existentes são desenvolvidos apenas a partir do processo tradicional de inovação, sem criar valor agregado funcional. Inovações, por outro lado, que são criadas com o envolvimento de outros parceiros externos de inovação, abrem novas funcionalidades e criam novos mercados.
Portanto, se uma empresa consegue integrar bons parceiros nesse processo de inovação aberta, isso pode aumentar significativamente as inovações radicais e, portanto, o fator novo para o mercado.
5. Reduz os riscos de rejeição do produto
Um pré-requisito para um alto nível de aceitação pelo mercado de um novo produto, o product market fit, é uma oferta de produto ou serviço que satisfaça as necessidades dos clientes.
Ao integrar empresas parceiras e clientes no processo de inovação aberta, a aceitação do mercado pode ser significativamente aumentada e o risco de desenvolvimentos indesejáveis é reduzido.
6. Oportunidade de gerar ideias e base de conhecimento
Por meio da inovação aberta, é possível aproveitar várias fontes externas e internas de ideias e conhecimento para levar o gerenciamento da inovação a um novo nível.
Quando cria-se relacionamento com players externos a empresa muitas vezes isso gera uma “provocação” para a transformação, dado que pessoas com experiências diferentes levam visões diferenciadas que costumam fugir mais do olhar cotidiano organizacional da empresa.
7. A melhor maneira de ter uma boa ideia é ter muitas ideias.
Além da integração de parceiros externos e funcionários próprios no processo de inovação, as comunidades de inovação aberta estão se tornando cada vez mais importantes.
A criatividade da comunidade é usada para encontrar ideias para produtos inovadores, novos canais de distribuição, novos campos e modelos de negócios. Esse tipo de cooperação abrange a apresentação de ideias, a avaliação da comunidade sobre elas em uma plataforma e até o desenvolvimento dos projetos.
Assim funciona o modelo de Inovação Corporativa LEAP, que conecta problemas de negócio à inovação, ajudando empresas a resolver problemas e conquistar vantagens competitivas.
8. Promove mudanças de perspectivas
Uma das maiores vantagens do Open Innovation é a interligação de conhecimento e know-how de diferentes setores e áreas de parceiros, o que abre novas perspectivas.
As soluções que já são usadas com sucesso em outras áreas podem ser transferidas para projetos de inovação próprios, o que torna possível desenvolver ideias e soluções nunca pensadas antes.
9. Traz inovação para produtos e serviços já existentes
Às vezes, não é preciso criar novos produtos, visto que um produto já existente no mercado tem potencial para ser melhorado e atrair novos clientes.
Para isso, é preciso reunir uma equipe criativa para melhorar e evoluir a ideia, pensar em novos usos e uma nova abordagem para ele. Um dos benefícios da inovação aberta é que o processo nunca termina. Você está sempre pensando em como pode melhorar um produto ou serviço.
10. Reduz riscos, custos e prazos
Para grandes organizações presas a processos, muitas vezes é difícil avançar rapidamente com a inovação. Por outro lado, parceiros menores, como startups, geralmente não têm recursos para levar os projetos adiante tão rápido quanto gostariam.
A criação de uma parceria de Open Innovation pode reduzir os custos para o parceiro menor ao mesmo tempo que acelera os prazos para o maior e distribui o risco. Temos visto acontecer isso em diversas áreas e podemos citar o setor financeiro como um dos que mais rapidamente se adaptaram a esse modelo.
Quando começaram a surgir as primeiras fintechs (que são startups do setor financeiro, em geral especializadas em um único produto, como crédito, cartões, seguros ou investimentos), os grandes bancos encararam isso como uma ameaça ao seu modelo de negócio. Depois entenderam que esse era um caminho sem volta e que eles precisavam adaptar-se aos novos tempos.
Esse é um caso em que a inovação mudou mesmo o modelo de negócio de um setor inteiro. Em alguns casos, os grandes bancos montaram áreas independentes que tinham autonomia para adotarem um modelo ágil como o das startups.
Em outros, chamaram as startups que estavam surgindo para serem suas parceiras, inclusive injetando recursos nelas.
11. Promove o networking
Por mais que você leia sobre o assunto relacionado ao seu trabalho, faça cursos e participe de eventos e workshops, em grande parte dos casos, a verdade é que seu círculo profissional continua bastante restrito aos seus colegas de empresa.
Com o modelo de Open Innovation, você vai de fato trabalhar com outras pessoas, de diferentes empresas, de universidades, de órgãos públicos. Isso aumenta exponencialmente seu networking e dá uma visão 360° do setor no qual você atua.
Para a empresa, isso também é benéfico, uma vez que o profissional traz para a organização tudo o que adquiriu nessa troca de conhecimento, inclusive possíveis nomes que podem em algum momento vir a fazer parte do quadro da companhia.
12. Democratiza o acesso às ideias
Já imaginou se a gente tivesse sempre que partir do zero na ciência? Seríamos como Sísifo, condenado a rolar uma enorme pedra todo dia até o cume da montanha por toda a eternidade e vendo ela escapar de suas mãos pouco antes de chegar ao topo.
Por sorte, isso não ocorre dessa forma. Atualmente, os cientistas já constroem em cima de todo o conhecimento acumulado pela humanidade ao longo de milênios.
No modelo de inovação fechada, as ideias ficam restritas às fronteiras da empresa e, portanto, não é possível construir a partir delas. Já a inovação aberta promove essa democratização tanto do acesso às ideias quanto em relação a quem pode ter ideias novas.
O filme “O Homem que viu o infinito” ilustra bem o que estamos dizendo. Ele conta uma história real sobre um indiano que era um gênio da matemática, mas muito pobre e totalmente autodidata. Ele ganha algum reconhecimento na Índia e é mandado para a universidade de Cambridge, no começo do século 20, onde sofre todo tipo de preconceito por parte de uma sociedade fechada e que se julga intelectualmente superior.
No fim, é claro, são obrigados a reconhecer a genialidade daquele estrangeiro com hábitos tão estranhos para eles. Apesar de ser um filme e de retratar uma época bem diferente da nossa, ilustra bem o que queremos dizer: genialidade não respeita convenções de nacionalidade, costumes, hábitos e classes sociais.
Ainda temos a vantagem de vivermos nessa era da comunicação fácil. Portanto, sua empresa pode ter acesso às ideias mais incríveis sendo produzidas no mundo todo e pode também contribuir para todo esse avanço, encontrando oportunidades em lugares e situações inusitadas. Você ainda prefere continuar no modelo de inovação fechada?
Como implementar o Open Innovation?
A inovação aberta é uma resposta muito importante às mudanças nas condições de mercado e às necessidades dos clientes. Na era das comunidades, as empresas que aderirem a essa abordagem estarão entre as primeiras a acessar o amplo conhecimento.
Dessa forma, elas fornecem soluções melhores, mais rápidas e mais acessíveis do que seus concorrentes.
A forma como o Open Innovation será implementado, no entanto, vai variar de acordo com a empresa. Cada organização tem requisitos individuais que dependem, por exemplo, de unidades de mercado, B2B ou B2C, indústria em ritmo acelerado ou complexidade das tecnologias e competências aplicadas.
Mas o que todas têm em comum é a base necessária da estratégia e a cultura de inovação aberta. Para estar entre as melhores, é necessário ter uma estratégia clara e uma cultura que permita e promova a abertura do processo de inovação.
Uma estratégia de Inovação Aberta define os objetivos e a orientação das atividades. As seguintes perguntas devem ser claramente respondidas:
- O que você deseja alcançar com o Open Innovation?
- Quais objetivos corporativos o Open Innovation atende?
- Como operar a Inovação Aberta, por exemplo, inside-out e/ou outside-in?
- Quais oportunidades você usaria e por quê?
Muitas corporações não sabem por onde começar, o que fazer e como iniciar esse processo de inovação. Uma das alternativas em casos como esses é se aliar e estar presente em centros de inovação. Dessa forma, a marca está se vinculando às iniciativas inovadoras que aquele espaço está fomentando.
Ao fazer parte de um programa de mantenedores de um centro de inovação, a empresa está conectada ao ecossistema de inovação. O espaço fomenta a inovação aberta e ajuda a empresa a relacionar-se com startups, grandes empresas e investidores para executar projetos diferenciados.
Veja algumas formas de implantar o Open Innovation na sua empresa:
Hackatons
Os hackathons são maratonas que envolvem programadores, desenvolvedores, designers gráficos, gerentes de projetos e outros profissionais multidisciplinares para trabalhar em projetos de tecnologia, com o objetivo de criar um recurso novo ou achar uma solução para uma questão proposta.
Estamos falando de tecnologia, mas essa metodologia pode ser usada para quaisquer setores, formando equipes multidisciplinares, como as que atuariam no desenvolvimento de um projeto inovador.
As maratonas podem durar um dia ou um fim de semana e ocorrem em um espaço confinado. No fim, todos os participantes apresentam suas ideias a uma comissão julgadora, que escolhem os melhores trabalhos e premiam esses participantes.
Eventos e programas com startups
Boa parte das startups é formada por profissionais que trabalhavam em grandes corporações ou por jovens egressos das melhores universidades do país. Estamos falando de pessoas altamente capacitadas e criativas.
Os eventos de startups são situações perfeitas para você entender o que está surgindo de novo no mercado e quais são as tendências para o seu setor, conhecer novas pessoas e até pensar em possíveis parcerias.
Programas de ideias com clientes e fornecedores
Ninguém mais qualificado para apontar o que pode melhorar no seu produto ou serviço do que a pessoa que o utiliza, não é mesmo? E essa sujeito não é ninguém menos do que o próprio cliente.
Existem diversas formas e metodologias para conseguir angariar os insights que eles trazem. Uma bem simples é analisar as reclamações e sugestões que aparecem nos canais de atendimento.
Esse é um material riquíssimo ao qual poucas empresas dão atenção, limitando-se a acompanhar métricas de atendimento, que, embora importantes para o dia a dia da operação, não vão levar sua empresa para outro patamar.
Também é possível formar um conselho de clientes ou mesmo uma comunidade online com clientes beta, onde eles podem interagir e discutir livremente.
A mesma ideia vale para seus fornecedores. São empresas que entendem do seu setor de atuação e a sua empresa e que trabalham fornecendo soluções para você. Por que não ouvi-los na hora de desenvolver algo novo?
Crowdsourcing
O crowdsourcing é um processo colaborativo no qual as pessoas se reúnem em torno da solução de problemas ou para desenvolver algo específico. Podemos dizer que é como montar um time para um projeto, mas os membros dessa equipe não são necessariamente da sua empresa.
Aqui, podemos ter uma pessoa da empresa, outra de uma universidade, outra de um órgão público, profissionais de organizações complementares e até clientes. A ideia é criar o “Dream Team” para desenvolver uma ideia de inovação.
A plataforma Fiat Mio, da montadora italiano, pode ser citada como exemplo, uma vez que oportuniza que os clientes opinem no desenvolvimento de um carro-conceito que servirá de base para os próximos modelos que serão lançados pela marca.
Cocriação
A cocriação é uma estratégia em que você traz pessoas de fora para dentro da sua empresa com o objetivo de estimular a inovação.
A principal diferença em relação ao crowdsourcing é que aqui o protagonista continua sendo a empresa, enquanto no crowdsourcing a equipe é mais variada e todos são “donos” do projeto.
Quais são os principais desafios na implantação do Open Innovation?
Como em tudo na vida, o Open Innovation também apresenta alguns desafios para as empresas. O primeiro deles está ligado aos aspectos de propriedade intelectual e a riscos legais. Existe um potencial para disputa sobre direitos de propriedade intelectual que pode obstruir o desenvolvimento de inovações apresentadas por fontes externas.
Por isso, é preciso controlar com rigor quais e quantas informações a empresa pretende abrir. Além disso, é fundamental firmar um contrato, que discorra sobre a propriedade intelectual e cláusulas de confidencialidade.
Outro desafio diz respeito à capacidade da empresa de transformar as ideias que são apresentadas em produtos e serviços viáveis e podem ser comercializados.
Por isso, é interessante que haja nos grupos de inovação um profissional da organização que seja capaz de conduzir o time para apresentar soluções que a empresa consiga de fato desenvolver e que façam sentido do ponto de vista econômico.
Como o Open Innovation pode ajudar a impulsionar os talentos da organização?
Já deu para perceber que o modelo de Open Innovation é uma grande oportunidade para todo mundo, não é mesmo? Os profissionais da sua empresa terão acesso a quem está desenvolvendo o que existe de mais avançado naquela área, não apenas como um programa de mentoria, mas trabalhando junto, auxiliando no desenvolvimento de soluções para o negócio e para o desenvolvimento tecnológico.
Não existe forma melhor de dar um salto de qualidade para o seu time. Existe o risco de algum profissional talentoso ganhar projeção no mercado e a concorrência levá-lo? Claro que existe, mas vamos combinar que esse risco está presente o tempo todo e o seu trabalho é fazer com que ele queira permanecer em seu time.
Você também tem o outro lado da moeda: a sua empresa entrará em contato com os melhores profissionais do mercado e pode conquistar novos talentos para a organização.
Em um mercado em que inovar fica cada vez mais complexo e custoso, a Inovação Aberta é um caminho para reduzir custos e riscos e tirar proveito das melhores mentes do mundo para chegar às soluções que vão levar sua empresa para um outro patamar. Até a próxima!