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Como o Nubank mudou o setor financeiro no Brasil?

Como o Nubank mudou o setor financeiro no Brasil?

20 de julho de 2022
12 minutos de leitura
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Artigo atualizado em 20 de julho de 2022

NuBank mudou completamente o relacionamento dos brasileiros e bancos tradicionais.

Nos últimos dez anos, as fintechs criaram soluções que mudaram a forma como os brasileiros lidam com o dinheiro, provocando uma verdadeira revolução na indústria financeira nacional. 

Com um sistema financeiro historicamente engessado e burocrático, o Brasil se mostrou um terreno fértil para as startups que se propuseram a preencher as lacunas que os bancões não priorizam. 

Após décadas ditando as regras do relacionamento dos clientes com as suas finanças, as grandes instituições bancárias testemunharam o consumidor assumir o controle da sua vida financeira por meio dos mais inovadores produtos e serviços digitais.

Contudo, entre as centenas de fintechs que foram surgindo no Brasil ao longo da última década, nenhuma causou tanto impacto no nosso setor financeiro quanto o Nubank.

Como o Nubank surgiu?

A história do Nubank começou em 2012, quando o colombiano David Vélez veio ao Brasil para abrir um escritório da Sequoia Capital em São Paulo. Quando precisou abrir uma conta corrente, o empresário ficou espantado com a burocracia e as taxas absurdas dos bancos brasileiros, cobradas até mesmo pelos serviços mais básicos.

Foi então que Vélez resolveu criar um banco que tivesse a tecnologia como a sua principal aliada, a fim de simplificar a vida financeira das pessoas com transparência e segurança.

Em 2013, David Vélez se uniu à brasileira Cristina Junqueira e ao americano Edward Wible e, juntos, os três fundaram o Nubank. O primeiro escritório da startup foi instalado em uma pequena casa na rua Califórnia, no bairro do Brooklin, em São Paulo.

Confira uma entrevista completa com a fundadora para saber um pouco mais sobre a história de fundação do NuBank!

Os principais produtos e serviços do NuBank

O primeiro produto do Nubank veio em 2014, um cartão de crédito internacional sem anuidade ou tarifas de manutenção controlado por aplicativo. O “roxinho”, como o cartão passou a ser carinhosamente chamado pela fintech, atingiu a marca de 400 mil clientes em apenas um ano devido à gratuidade do serviço e também à facilidade de uso do app.

Em 2017, foi lançada a NuConta (hoje “conta do Nubank”), sem tarifas de manutenção e com transferências ilimitadas e gratuitas para outros bancos. A abertura e toda a operação da NuConta eram realizadas por meios 100% digitais, na medida em que o Nubank jamais teve qualquer agência bancária. Além disso, não requeria análise de crédito dos clientes, fator que contribuiu para a inclusão financeira de milhões de pessoas.

No início de 2019, o Nubank passou a oferecer a opção de empréstimos aos clientes da sua conta digital. O serviço podia ser contratado de forma simples pelo aplicativo da startup, onde o usuário conferia uma simulação em tempo real: os juros e o valor total e mensal que iria pagar conforme o valor que solicitasse.

Por fim, a fintech também aderiu ao modelo de negócios Business to Business (B2B) e incluiu conta e cartão de crédito PJ (pessoa jurídica) na sua vitrine de produtos. Neste ano, o aplicativo do Nubank ainda ganhou a função de “maquininha”, permitindo que os comerciantes recebessem pagamentos de cartões contactless direto no celular.

A aquisição da Easynvest

Entre as estratégias de expansão dos serviços adotadas pelo Nubank, está a aquisição de startups. Em 2020, a fintech anunciou a compra da Easynvest (que em 2021 se tornou NuInvest), a maior corretora digital do Brasil, na época com 1,5 milhão de clientes.

De acordo com o Nubank, o objetivo da aquisição era fazer com que os investimentos se tornassem mais acessíveis aos brasileiros, justo em um momento em que o número de investidores pessoa física na B3 havia aumentado 76% em pouco menos de um ano.

A experiência do usuário

Na época de sua fundação, o Nubank optou por se concentrar em apenas um único produto (o “roxinho”) para garantir que os seus clientes tivessem a melhor experiência possível, seja no uso do aplicativo ou nos canais de ouvidoria da empresa.

Essa preocupação com a experiência do usuário, um dos principais pilares do Nubank, fazia oposição direta ao atendimento precário que o brasileiro estava acostumado a receber nas agências dos bancos tradicionais.

A maior aposta do Nubank para transmitir a mensagem de um banco amigo do cliente foi declarar guerra contra as “letrinhas miúdas” usadas pelos bancões para esconder as taxas abusivas dos contratos. A startup investiu forte no slogan da transparência desde o início, e o público não hesitou em comprar essa proposta.

De fato, o surgimento de um banco sem unidades físicas, atendimento humanizado e burocracia reduzida causou um rompimento no setor financeiro nacional e colocou o Nubank em pé de igualdade com as grandes instituições financeiras que dominavam o nosso mercado.

O atendimento ao cliente

“Queremos que nossos clientes nos amem fanaticamente”.

A frase acima, estrela-guia do Nubank, resume bem a importância que a empresa dispensa ao atendimento ao cliente. Com efeito, a startup tem toda uma estratégia desenhada para encantar quem quer que precise de ajuda ou suporte.

A área de Customer Excellence, responsável pelo atendimento ao cliente na fintech, tem como base quatro pilares que guiam os colaboradores no contato com as pessoas no dia a dia: Antecipar, Resolver, Se importar e Empoderar.

Trata-se de princípios selecionados segundo pesquisas que o Nubank conduziu com pessoas de idades, regiões e faixas de renda diferentes para descobrir o que elas mais valorizam no atendimento de um banco.

O resultado de todo esse empenho se reflete nos números. O NPS (Net Promoter Score) é uma metodologia utilizada em todo o mundo para calcular o nível de satisfação dos consumidores em relação aos produtos e serviços de uma empresa. A pesquisa é aplicada no Nubank desde 2015 e sua pontuação sempre ficou acima dos 85, considerada muito alta. A média do mercado é de 47.

A aquisição da Olivia

Outra jogada do Nubank para aprimorar a experiência do usuário foi a personalização dos serviços. Para isso, a fintech também recorreu à agenda de aquisições, desta vez a da Olivia.

Sexta e mais recente aquisição do Nubank, a Olivia é uma startup de inteligência artificial (IA) que ajuda as pessoas a gastarem melhor de acordo com os seus hábitos financeiros. A Olivia também usa a IA para aprimorar a experiência dos clientes com recomendações financeiras personalizadas.

O Nubank pretende integrar as capacidades estratégicas em ciências de dados da Olivia a fim de criar novas soluções com base nas necessidades específicas dos seus clientes. 

Educação financeira

Como nenhuma outra fintech brasileira, o Nubank também rompeu o setor financeiro no Brasil através de materiais educativos sobre finanças e economia.

Por meio de textos de blog, newsletters e vídeos didáticos, a fintech aumentou o interesse das pessoas em geral em finanças e ajudou milhões de brasileiros a retomar o controle sobre suas economias.

Em 2021, o Nubank encomendou um relatório independente da consultoria de sustentabilidade BSD Consulting/ELEVATE para medir os impactos da sua atuação na inclusão e educação financeira de pessoas físicas.

Alguns dos destaque desse levantamento, divulgados no próprio site do Nubank, são:

  • 36% avaliam seu conhecimento financeiro como “alto” ou “muito alto” desde que se tornaram clientes Nubank, contra 15% no passado
  • 95% dos clientes Nubank têm metas financeiras hoje, contra 62% no passado
  • 67% afirmam que conseguiram economizar dinheiro com a ajuda dos produtos e serviços do Nubank — o equivalente a mais de 23 milhões de brasileiros

As rodadas de investimento

Até realizar um IPO no final de 2021, o Nubank arrecadou pouco mais de US$ 2 bilhões em investimentos de capital de risco através de onze rodadas de negociação.

O primeiro aporte da startup ocorreu em meados de 2013, um seed no valor de US$ 2 milhões recebido do Kazsek Ventures e da Sequoia Capital, fundo que já investiu em empresas como Google e Apple e do qual David Vélez já havia sido sócio.

Daí em diante, o Nubank atraiu cheques de algumas das mais importantes firmas de venture capital do mundo. São algumas delas (e suas principais investidas): 

  • Tiger Global Management (Facebook, LinkedIn)
  • Founders Fund (SpaceX, Airbnb)
  • DST Global (Twitter, Xiaomi)
  • Dragoneer Investment Group (Spotify, Uber, Alibaba, Netflix)
  • Tencent (WeChat)

Unicórnio

Em março de 2018, o Nubank se tornou o terceiro unicórnio brasileiro ao anunciar um aporte de US$ 150 milhões liderado pelo DST Global e com participação de outros seis fundos de investimento.

Os recursos do aporte foram utilizados para emitir novos cartões de crédito. Em uma entrevista concedida para O Estado de S. Paulo na ocasião, David Vélez afirmou que mais de 13 milhões de brasileiros já haviam pedido um cartão do Nubank, mas que a startup só havia fornecido cartões para pouco mais de 20% deles.

O aporte de US$ 1,15 bilhão

Em junho de 2021, o Nubank anunciou um aporte de US$ 500 milhões do Berkshire Hathaway, empresa de Warren Buffett. Como se não bastasse, a bolada foi acompanhada de um segundo investimento, este de US$ 250 milhões, do fundo americano Sands Capital em parceria com os brasileiros Absoluto Partners e Verde Asset Management. 

O Nubank informou que os dois investimentos eram extensões da sua captação de série G iniciada em janeiro daquele ano. Somadas, as aplicações alcançaram a quantia de US$ 1,15 bilhão, a maior já levantada por uma empresa de tecnologia privada na América Latina.

As cifras elevaram o valor de mercado do Nubank para US$ 30 bilhões, tornando o banco digital a sétima startup mais valiosa do mundo, de acordo com a consultoria CB Insights.

O IPO na NYSE

Em dezembro de 2021, o Nubank realizou uma oferta pública inicial dupla na bolsa de valores de Nova York e na de São Paulo. Junto com as ações na NYSE, a fintech também ofertou BDRs (Brazilian Depositary Receipts) na B3 com o valor de um sexto da ação americana.

Um dia antes do IPO, quando precificou suas ações em US$ 9 por papel, o Nubank era avaliado em US$ 41,5 bilhões, valor que já lhe rendia o posto de quarta maior empresa brasileira de capital aberto.

No entanto, com alta de 25% logo na estreia, a startup chegou ao mercado valendo quase US$ 52 bilhões e tomou o lugar da Ambev como terceira empresa nacional mais valiosa em uma bolsa de valores, atrás apenas da Vale e da Petrobras.

Na época, a fintech também se tornou o banco mais valioso de toda a América Latina, à frente do Itaú Unibanco, do Bradesco e do Santander.

A queda nas ações

No entanto, seis meses depois de estrear na bolsa de Nova York, as ações do Nubank haviam despencado 65% e o seu valor de mercado caído para US$ 17 bilhões. 

Conforme especialistas, uma série de fatores explica essa queda. Um deles é o cenário de declínio da economia brasileira, com juros altos, inflação e diminuição da renda da população. Como o Nubank não cobra taxas, cresceram as dúvidas sobre se a fintech conseguiria monetizar a sua base de clientes durante uma crise econômica.

Outro ponto tem a ver com a expectativa exagerada dos investidores com relação ao Nubank na época do IPO. Passada a euforia inicial, é natural que o mercado reajuste o valuation da startup com base em seus resultados concretos.

Também pesa contra a fintech o agressivo pacote de remuneração da sua diretoria, na casa dos R$ 800 milhões, bem maior do que a média concedida aos executivos dos grandes bancos brasileiros.

Por fim, o Nubank ainda aplicou 1% do patrimônio em bitcoin. Para os acionistas, a moeda digital é volátil demais e a fintech precisa desse capital para crescer.

O futuro do Nubank

Pois bem: apesar da enorme queda nas ações, no primeiro trimestre de 2022 o Nubank registrou lucro líquido ajustado de US$ 10,1 milhões, o mais forte de toda a sua história.

Segundo David Vélez, a carteira de crédito do Nubank cresce acima da média do mercado, com inadimplência sob controle, e a fintech é a mais bem capitalizada do mundo.

Neste ano, o Nubank ainda alcançou 60 milhões de clientes no Brasil, México e Colômbia, países onde também mantém operações. 

Daqui para frente, a tendência é que a empresa aposte em inteligência de dados para ampliar o portfólio de produtos e serviços. A aquisição da Olivia, concluída neste ano, faz parte desse planejamento.

De acordo com Lucas Moraes, fundador da Olivia: “Nos últimos dez anos, a revolução do setor financeiro foi melhorar a experiência do cliente. Gerar valor com inteligência de dados será a dos próximos dez”.

Para o executivo, o Nubank é líder consolidado da primeira revolução no Brasil, e a Olivia, líder emergente da segunda.

Entre as soluções mais recentes oferecidas pelo Nubank, estão investimentos, seguro de celular e o NuTap, a função “maquininha” do aplicativo.