Transformação Digital: qual é o impacto da pandemia nas empresas?
Artigo atualizado em 1 de abril de 2021
O processo de transformação digital, que já era uma tendência entre as empresas, foi ainda mais acelerado devido à pandemia.
A pesquisa CEO Outlook 2020, realizada pela KPMG, por exemplo, ouviu CEOs brasileiros e descobriu que 67% dos entrevistados acreditam que a digitalização das operações teve avanço nesse período, colocando negócios meses e até anos à frente do que esperavam.
Para acompanhar essa transformação digital, foi preciso também contratar novos colaboradores, necessidade apontada por 87% dos participantes.
Outros impactos também são bem conhecidos, como o aumento no número de pessoas trabalhando de casa — de acordo com um estudo da Fundação Instituto de Administração (FIA), o home office foi adotado por 46% das empresas durante a pandemia — e o largo uso de transmissões ao vivo e reuniões por vídeo e áudio.
Todas essas mudanças tiveram que ser realizadas às pressas, de maneira pouco planejada. Quais foram os efeitos da pandemia no processo de transformação digital e inovação nas empresas? Elas conseguiram lidar com isso de forma a obter bons resultados?
Para descobrir, entrevistamos alguns dos nossos clientes. Continue a leitura para descobrir de que forma empresas como Mondelēz e Johnson & Johnson estão passando por esse período.
Transformação digital durante a pandemia: 3 projetos de inovação digital implementados em grandes empresas
Programa Cuidado Digital
A pandemia exigiu mudanças principalmente do setor de saúde, que precisou ter mais eficiência operacional para atender os pacientes, mesmo com o distanciamento social.
Um tema que ganhou relevância, por exemplo, foi a telemedicina, que foi regulamentada em caráter excepcional em 2020, enquanto durar a situação de emergência. A alternativa consiste em exercer a medicina à distância, com o médico e o paciente se comunicando por meio de aplicativos como WhatsApp e Skype.
A Johnson & Johnson foi uma das empresas que resolveram investigar o assunto, para entender por que, apesar da praticidade, a telemedicina ainda tinha baixa adesão entre os profissionais de saúde. A gerente de soluções estratégicas da empresa, Bruna Cutrupi, conta que um dos fatores encontrados foi a falta de conhecimento do médico em relação à plataforma.
Foi com base nisso que surgiu o programa Cuidado Digital, desenvolvido em parceria com o Distrito. O programa tem o objetivo de compartilhar conhecimento sobre a digitalização do atendimento médico. Para isso, foi lançado um manual de boas práticas em relação à telemedicina, explicando passo a passo como o médico pode aderir a uma plataforma desse tipo, qual a importância, como funciona, dentre outras informações.
Loja Lacta em Casa
Quando a pandemia começou, no início de 2020, faltava pouco para a Páscoa. Na Mondelēz International, dona de marcas como a Lacta, o desafio era garantir que os clientes tivessem como presentear os familiares e amigos com chocolates, mesmo com o distanciamento social.
Para encontrar uma solução rápida, foi preciso que toda a empresa se juntasse com uma meta única. Contando com a ajuda da tecnologia, foram desenvolvidas diversas iniciativas. A loja virtual de chocolates Lacta em Casa, por exemplo, foi criada em poucos dias, permitindo comprar com frete grátis de qualquer lugar do Brasil. Também foi criada uma parceria com o Uber Eats, que levava os chocolates até o cliente.
Para o gerente de projetos e inovação da empresa, André Bacellar, a pandemia transformou a maneira como vimos as coisas, colocando o cliente no centro. “Os supermercados que conhecemos, por exemplo, não existem mais. Como a gente se transforma sabendo que o consumidor mudou, que ele está em casa agora?”, questiona. “A pandemia fez a gente pensar: não tem jogo fácil mais. Quem não se transformar infelizmente vai ficar.”
Programa IdeiaGov
Outra instituição que viu de perto a necessidade de fazer saúde de outra forma por conta da pandemia foi o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. “Por razões óbvias, a pandemia nos obrigou a rever todos os modelos de cuidado. Tanto no setor público e privado, a saúde se transformou”, conta Ivisen Lourenço, gerente de inovação e ecossistema do HC.
Para ele, hoje é possível vislumbrar uma mudança prática, com dezenas de soluções de telemedicina e telemonitoramento, inteligência artificial aplicada ao diagnóstico, automação de processos operacionais, point of care, entre outros, que tornaram a saúde mais digital, ágil e personalizada.
Uma das iniciativas que surgiram dentro do HC foi o IdeiaGov, programa realizado em parceria com a Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo. O objetivo é facilitar a implantação de projetos de inovação no setor público. Nesse programa, o HC apoiou três desafios: Inteligência Artificial aplicada ao diagnóstico de covid-19, monitoramento integrado e remoto de pacientes internado na UTI e jornada digital do paciente.
Além disso, foi criado o projeto Radivid-19, uma plataforma de Inteligência Artificial que apoiou o diagnóstico de covid-19 em mais de 50 hospitais em todo o Brasil.
Além das iniciativas dentro do período de pandemia, Ivisen Lourenço diz que é importante citar o programa Saúde Digital, realizado pelo HC em parceria com a McKinsey, que visa estudar e definir um modelo digital de cuidado pós-pandemia.
Ele ressalta ainda que as complexidades do setor de saúde são maiores que em outros, o que reforça a importância da ciência, dos métodos de validação e acompanhamento: “garantir a segurança, individualidade e a eficiência dos modelos de cuidado deve ser uma prioridade, independentemente do grau de digitalização”.
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Transformação Digital: outras mudanças trazidas pela pandemia
A Johnson & Johnson também teve que adaptar processos internos, desde contratos online, que precisam ser assinados digitalmente, por exemplo. Além disso, os representantes de vendas não podiam mais fazer contato com os clientes de forma presencial. Para isso, foi criado um programa que permite que os representantes tirem dúvidas dos médicos remotamente.
Comparando o pré o pós-pandemia, Bruna Cutrupi acredita que, no futuro, haverá uma adesão maior ao digital. Ela cita como exemplos o home office, que mostrou que reuniões online, por exemplo, funcionam, sem que se esteja todo dia no escritório: “acho que no pós-pandemia não será preciso fazer tanta viagem, tanta visita presencial, você pode fazer isso de uma forma mais eficiente, do ponto de vista de tempo e dinheiro, vai ser um legado que vamos levar e para o qual a tecnologia contribui muito”.
Outro legado da pandemia, para ela, é o setor de saúde ter mais foco em como trabalhar com mais eficiência para ter um sistema que esteja preparado para passar por uma nova pandemia, por exemplo.
Ivsen Lourenço compartilha da mesma opinião de que é preciso mais eficiência. Para ele, a pandemia demonstrou rapidamente que existiam oportunidades latentes no mercado.
“Apesar dos esforços de inovação, as grandes corporações, na zona de conforto, navegavam por onde era mais seguro. O que a pandemia fez foi escancarar a necessidade de um modelo ágil de transformação, adaptação e inovação. Acelerar o caminho para a transformação digital foi visto, não só como uma estratégia de negócio, mas também como uma necessidade para se manter relevante e ativo no mercado.”, diz.
Para André Bacellar, no pós-pandemia as empresas sempre terão que pensar no futuro, e não só no agora. Ele cita que a Mondelēz já tinha uma política de home office, tímida, mas pronta.
“Eu como gerente de projetos da América Latina estava sempre viajando, então estava sempre conectado, por isso não senti tanto a mudança. Os sistemas estavam preparados”, conta. “A pandemia deixou muito claro para algumas organizações que não passavam por transformação digital que isso é essencial. O maior efeito que isso nos trouxe foi falar: ‘vocês têm que mudar'”, conclui.