Open Banking: saiba o que é e como funciona
Artigo atualizado em 18 de março de 2022
Open banking já é uma tendência mundial
O setor bancário, assim como todos os outros setores, já reconheceu que para manter e conquistar clientes e continuar em evidência no mercado precisa trazer soluções inovadoras e disruptivas. Uma das inovações mais recentes desse setor é o Open Banking, um novo modelo de relacionamento entre o cliente e as agências bancárias que já é uma tendência ao redor do mundo.
Ao longo desse artigo você irá entender como essa novidade irá impactar a nossa forma de interagir com as instituições bancárias.
- O que é o Open Banking
- Como esse serviço funciona
- Como compartilhar dados com outra instituição
- Como iniciar um pagamento em outra instituição
- Soluções que poderão ser melhoradas ou implementadas
- Quais são os benefícios
- As 4 fases do Open Banking
- 1ª Fase
- 2ª fase
- 3ª Fase
- 4ª Fase
- Segurança
- Open Banking no mundo
O que é o Open Banking
O Open Banking, ou sistema financeiro aberto, inspirado pelo conceito de Inovação Aberta – modelo de negócio colaborativo, no qual diferentes empresas compartilham conhecimentos internos e externos visando solucionar desafios e acelerar o processo de inovação -, tem como principal objetivo oferecer ao cliente a possibilidade de compartilhar seus dados bancários com diferentes instituições autorizadas pelo Banco Central através de plataformas, como aplicativos, internet banking, etc.
Até então, os bancos não possuíam os dados necessários para entender o relacionamento do cliente com outras instituições, o que dificultava na hora de oferecer serviços e atrair novos clientes, resultando em um setor de baixa competitividade que limitava o cliente a permanecer em apenas uma única agência, pela dificuldade em adquirir serviços em diferentes instituições por falta desses dados. Mas com a chegada do Open Banking essa realidade irá mudar.
O foco desse novo modelo é entregar o poder ao cliente, que poderá escolher quando, como e com quem compartilhar os seus dados – e quais dados compartilhar, sendo eles:
– Dados cadastrais: nome completo, endereço, CPF, telefone, data de nascimento;
– Dados Transacionais de Contas: saldos, extratos e limites;
– Dados Transacionais de Cartões: faturas, limites e transações;Dados Transacionais de operações de crédito: contratos, data da contratação, valores, vencimento, saldo devedor, prazos, prestações, juros, tarifas e encargos.
Vale frisar que todo e qualquer dado só será compartilhado mediante a solicitação e autorização do próprio cliente, podendo encerrar essa troca de informação entre as instituições caso não seja mais de sua vontade.
Somente aquelas instituições que forem autorizadas pelo Banco Central poderão fazer parte do Open Banking. Algumas agências bancárias serão obrigadas a compartilhar todos os dados, são elas os bancos do segmento 1 (S1) – empresas bancárias cujo porte (exposição total) for igual ou superior a 10% do PIB, como por exemplo: Banco Bradesco, Caixa Econômica Federal, Banco Santander, entre outros grandes nomes do setor – e os do segmento 2 (S2) – instituições que possuem porte entre 1% e 10%, como: BMG, Bexs, Easynvest, entre outros.
Aquelas agências que oferecem serviços de contas corrente, conta poupança ou de pagamento pré-pago de livre movimentação pelos clientes e as que são iniciadoras de transação de pagamento serão obrigadas a compartilharem informações sobre a iniciação de pagamentos.
Assim como, as instituições reguladas que encaminham e recebem propostas de operação de créditos via plataforma eletrônica, terão que aceitar o compartilhamento desses dados quando solicitados.
Qualquer outra instituição bancária autorizada pelo BC, como por exemplos as fintechs, poderão solicitar a participação ao Open Banking, com as seguinte condições:
– devem publicar APIs na condição de transmissoras de dados;
– devem registrar suas participações no diretório de participantes.
Como funciona o Open Banking
Com a chegada do Open Banking, o cliente será capaz de “construir” o seu próprio banco, tendo a possibilidade de utilizar diferentes serviços de diferentes instituições bancárias, dessa forma, o cliente pode escolher aqueles que mais se encaixam em suas necessidades. Por exemplo, abrir uma conta corrente em um banco tradicional, porém contratar um cartão de crédito de uma fintech, pois não há cobrança de anuidade, ou também, solicitar um empréstimo de outra instituição, a qual oferece menores juros e tarifas. Pode-se ver aqui que as opções são vastas.
E, para se beneficiar dessas possibilidades, o cliente deverá solicitar o compartilhamento de seus dados com as instituições bancárias escolhidas, para então conseguir contratar o serviço escolhido. Também será possível realizar pagamentos entre instituições que não possuem vínculo.
Como compartilhar dados com outra instituição
Para isso, o cliente deverá iniciar o processo na plataforma do banco com o qual deseja compartilhar seus dados, onde irá escolher de qual instituição deseja trazer as informações, quais dados deseja compartilhar, assim como o prazo de consentimento – que será de até 12 meses, podendo ser renovado no final, ou não, de acordo com a vontade do próprio cliente.
Após isso, o usuário será redirecionado ao banco de origem dos dados, fará o acesso normalmente, provando assim sua identidade, e então autorizar o compartilhamento das informações solicitadas. Feito isso, o solicitante será redirecionado ao banco que irá receber os dados, o qual irá confirmar que recebeu as informações solicitadas.
Como iniciar um pagamento em outra instituição
Uma outra opção que o cliente terá é a possibilidade de realizar um pagamento sem que exista um vínculo entre o responsável pela solicitação, como por exemplo, um e-commerce onde você está adquirindo um produto, e a agência que você usará para efetuar a compra.
O processo para isso segue a mesma ideia do compartilhamento dos dados. Deve-se iniciar pela instituição escolhida que irá iniciar o pagamento, e então o cliente é direcionado para a agência bancária , realizar a autenticação, confirmar a autorização de pagamento, voltar à inicializadora de pagamentos que irá confirmar a realização do pagamento.
Soluções que poderão ser melhoradas ou implementadas
Junto com a vinda do Open Banking, irão surgir várias possibilidades de melhorias de soluções/serviços já existentes e até mesmo novas ideias que prometem inovar o mercado. Isso irá favorecer diretamente aos clientes, que além ter acesso à serviços mais justos, irão se beneficiar de soluções mais inovadoras para seu dia-a-dia.
Um dos serviços que será totalmente influenciado pela adesão a esse modelo é o de oferta de crédito. Com o aumento da concorrência e a facilidade de contratar esse serviço de qualquer outra instituição que esteja incluída no Open Banking, a tendência é que as instituições bancárias passem a melhorar suas ofertas de crédito, a fim de conquistar mais clientes.
Da mesma forma que a oferta de crédito será impactada, o serviço de portabilidade de empréstimo e financiamento também será. A tendência é que esse processo seja muito menos burocrático, podendo ser realizado apenas por meios digitais, sem que haja a necessidade de entrar em contato com a instituição.
Com a possibilidade de iniciar pagamentos em instituições bancárias, mesmo sem um vínculo, o setor de e-commerce conseguirá oferecer um leque maior de opções de pagamento aos seus consumidores, o que incentivará aqueles que não efetuavam as compras – por conta de não se encaixar nas opções de pagamento disponíveis – a aderir ao comércio eletrônico.
Serviços de educação e orientação financeira poderão surgir cada vez mais, assim como novos aplicativos que possam utilizar os dados compartilhados para orientar os clientes sobre as instituições com melhores taxas, juros, benefícios, realizar simulações de financiamento ou crédito, entre outras possibilidades.
Quais são os benefícios do Open Banking
O principal foco do Open Banking é o cliente, que com essa novidade conquista maior autonomia e adquire o controle de suas próprias informações, podendo escolher com quem, quando e como compartilhar os seus dados. Antes, sem essa possibilidade, os clientes ficavam dependentes dos serviços de apenas uma instituição bancária ou, caso escolhessem uma outra, era necessário criar um relacionamento do zero para ter mais opções de serviços e vantagens.
Porém agora, com o Open Banking, é possível criar um ecossistema bancário com maior concorrência, mais democrática e com uma barreira de entrada reduzida. A ideia é proporcionar a melhor experiência ao cliente, que terá acesso a serviços melhores, mais justos e mais diversificados. Além de influenciar na criação de novos modelos de negócios e incentivar a inovação.
As fases do Open Banking
Por se tratar de um novo modelo, a sua implementação foi dividida em 4 partes, são elas:
1ª Fase
Em um primeiro momento, foi liberado apenas o compartilhamento de dados públicos das instituições financeiras, como por exemplo: informações de seus canais de atendimento e de seus serviços, assim como as taxas e tarifas cobradas. Essa fase foi implementada em fevereiro de 2021, e serviu para que os clientes pudessem comparar os diferentes serviços ofertados, tornando mais fácil a escolha e preferência de acordo com a necessidade de cada um.
2ª Fase
A segunda fase foi implementada em agosto de 2021, e deu início ao processo de compartilhamento de dados pelo cliente, que já poderá seguir com o procedimento previamente explicado para solicitar que suas informações sejam compartilhadas entre bancos, fintechs e instituições financeiras. Nessa fase, o consumidor já consegue se beneficiar dessa possibilidade para ter acesso a novos produtos, serviços mais personalizados e acessíveis.
Leia também: Banco Original fala sobre a segunda fase do open banking
3ª Fase
Essa fase, que iniciou em outubro de 2021, possibilitou o acesso à serviços de pagamentos e encaminhamento de propostas de crédito, sem a necessidade de envolver instituições que o cliente já possui um relacionamento. Foi nesse momento que opções como, realizar um pagamento via WhatsApp se tornou uma realidade para todos os usuários.
4ª Fase
A última fase, e assim completando o processo de implementação desse novo modelo, aconteceu em dezembro de 2021 e teve foco na ampliação de dados, produtos e serviços. Aqui, as opções de dados que podem ser compartilhados foram aumentadas, assim como a possível escolha de serviços, como por exemplo: contratação de operações de câmbio, investimentos, seguros e, também, previdência privada.
Segurança nas transações
Todo o processo de implementação, princípios e regulamentação do Open Banking está sob a responsabilidade do Banco Central, que criou uma Estrutura de Governança, a qual conta com a presença das entidades mais representativas das instituições participantes. Essa estrutura será encarregada de decidir sobre as questões de implementação do Open Banking e propor padrões técnicos. Todas as discussões serão acompanhadas pelo próprio BC, a fim de garantir que os princípios, diretrizes e objetivos estão sendo cumpridos.
Em caso de não cumprimento do que foi estabelecido, cabe ao Banco Central executar uma punição, podendo aplicar multas, revogar a participação da instituição ao Open Banking e, em casos mais extremos, declarar a falência ou liquidação da empresa em questão. Garantindo dessa forma, que as regulamentações estejam sendo cumpridas.
A fim de garantir ainda mais a segurança dos dados e privacidade, todo compartilhamento de informações permitido pelo Open Banking será protegido pela Lei do Sigilo Bancário (LC 105), a qual não permitirá que qualquer dado seja compartilhado com instituições não participantes e/ou autorizadas pela regulamentação do Open Banking. Além disso, a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados – nº13.709/2018) garante ao cliente o controle de seus próprios dados, garantindo a ele o direito de cancelar o compartilhamento, caso entenda que seus dados estão sendo usados inapropriadamente.
O compartilhamento dos dados ocorre via APIs (Application Programming Interface, em inglês), que são um conjunto de padrões e protocolos que possibilitam a criação de plataformas, tornando o processo mais simples e prático. Através de uma interface única, é possível realizar o compartilhamento de informações entre instituições, garantindo o sigilo e a segurança. As APIs já são amplamente utilizadas por grandes plataformas do mercado, como por exemplo a interação entre o Spotify e o Instagram, que é feita através de um API.
É importante frisar novamente que toda e qualquer informação ou dado apenas será compartilhado caso o próprio cliente solicite e autorize esse compartilhamento, caso contrário, essa troca de informações entre as instituição não ocorrerá.
Open Banking no mundo
A adesão ao Open Banking não é uma particularidade do Brasil, na verdade esse processo já está acontecendo ao redor do mundo e já é uma tendência no setor bancário de todo o planeta. A necessidade de estabelecer um ecossistema financeiro mais padronizado, inovativo e que ofereça mais opções de produtos e serviços ao cliente foi o que incentivou o surgimento dessa tendência.
Como o processo de adesão e implementação do Open Banking ainda está ocorrendo de forma gradativa em diferentes países ao mesmo tempo, é praticamente impossível mapear todo e qualquer movimento relacionado a ele, porém alguns países já são referências e se tornaram destaques no assunto.
Reino Unido
O país é pioneiro em adotar o modelo de Open Banking, que foi implementado em 2018. Mais de 3 milhões de clientes já aderiram ao uso desse modelo, além disso o modelo já incentivou mais de 300 novos players a entrarem nesse mercado.
Singapura
Também em 2018, o país foi o primeiro do continente asiático a aderir ao modelo. O país, que já era considerado uma referência em termos de tecnologia e transformação digital, lançou uma plataforma APIX para incentivar os bancos e demais instituições financeiras a aderirem ao Open Banking.
Austrália
O país implementou o Open Banking em 2019, visando exclusivamente o compartilhamento de todos os dados financeiros do cliente. O planejamento foi dividido em 3 fases, sendo sua implementação total prevista para 2022.
México
Este foi o primeiro país a iniciar o processo de implementação do modelo, que já está em fase de implementação e conta com mais de 2.300 instituições participantes.
Colômbia
Mesmo ainda não tendo realizado a implementação do Open Banking, o país já começou a definir sua regulamentação que ficará pronta neste ano, 2022.
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