Coronavírus: veja como a Zigpay está lidando com a crise
Artigo atualizado em 8 de maio de 2020
Este conteúdo faz parte do Distrito São Paulo Report e apresenta entrevista exclusiva com David Pires, CTO da Zigpay.
O ZigPay é uma plataforma de pagamentos digitais para eventos e casas noturnas. O único no mercado com tecnologia “pay-per-use” de pagamentos. Rápido, seguro, sem filas e cashless. A startup teve que lidar com o inesperado: o coronavírus. O Distrito Dataminer conversou com David Pires, CTO da Zigpay, para saber como a empresa está se adaptando a este cenário e como é também empreender em São Paulo.
Dica do editor: para você que quer saber como a Zigpay está lidando com os impactos da crise do covid-19, recomendamos que vá direto para a pergunta número 8.
Entrevista completa com David Pires, CTO da Zigpay
1- Como aconteceu a fundação da Zigpay?
Eu comecei fundando a Cubos que é uma Venture Builder baiana com três áreas de atuação:
- A primeira é de educação com a Cubos Academy, que produz cursos voltados à tecnologia e programação;
- A segunda é para fornecer inovação e tecnologia para terceiros através da contratação de desenvolvimento de software, e serviços como devops, pentest, consultoria em TI, entre outros. entre os trabalhaos realizados fomos responsáveis pelo aplicativo do Bahia e o portal interno do Fit Dance.
- O terceiro braço é de company building, em que nos associamos a empreendedores e construímos a área de tecnologia das startups. A Zigpay foi um projeto que surgiu dessa terceira vertente da Cubos.
No começo eu fazia um pouco de tudo na Zig, mas hoje cuido de toda a área de produto e tecnologia. É uma plataforma de automação de consumo para o mercado de entretenimento, como por exemplo eventos, festivais, bares e baladas. Nós começamos há três anos operando na Bahia, mas o maior mercado de entretenimento do Brasil é São Paulo e decidimos vir para cá pensando em expandir a operação.
2- Quais são as maiores dores que a Zigpay resolve?
Normalmente, produzir um evento é um “voo cego”. O dono compra um estoque, coloca para vender e no final conta as fichas para saber se ganhou ou perdeu dinheiro, o controle é mínimo. Então primeiro trazemos valor para o dono do estabelecimento, com visualização de dados em tempo real e controle de estoque e vendas.
Damos acesso a diversos dados do cliente, assim o estabelecimento pode criar promoções específicas para cada tipo de consumidor. Aliado a isso, nos propomos a dar eficiência operacional para quem trabalha no evento, com uma UX simplificada e operação rápida.
Nós trabalhamos para que a operação não pare, porque o sistema precisa ser a prova de falhas e simples. Por fim, nós trazemos comodidade e inovação para o usuário final, com um aplicativo em que você pode pagar sem passar pelo caixa e sem pegar fila.
3- Na sua experiência, como é empreender em São Paulo?
São Paulo é ainda o melhor lugar do Brasil para empreender, tem muito acesso a recurso, conhecimento, network, incubadoras e o mercado já é mais adepto a tecnologias. As barreiras culturais de tecnologia e inovação são menores, então a gente consegue uma expansão mais rápida aqui.
Tem uma questão de acesso a pessoas qualificadas, conhecimento técnico e financeiro, mas ao mesmo tempo é um mercado muito inflado. Para eu contratar um desenvolvedor aqui em São Paulo é no mínimo 2 vezes mais caro que na Bahia. E a competição por esses bons funcionários também é muito alta, principalmente nesses dois últimos anos que observamos um aumento na captação das startups e os salários de alguns profissionais começaram a ficar muito altos. Tem um trade off entre todos esses recursos e a competição forte que temos por aqui.
4- O que você acha que São Paulo representa no ecossistema mundial de inovação?
O Brasil vem crescendo muito em inovação, prova disso é o número de unicórnios que surgiram aqui no ano passado, e São Paulo é o centro disso. Quando eu estava na Califórnia, São Paulo era reconhecido com um grande polo de inovação, a visibilidade é grande.
5- Desde o momento que você começou a empreender até agora, como foi o processo de amadurecimento do ecossistema e das startups?
Eu comecei há 7 anos na Bahia, o ecossistema lá é muito aquém do de São Paulo. Nos primeiros anos, ninguém entendia quando falávamos de desenvolvimento ágil. Isso já mudou muito e eu vir para São Paulo me ajudou a entender a velocidade com que as coisas mudam por aqui.
O acesso a investidores aumentou muito também, o que ajudou a amadurecer as startups mais rapidamente. Outro ponto que ajudou, foi a mudança de postura das grandes empresas perante às startups, hoje elas já enxergam o valor disso, querem se aproximar das inovações e apoiá-las, os M&As são mais de longo prazo.
6- Como foi a experiência de passar pelo Boost Lab e os maiores ensinamentos?
Foi sensacional! Eles nos dão acesso a pessoas muito capacitadas e competentes do mercado e buscam entender os problemas que a startups têm para conectá-las a quem pode ajudar nas questões específicas. Tivemos mentorias muito especializadas lá dentro e acesso a network de pessoas muito boas. Ainda tiramos bons frutos disso, apesar de ter feito 2 anos que passamos pelo Boost Lab. O programa nos ajudou a subir no nível das empresas.
Como você enxerga a falta de profissionais voltados para as áreas programação e dados no país?
Eu acho que as edtechs estão fazendo um papel importante para melhorar isso, porque programação é um conhecimento para nós ainda novo e que não está totalmente consolidado que as universidades não conseguem acompanhar. Mas estão surgindo startups e empresas de educação que estão dando a possibilidade para que as pessoas entrem nesse meio.
Por mais que seja um tema que deixa as pessoas um pouco inseguras, não é nada tão complicado. Esse desconforto vem porque não tivemos contato com a programação desde cedo, o que acredito que vai mudar muito nos próximos 10 anos. A tendência é que as pessoas tenham acesso mais novas a esse meio, já estamos vendo como isso é importante. Em alguns países as crianças aprendem a programar na escola.
Por agora, o mercado segue muito inflacionado na busca por esses profissionais. É comum empresas contratarem profissionais que não tenham uma base tão boa, nem conhecimento consolidado, pela falta de oferta. Essas pessoas acabam desenvolvendo tarefas de alto impacto, mesmo sem experiência. É preciso que isso mude rápido.
7- Por que você decidiu fazer o curso do Softbank, Data Science for All?
Apesar de termos evoluído muito no ecossistema de empreendedorismo, são poucas as empresas do Brasil que realmente usam inteligência artificial e inteligência de dados. Isso é o principal valor que a China está vendo nas startups dela, aqui no Brasil vemos muita gente falando sobre isso, mas poucas pessoas aplicam na prática.
Para darmos o próximo passo como ecossistema é necessário mudarmos nossa mentalidade sobre esse universo de dados.
8- Como está sendo empreender com eventos neste momento, quais são as perspectivas para os próximos meses?
Não é o melhor momento para se falar de evento. Está sendo um momento muito difícil, estamos passando por um corte de funcionários grande. As perspectivas para os bares voltarem a operar estão para os próximos 2 meses e eventos provavelmente no final do ano, o que fez nossa receita cair para quase zero. Mas também é um tempo que vamos utilizar para reestruturar e desenvolver novos produtos para nossos clientes, para quando tudo voltar – e vai voltar – estejamos prontos para absorver as demandas. Acredito que a procura por sistemas como os da Zigpay vai aumentar, porque os players vão buscar por tecnologia para poder recuperar o tempo perdido. Nós estamos mantendo uma equipe de devs produzindo novos produtos, para que quando volte o mercado nós possamos atender mais e melhor os clientes.
Ao mesmo tempo estamos vendo surgir um mercado de entretenimento online, que é muito novo, mas estamos vendo como nos inserir.
9- Quais são os conselhos que você daria para quem está empreendendo neste momento?
Primeiro tomar as ações de cortes de custo muito cedo e não esperar acabar o caixa, esse momento pode demorar vários meses para passar e o empreendedor precisa estar preparado.
Uma coisa bacana, que estamos fazendo aqui, foi definirmos algumas estratégias diferentes para cada possível cenário neste momento. Nós vamos ativando essas estratégias à medida que um gatilho é acionado. Ou seja, se chegarmos a tal data e os restaurantes não tiveram voltado, nossa estratégia vai mudar para a B, se acontecer outra coisa, nós adotamos a estratégia C. Assim, estando atentos aos diferentes marcos, temos uma estratégia de longo prazo na empresa.
Por último e mais importante são as pessoas, é necessário estar próximo e ser sincero com seus funcionários, para reforçar o sentimento de equipe.