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Mulheres na inovação: a trajetória de Emilly Stahl, da Bosch Brasil

Mulheres na inovação: a trajetória de Emilly Stahl, da Bosch Brasil

11 de março de 2021
12 minutos de leitura
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Artigo atualizado em 11 de março de 2021

Apesar de avanços notáveis ao longo dos anos, o mercado de trabalho na área de inovação ainda é predominantemente masculino. Por conta desse cenário desigual, é extremamente importante que existam referências femininas para inspirar cada vez mais mulheres a seguirem a carreira em inovação. 

No mês em que é celebrado o Dia Internacional da Mulher, o Distrito apresenta as histórias de profissionais que estão liderando projetos de tecnologia e transformação digital em corporações ou em suas próprias empresas. 

Para quem tem o perfil corporativo, a carreira em inovação pode ser construída de diferentes formas e, às vezes, o ecossistema da empresa onde a profissional está inserida faz toda a diferença nesse processo. Como é o caso de Emilly Stahl, Analista de Inovação & Marketing da Bosch Brasil, líder mundial no fornecimento de tecnologia e serviços.

Ao longo de quase 10 anos, Emilly foi desde estagiária na unidade de Campinas, a consultora digital na unidade da Bosch USA, em Chicago, até chegar a posição atual e trabalhar em projetos de transformação digital, inovação e intraempreendedorismo. “Quando você entra em uma empresa multinacional, se você correr atrás, existem muitas oportunidades”, afirma Emilly em entrevista ao Distrito, na qual compartilhou os desafios que encontrou nesse processo e seus principais aprendizados.

imagem da analista de inovação da bosh brasil Emilly Stahl

A primeira coisa é reconhecer que nós mulheres somos capazes de tudo! Independentemente da área em que você está, se você tem essa vontade que te direciona para a área de inovação, vá atrás. Hoje existe a possibilidade de você mudar de área, de aprender. Se permita experimentar, se conectar e fazer parte de projetos de inovação. Envolva-se com ações que já existem e vá trazendo isso para o seu dia a dia. É tudo uma questão de aprendizado, de aproveitar e criar oportunidades.

De estagiária a líder de projetos: a evolução de Emilly Stahl na carreira em inovação

Emilly Stahl tem 29 anos e uma grande bagagem quando se fala em inovação corporativa. Natural de Limeira, interior de São Paulo, quando ainda estava na faculdade, teve que tomar uma decisão importante para sua carreira e escolheu trocar o foco do curso em andamento na UNICAMP. Assim, de Gestão de Políticas Públicas ela passou a cursar Gestão de Empresas.  

Ela conta que acreditava que para ajudar mais pessoas deveria trabalhar em uma instituição pública, mas depois de uma experiência de estágio, acabou ficando um pouco desmotivada com a quantidade de processos e burocracia. “Eu comecei a sofrer muito porque me sentia impotente quando não conseguia ajudar. Por isso pensei: já que eu não consigo ajudar tanto estando na área pública, pelo menos não como estagiária, prefiro experimentar trabalhar em uma empresa com valores que acredito e que possua projetos sociais, onde eu possa fazer a diferença”, conta.

Foi assim que a profissional entrou na Bosch, como estagiária, em 2011. Trabalhou na área de TI, ajudando com pagamento de contas, entre outras atividades de backoffice. “A Bosch tem muitos valores com os quais me identifico. A empresa tem um trabalho de voluntariado muito legal do qual eu faço parte e sinto que estou aprendendo muito, me desenvolvendo, mas também contribuindo com o mundo de alguma forma”, explica.

Emilly relata que, ao entrar na multinacional alemã, foi aberto um mundo de possibilidades e logo ela foi migrando para a área de marketing digital. Já nesta nova função, ela deu suporte para o desenvolvimento da plataforma Enterprise 2.0 nas Américas. O projeto nasceu na Alemanha com o objetivo de ser uma comunidade online interna, como uma rede social, com o propósito de simplificar o networking e comunicação, favorecendo a cultura de colaboração e a transparência dentro da empresa. “Para mim, a Bosch era uma antes do Enterprise 2.0 e virou outra depois, porque abriu ainda mais as oportunidades e trocas globais”, relata.

Graças ao projeto, Emilly conseguiu um estágio na unidade de Chicago, nos Estados Unidos, em 2014. Lá, ela deu treinamentos para a equipe e viu de perto o chamado mindset change. “Foi aí que começou uma faísca da inovação na minha vida. A questão da mudança, de trazer coisas novas e de tentar ajudar a abrir a cabeça das pessoas para essa transformação digital.” Até que um ano depois, surgiu a oportunidade de Emilly ser efetivada em Chicago, atuando como consultora e ajudando diferentes áreas da empresa a levarem seus projetos para o Enterprise 2.0. 

Em 2016, acompanhou de perto uma grande transformação da multinacional. Foi quando a Bosch se uniu a um hub de inovação para lançar o primeiro Connectory da empresa, localizado em Chicago. O espaço foi criado com o objetivo de fomentar novas soluções e modelos de negócio ligados a tecnologia, internet das coisas (IoT) e inovação, além de impulsionar a cultura empreendedora. Emilly esteve entre o grupo de colaboradores selecionados para trabalhar nesse ambiente pelo menos uma vez por semana e ter contato com o ecossistema. 

Assim, ela conheceu de perto a iniciativa e, em 2019, já de volta ao Brasil, trabalhou na equipe que criou o Curitiba Connectory, primeiro espaço de inovação da Bosch na América do Sul, em parceria com o Distrito. Hoje, além de trabalhar com o marketing e a comunicação do projeto, Emilly é responsável pelo programa interno chamado Adventure, que fomenta a cultura de inovação e o mindset empreendedor dos colaboradores da Bosch. “Seja qual for a atuação dos colaboradores participantes, nós queremos que eles tenham essa experiência em inovação, pois acreditamos que qualquer pessoa pode trazer coisas diferentes e inovar em sua própria área”, afirma.

imagem de uma sala com várias mesas e bancos
Sede do Bosch Chicago Connectory, lançado em 2017

Mulheres na inovação

Sobre a realidade das mulheres na área da inovação, Emilly conta que nunca passou por uma situação específica de discriminação, mas sabe que não é a realidade da grande maioria, e por isso é necessário romper com alguns comodismos. “Nosso desafio diário, estando há muito tempo no mesmo ambiente, é não se acomodar. A gente tem que perguntar por que não existem tantas mulheres nesse meio e buscar fazer a diferença.”

Emilly conta que vê a importância de se falar sobre representatividade hoje, porque muitas mulheres acabam influenciando e sendo referência para outras. “É muito legal quando temos essas referências dentro do nosso time. Quando você tem uma mulher próxima que você admira, tudo muda. Tem muita troca e aprendizado”, relata.

A profissional também destaca que as mulheres possuem muitas qualidades que podem fazer a diferença dentro do ambiente da inovação, como a empatia. “Eu acredito que nós temos esse dom de se colocar no lugar dos outros mais facilmente e de construir relacionamentos de forma mais leve. E isso é extremamente necessário em qualquer meio”, diz. 

Entrevista

1. Quais foram seus principais aprendizados ao longo da sua carreira em inovação?

Tenho dois contrapontos bem importantes. A inovação tem que ser criativa. Então temos que ter a cabeça aberta para todas as possibilidades, mas isso não significa que ela não precisa ser estruturada. Ou seja, a inovação não precisa ser caótica para dar certo. Principalmente dentro de uma empresa. Você pode trazer inovação e fomentar esse mindset de uma forma organizada, onde os colaboradores e a empresa tenham clareza de que estão seguindo na mesma direção.

No Adventure, por exemplo, estruturamos o programa mostrando todas as fases que o colaborador passará nessa jornada de inovação, com um framework alinhado, tendo claro o que entra no programa e quais os resultados que queremos atingir ao final, dessa forma, todos sabem claramente o que esperar desse processo. Ao mesmo tempo, a cada ano ele é diferente. Não é porque existe um processo que ele será o mesmo todas as vezes que formos rodá-lo.

Outro ponto é realizar nossos projetos em parceria. Não precisamos reinventar a roda. Dentro da empresa, podemos levantar expertises de outras áreas para realizar um projeto em conjunto. Já olhando externamente, podemos identificar startups e outras instituições que podem agregar valor ao trabalharmos em conjunto.

Quando se fala em inovação aberta dentro das empresas, não é simplesmente sair falando com startups e pronto. É essencial ter um plano de ação para guiar esse processo. Temos que pensar se a área interna já está preparada para realizar um trabalho em conjunto ou se é preciso fazer algum processo com eles para trabalhar esse assunto antes, por exemplo. Por que eu vou falar com startups? O que eu quero atingir? Quais verticais eu quero focar? Isso é um aprendizado. 

2. Quando você começou a ter contato com o Distrito?

Em 2019, eu me mudei para a área Corporativa de Inovação da Bosch, com foco em IoT e Digitalização, e também comecei a trabalhar na equipe do Curitiba Connectory. A Bosch já tinha uma parceria com o Distrito, e resolvemos trazer a marca Connectory, como uma oportunidade de unirmos forças para trazer essa iniciativa global para o Brasil. 

O Distrito nos ajuda a trazer a comunidade externa, como as startups, mais perto da Bosch, e isso nos ajuda na mudança do mindset de colaboração. Hoje, nosso trabalho é forte em Inovação Aberta, em como ajudamos nossos parceiros internos a se conectarem com os parceiros externos. O Connectory é esse meio de conexão entre os parceiros. 

3. Como o autoconhecimento te ajudou ao longo da sua jornada?

Acredito que no mundo em que vivemos, com tantas informações, cada vez mais precisamos de autoconhecimento. É uma busca constante. 

É muito difícil saber onde e com o que você quer trabalhar logo de início na carreira, as universidades ainda são muito focadas no teórico e, em uma multinacional, por exemplo, as possibilidades de atuação são as mais diversas, RH, marketing, inovação e por aí vai. Para descobrir qual área você quer seguir, é importante não se limitar, buscar buscar por diferentes coisas e temas que você tenha interesse. Quando penso em autoconhecimento na carreira, é sobre experienciar. Falar com pessoas, estudar coisas novas, descobrir áreas diferentes e fazer conexões.

Eu já tive algumas crises durante a profissão, de pensar “eu estou trazendo alguma diferença para o mundo”? Isso me toca demais. Pensar qual é o propósito do meu trabalho, o que eu estou trazendo de bom. Eu até tento trazer esses questionamentos para as pessoas com quem eu trabalho também, explicar o motivo pelo qual fazemos o que fazemos. É claro que às vezes, temos que fazer coisas operacionais, mas é importante sempre ver o todo. 

Para mim, autoconhecimento é entender quais são as nossas fortalezas e o que precisamos melhorar. Hoje, se você fez faculdade de marketing por exemplo, você não precisa necessariamente trabalhar apenas com marketing, você pode trabalhar com inovação ou em uma área de TI, por exemplo. O mercado tem muitas oportunidades e vai mudando muito, cada vez mais dentro da empresa não precisamos estar presos em apenas uma única área de atuação, nossa carreira é dinâmica. Então precisamos conhecer do que gostamos e trazer aquilo em que somos bons para o nosso trabalho. Cada pessoa faz o seu trabalho de forma diferente e este é o valor da diversidade.

4. Quais os seus conselhos para mulheres que pretendem trabalhar na área de inovação?

A primeira coisa é reconhecer que nós mulheres somos capazes de tudo! Independentemente da área em que você está, se você tem essa vontade que te direciona para a área de inovação, vá atrás.

Hoje existe a possibilidade de você mudar de área, de aprender. Se permita experimentar, se conectar e fazer parte de projetos de inovação. Envolva-se com ações que já existem e vá trazendo isso para o seu dia a dia. É tudo uma questão de aprendizado, de aproveitar e criar oportunidades.

Nós mulheres temos muito aquela tal de Síndrome do Impostor. Quando vemos tantos homens de sucesso nesse meio, muitas vezes nos questionamos se é possível chegar lá. É preciso quebrar com esse pensamento e lembrar que somos capazes. Precisamos acreditar em nós mesmas, correr atrás e nos permitir experimentar. O aprendizado vem com o tempo. Ninguém nasce sabendo o que é inovação, todo mundo passa por isso. 

Também é importante lembrar que você pode trazer o seu olhar e as suas fortalezas para qualquer área da inovação. É possível trabalhar com Inovação de tantas formas, não apenas fazendo parte de uma startup, por exemplo, como muitas pessoas pensam. A inovação está em todo lugar e hoje temos inúmeras possibilidades! É preciso conhecer, experimentar e então encontrar aquela que você dá match, como é o meu caso hoje dentro de um departamento corporativo.